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Em cima da mesa, ocupando todo o espaço da madeira polida, o mapa do Imperador reluzia em linhas douradas, contornando o continente arthoriano. Do lado de baixo do mapa, o nome do Oceano Huryon pulsava com suas letras douradas. Zylia havia mencionado ele na fronteira de Tuorc.

Desviei o olhar, juntando uma corda e encaixando uma adaga no cinto.

Nos dividiríamos. Zylia disse que procuraria pela floresta, Aaden dentro de Tavernas e casas de apostas, e Ayaz, totalmente contra a vontade da tenente, iria pelos bairros atrás de alguma pista de Renoward. Por mais que o correto fosse Alyssa procurar por seu irmão, era mais seguro que ela ficasse em casa com os gêmeos.

Do lado de fora, as árvores balançavam com o vento e a chuva molhava o solo, tornando a terra barrosa. O clima ameno nos faria bater os dentes assim que pisássemos do lado de fora.

Dobrei o mapa, colocando-o no bolso. Observei a sala movimentada, com todos recolhendo equipamentos para prevenir-se em qualquer situação. Com o clima ameno, as luzes ficavam mais apagadas. Escurecidas pelo medo e pela esperança que nos restava.

Me levantei.

— Tem certeza que você quer ir? — Zylia perguntou. Com a bolsa pendurada no ombro, suas mechas prateadas reluziam, como se também me fizessem uma pergunta.

Eu assenti.

— Estou bem. Quanto mais pessoas, melhor.

A tenente balançou a cabeça e seguiu, subindo as escadas.

Sem mais delongas, saí pelas portas dos fundos.

* * *

Eu estava a ponto de vomitar quando a lama espirrou no meu traje. Me apoiei contra a árvore, sentindo minhas costas serem espetadas enquanto eu recuperava o fôlego.

Eu havia percorrido toda a cidade. Quando Zylia e Aaden seguiram para o sul, decidi ir para o norte. Para cada vez mais próximo do castelo. As chances de encontrar Renoward eram mínimas, mas se qualquer coisa nos dissesse onde ele poderia estar... bom, isso já seria uma vela no escuro.

Com a respiração entrecortada, eu observei a rua. Não havia uma pessoa sequer naquela cidade que não tivesse dinheiro o bastante para fazer um banquete todo fim de semana.

Molhei os lábios, controlando a respiração. Não sabia até onde iria a audácia de Renoward, mas será que ele seria tão escroto ao ponto de fugir? Ele não me parecia ter motivos para simplesmente fazer isso.

Com um pouco de esforço, continuei a caminhada. Alyssa nos contou sobre todos os esconderijos da corte e como entrar em todos eles. O problema, é que algo me dizia que Renoward não estaria em um lugar tão óbvio. Ridgar sabia jogar. E talvez seu filho mais novo também.

Parece que jogos é algo de família.

Nas ruas, apenas a iluminação acompanhava as poucas pessoas que iam e vinham pela calçada alta. As luminárias eram feitas de um metal nobre e as ruas eram limpas; tão limpas que chegava a ser bizarro.

Uma dor forte atingiu o meu ombro assim que cheguei em uma loja de esquina. Reprimi um grito e me arrastei para o canto, deixando lágrimas voluntárias escorrer.

— Ai, que droga.

Engoli em seco. Minha cabeça rodava e minha visão começou a ficar turva no instante em que outra pontada me atingiu.

Encostei a cabeça no muro. Contando até três, tentei manter a respiração em um tom ritmado, prestando atenção nos segundos em que o ar entrava ou saía. Repuxei a manga do traje e tentei observar, mas tudo o que vi foi sangue. Escorrendo sem parar.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora