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Durante um bom tempo, antes de pousarmos, não entendi porque a ideia de ter sonhado com Renoward sem máscara me fez acordar com o coração batendo mais forte. Mas isso despertou uma curiosidade ainda maior em mim, e muito mais verdadeira do que tinha antes.

Porém, devo confessar que não sabia se estava disposta a correr atrás da verdade porque só fui entender meu terror quando pousamos em Sulman. Renoward tinha um rosto estranhamente familiar durante o sonho. Talvez não fosse ele; imagino que fosse alguém do meu inconsciente que já vi em algum lugar. Não imaginava mesmo que isso poderia significar alguma coisa.

Eu fechei os olhos quando a brisa fresca invadiu o jato. Não era como Arthora. Nunca seria. Era refrescante, mas nenhum lugar chegaria ter a beleza e frescor que Arthora tinha. Bom, era o que os boatos diziam, antes de tudo se devastar e quase virar pó.

O reino de Arthora só se mantinha vivo porque ninguém nunca encontrou os Jardins. O verdadeiro Jardim, aquele que muitos ambicionariam para ter o controle e o poder. Era o que possivelmente algumas pessoas davam a vida para encontrar.

Nenhum de nós colocou os pés em Sulman primeiro. Ninguém se atreveu a demonstrar que queria realmente descer. Nem mesmo Ayaz, que nos últimos dias, parecia incomodado e distante. Não era o mesmo Ayaz sarcástico, que gostava de fazer joguinhos que eu vi em Tuorc.

Comprimi os lábios.

Ouvi uma risada baixa vinda de Ayaz e aquela expressão estranha sumiu, sendo tomada pelo sarcasmo que sempre existiu.

— O que estamos esperando? Um sinal do céu? Ou eles aparecerem aqui, carregando armas para nos matar?

Então, deu alguns passos, mas não pisou em Sulman de verdade. Permaneceu na porta aberta do jato. Estranho. Ele não era naturalmente sarcástico pelo visto, mas algo me dizia que ele fazia piadas escrotas por nos querer longe dele. O que ele tinha tanto a esconder?

— Vamos — sua voz estava rouca. Era como se o ambiente o amargurasse ainda mais. — Não é como se fossemos explodir.

— Pra onde vamos, exatamente? — Perguntou Ercan.

Ele segurava a mão da irmã, que retribuía o aperto com força. Eu havia feito duas tranças do cabelo loiro de Barrie; habilidade que Zylia penou para me ensinar, mas acabei pegando o jeito.

— Renoward disse que possui uma casa em um dos bairros de Sulman — disse Zylia. — Não deve ser muito longe do Jardim.

— Não é — Alyssa abriu um leve sorriso. — Conheço a casa. Fica a, pelo menos, quatro quarteirões do Jardim.

Todos nós a encaramos. Ficamos com medo de perguntar, imagino, mas Alyssa apenas deu de ombros.

— Longa história. Mas não é longe, chegamos lá em menos de quinze minutos andando.

— Certo. Tá bom. A gente vai agora, ou vamos ter que esperar algum bicho vir comer a gente para perceberem que não há tempo? — Ayaz reclamou, mas algo em sua voz indicava temor. Não parecia tão seguro de si como pareceu em Tuorc.

— Deixa de ser ridículo — retrucou Aaden.

Apenas o olhar de Renoward os fez parar.

Houve silêncio por incontáveis segundos.

O soldado fez com que todos descessem e fechou a porta do jato.

— Se querem chegar lá hoje, é bom começar a andar agora.

E assim, começou a andar em direção à cidade cercada por muralhas, puxando todos nós consigo.

* * *

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora