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Tique-taque.

O silêncio me angustiava enquanto meu coração, aterrorizado pela ideia de parar em algum momento, batia mais rápido, ao som dos segundos que se passavam, intermináveis.

Eu tentei expulsar o medo, para que isso não servisse de alimento para qualquer coisa que estivesse ali, mas não adiantava muita coisa. A cada segundo, cada respiração, me sentia cada vez mais observada. E, mesmo que fosse coisa da minha cabeça, era impossível não imaginar qualquer coisa horrenda saindo de qualquer lugar.

Apertei o passo, procurando em todos os cantos onde poderia estar a grande árvore. Nenhum Jardim, de nenhum reino, consegue viver sem a árvore principal. Então em algum lugar ela deveria estar.

A cada passo, algo se remexia dentro das janelas tenebrosas, e o som me arrepiava, me trazia pânico. Vanella, nas minhas costas, parecia queimar, mas não a retirei em nenhum momento.

Quando terminei de subir as escadas, um amplo pátio se abriu. Do outro lado, havia um abismo, e bem no seu centro, com as raízes secas para fora, estava uma grande árvore. Era alta, estrondosa, mas carregava a poeira dos mortos ou de coisas mal conhecidas. Seu casco, tão seco quanto ossos velhos, parecia desintegrar-se a cada minuto e não havia um sequer fruto vívido de seu pomar ou folhas.

Eu engoli em seco.

Com passos cautelosos, me aproximei da árvore, sentindo meus braços tremerem com o medo.

Mas não consegui nem me aproximar quando garras me atingiram e o som perturbador ruiu em meus ouvidos. Fui jogada no chão e arrastada. Reprimi qualquer tipo de som, e joguei minhas mãos para frente, com o coração tão disparado e a cabeça tão zonza que só fui perceber a górgona tarde demais.

Suas garras apertavam meu pescoço e me arrependi profundamente de ter aberto os olhos.

Seus olhos vermelhos como sangue encaravam o grande abismo que havia abaixo da minha cabeça. Meus cabelos pendiam em direção ao escuro. Eu gritei, de terror, de medo, tentando com todas as minhas forças tirá-la de cima de mim.

Segurei o peitoral da ave com uma mão, forçando-a para cima, e a outra tateei os bolsos, procurando outra adaga ou qualquer outra arma que pudesse me ajudar. Havia deixado as outras cair, e não fazia ideia de onde estavam.

A górgona gritou, fazendo meus ouvidos implorarem por misericórdia.

Suas unhas apertaram meu pescoço e senti como se fosse rasgar e dilacerar. Tentei empurrá-la novamente, mas eu não tinha forças. Engoli em seco, ignorando a água salgada dos olhos e o peito acelerado.

O som de uma criatura soou alto em meus ouvidos. Tão alto que pude senti-lo em minhas entranhas.

— Cheiro de medo. — Uma voz retumbou, tenebrosa e misteriosa, de algo antigo e cruel. — Ah, eu adoro o cheiro do medo. Me faz me sentir... livre.

A górgona continuava a olhar para o abismo, abaixo de onde minha cabeça pendia. Mas ela não fazia nada além de me apertar e de olhar.

O som de correntes sendo arrastadas, e de lâminas sendo afiadas me deu calafrios. Segurei o choro, tentando espantar o medo, mas era inegável que o terror percorria todas as minhas veias.

— E há muito que eu não sinto um cheiro tão apetitoso quanto esse.

Olhos vermelhos como sangue apareceram na minha visão. Seu rosto era magro e pálido, quase sem cor. Acho que estava coberto com um manto preto. Não consegui ver, a górgona me apertou ainda mais.

Eu soltei um grito ensopado de sangue.

Então, a ave voou, e a criatura se aproximou.

De suas mãos escorria sangue. E esse ensopou meu pescoço quando ele o agarrou, me mantendo acima do grande penhasco.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora