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A enorme cobertura de lona branca balançava um pouco com o vento do fim da tarde. Ficava um pouco mais afastado do palácio de Zylia; um lugar reservado para que Eliya pudesse fazer suas pesquisas em paz.

Eu sabia que ela não estava ali. Tinha acabado de encontrá-la dentro do palácio, em uma pequena reunião com Zylia e outras pessoas enquanto discutiam o quanto uma estrutura poderia afetar na saúde de uma pessoa.

Caminhei a passos rápidos, segurando a carta de Hale enquanto me preparava para o que quer que fosse a verdade. O dia estava escuro, abafado e eu ainda sentia o luto corroer meus ossos. Minhas mãos ainda tremiam e pareciam querer entrar em colapso. Sentia minha garganta fechada.

Toquei a lona, sentindo a textura áspera. Aproximei meus ouvidos dela apenas para ter certeza se não havia nada nem ninguém ali dentro. Com uma última olhada para trás, eu afastei o tecido grosso e entrei.

Os balcões eram bejes e sustentavam todo tipo de equipamento; cilindros, tubos de ensaio e bastão de vidro. Diversas substâncias coloridas espalhadas, duas caixas térmicas e papéis estavam jogados.

Sabia que os armários armazenavam coisas e que aquele gaveteiro no canto, perto do primeiro balcão da esquerda, guardava informações valiosas. Talvez a informação que eu procurava.

Comecei a caminhar, observando as pesquisas e anotações que Eliya fazia. Me perguntei se alguma daquelas coisas era algo que ela estava aprontando.

Fui até o balcão onde os papéis estavam jogados, procurando algum indício da autópsia do meu irmão. Eliya poderia usar para qualquer coisa e, de repente, senti medo de Hale ter sido parte de uma experiência maluca dela.

Foi então que vi um papel amarelado com uma letra redonda e formada. Eu o agarrei como se fosse o maior achado da minha vida e comecei a procurar uma forma de esconder aquilo depois de entender o que era. Suas palavras eram claras e me davam calafrios.

Eliya não estava apenas traindo Zylia. Estava se aliando a Ridgar e, automaticamente, a Ayllier. Era uma prova de que a enfermeira estava traindo a princesa. Estava traindo a todos nós.

Passei o olhar por cima da carta, procurando mais informações úteis, mas uma dor latejante e alucinante atingiu minha perna, me fazendo ceder e gritar. Me agarrei ao balcão enquanto as lágrimas de dor escorriam. Senti o sangue quente escorrer pelo uniforme e minha perna ficou dormente.

— Ora, vejamos. Eu sabia que você era um empecilho tão grande quando seu irmão, mas não sabia que iria tão longe quanto ele. Parece que os cérebros Arthorianos precisam realmente reiniciar.

Segurei no balcão, me negando a cair por completo e apoiei meu peso sobre o mármore, virando o corpo para encarar Eliya.

Em sua mão, uma das armas tecnológicas estava encaixada, porém, diferente das comuns, essa não fazia barulho algum ao disparar.

Estremeci. A dor queria me puxar para baixo e eu não podia ceder com facilidade.

Eu não estava paralisando. Eliya estava atirando para me matar. A enfermeira não estava usando nenhuma munição de Álix. Ela queria que eu sangrasse até a morte ou que uma dessas balas parassem meu coração.

— O que está fazendo aqui, Gaëlle?

Cerrei os dentes.

— Conte a verdade. O que meu irmão tinha?

Ela levantou as sobrancelhas castanhas claras e, com um olhar cínico, caminhou até o outro lado da tenda e abriu uma das gavetas, remexendo em alguns arquivos antes de repuxar uma pasta ocre com o nome do meu irmão carimbado.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora