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Dor. A primeira coisa que senti foi dor. Ela me consumia e me fazia tremer. Não me movi, evitei respirar. Qualquer átomo que tocasse a ferida ardia incessantemente.

Minha cabeça pulsava e eu não ouvia nada, mas ardia como se estivesse de ressaca com um som alto na minha cabeça.

Estava cansada demais para abrir os olhos, dolorida demais para mexer os dedos, com machucados demais para conseguir puxar o ar direito. Mas havia retomado a consciência. Então significava que eu estava viva. Meus ossos gritavam e minha garganta raspava.

Não sabia até que ponto estava ferida. Apenas sei que perdi a consciência minutos depois de acordar.

Só fui retomá-la um tempo depois, quando um murmuro perto de mim foi ouvido. Não fazia ideia de quanto tempo tinha passado. Não conseguia abrir os olhos ainda. Eu sabia que podia, mas a dor e a fraqueza me impediam de qualquer movimento. Então apenas tentei entender o que falavam perto de mim.

Levou um tempo até conseguir capitar a primeira palavra.

— ...dias. — Não identifiquei a voz. Pensei ser de Zylia.

— Mas o que acha que dá para fazer? — Era a voz de Renoward. Essa eu conhecia. Estava mais próxima e mais alta.

— Eu não sei. Não sei. Tudo leva a um lugar sem saída. Eles conseguiram me cercar e... e eu não quero fazer o que me pediram.

— Zylia, você tem que pensar com calma. Não dá para agir com ódio nessa situação. Se usar a violência, eles vão contra-atacar.

— Eu sei. Sei disso, Renoward, mas não está restando escolhas. Olha quanto tempo já se passou! Não posso continuar. Não dá.

— Ei! Nós vamos dar um jeito nisso. Seus irmãos só precisam aguentar um pouco mais.

Houve um breve silêncio. Então ouvi um soluço baixo e passos. Era como se algo em massa tivesse saído do meu lado, deixando um vazio frio. O som de traje contra uniforme foi claro.

Os soluços e passos pareciam ser de Zylia. A falta de presença foi de Renoward. Tinha quase certeza de que o soldado abraçava a tenente enquanto esta desmoronava.

— E agora Gaëlle está ferida — ela disse baixinho, mas dava para ouvir. Sua voz estava barganhada e fraca. — E meus irmãos estão morrendo naquele lugar ridículo, e não sei o que fazer. Não tenho a mesma missão que a Gaëlle, não posso concluir tudo por mim mesma e a Névoa mal me obedece mais. Meu pai está doente e não sei como este reino ainda está de pé. Eu juro, Renoward, Álix só continua funcionando porque o Imperador realmente não quer que tudo desmorone.

— Eu sei. Sei disso.

Houve mais um tempo em silêncio entre soluços baixos enquanto eu tentava manter a consciência. Me forcei a sentir meu coração e a contar os batimentos.

— Você precisa ter calma — Renoward disse baixinho. — Gaëlle vai se recuperar e vamos conseguir contornar essa situação também.

— Gaëlle está ruim demais para isso.

— Vai demorar um pouco, mas ela vai conseguir acordar. Eliya só não a matou porque queria que ela sufocasse até a morte. Vamos arrumar isso, Zylia.

— Mas até quando, Renoward? Até quando eles vão ficar lá?

— Não sei. Eu demorei seis anos para tirar minha irmã da prisão. Para conseguir, finalmente, confrontar meu pai, ainda que indiretamente. Você também pode conseguir tirar seus irmãos de lá, mas precisa ter calma. Precisa pensar com clareza e pensar nos prós e contras da situação.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora