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Eu apenas consegui voltar a pensar quando meu pescoço encontrou-se encharcado pelas lágrimas, as mãos tremendo e o peito doendo. Minha garganta ardia, entalada pela dor. Havia uma pressão contra minha cabeça e meus ossos doíam e colapsavam.

Assim que terminei a carta, ainda em êxtase demais, cobri a boca com o cotovelo, deixando as lágrimas quase se jogarem para fora do meu corpo. Como se pudessem levar a dor embora, como se pudessem simplesmente me fazer vomitá-las. Não podiam. Esta estava tão cravada em mim que eu podia sentir suas garras me arranhando.

Reprimi os soluços altos da forma que sempre fazia, chorando em silêncio para impedir que os outros ouvissem. Abracei meu corpo.

De repente, senti falta de ar. Estava sufocada demais para pensar.

Eu me encolhi, deixando as lágrimas escorrerem, por mais que eu desconfiasse que não havia toda essa água em mim. Mantive os olhos fechados, tentando mandar a dor pra longe, ou ao menos reprimi-la. Tinha muitas coisas para pensar ainda.

Ouvi passos abafados do lado de fora e senti um leve movimento dentro do quarto. Se alguém estava ali para me matar ou algo do tipo, eu deixaria. Porque às vezes, sentia que não importava mais. A morte poderia me levar, e eu estaria mais feliz do que se continuasse ali.

Eu só queria vê-lo uma última vez.

Como um toque convidativo, senti uma mão no meu ombro. Espiei, sem a menor vontade de me mexer ou algo assim.

Os olhos verdes me encararam. As sobrancelhas retas se juntaram.

— Por que está chorando?

Não respondi. Tentei, mas não o fiz. Eu solucei, deixando as lágrimas escorrerem. Havia um peso sobre meus ombros, como um fardo pesado. Meu coração estava na garganta e batia tão rápido, que suas batidas eram quase incontáveis. Meus dedos formigavam.

Água quente escorria dos meus olhos.

— Ei.

O soldado se abaixou, ficando de frente para mim. Seus olhos analisaram meu rosto. Com um leve movimento, ele limpou a lágrima que escorria no meu rosto encharcado. Então, sentou-se ao meu lado, e me puxou para seu ombro enquanto me abraçava por trás.

Ele me encasulou com seus grandes braços, mantendo em mim uma sensação segura até que os soluços diminuíssem.

Sua mão enluvada acariciou meu cabelo, afastando-o do rosto molhado.

Chorei baixinho em seu ombro pelos próximos minutos. Ele não disse nada, não perguntou nada, não tocou na carta, não invadiu mais espaço do que deveria. Apenas esteve ao meu lado.

E eu quis odiá-lo, porque não deveria estar me ajudando. Ele era sulmanita. Eu deveria odiá-lo. Mas era grata porque ele estava ali. E não podia negar que queria que fosse ele ali.

— Posso perguntar o que aconteceu? — manifestou-se, depois que meus soluços passaram.

Ele acariciou meus ombros, como se conseguisse ver as lágrimas que escorreram, por mais que minha cabeça estivesse abaixada.

Eu engoli em seco, puxando o ar profundamente.

— Eu... eu li a carta. A segunda carta de Hale.

— É mesmo?

Assenti, sentindo meu cabelo ruivo ser bagunçado pela minha própria falta de desleixo. Não era como se eu me importasse.

— Eu queria poder vê-lo novamente, Renoward. Eu queria tanto...

— Eu sei. Sei disso. — Ele continuou acariciando meu ombro. O príncipe abaixou um pouco mais o tom da voz. — Hale está em um lugar melhor, Gaëlle. O luto vai doer e essa ferida não fecha sozinha tão facilmente. Vai demorar até conseguir lembrar dele com frequência sem o peso no peito.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora