— Podemos continuar? — Aaden foi quem fez a pergunta, me tirando do universo que entrei enquanto observava a cidade.
Eu olhei para ele.
— Chegamos.
Portos olhou na mesma direção, contemplando o vale. Observei-o comprimir os lábios, e pousar os olhos castanhos em mim, como sinal de sua piedade.
— Espero que isso seja bom.
— Era pra ser.
— Ei — disse. — Vai dar tudo certo.
Eu assenti.
— Juntos até o fim, lembra? — Ele estendeu a mão e eu a segurei, apertando-a.
— Sim. Juntos até o fim.
Portos abriu um sorriso de covinhas, fazendo uma referência em sinal de respeito e virou-se para se juntar aos outros.
Mas havia algo em minha mente. Parecia que eu estava esquecendo de algo que o Colecionador de Ossos me disse para fazer.
Lambi os lábios, retorcendo a manga do traje com meu indicador. Se eu não seguisse os conselhos do fauno, poderia eu perder mais ainda das poucas chances que tinha de vencer a guerra?
— Aaden, espera.
— Sim? — ele abriu um sorriso.
— O Colecionador disse que haveria algo na Estrada de Jônix que nos ajudaria.
— Há muito da estrada pela frente.
— Eu sei, mas... — indiquei a Estância das Apostas atrás de mim. — E se tiver algo lá dentro?
Isso pareceu incomodá-lo. Ele alternou o olhar entre mim e a casa de apostas, pensando na melhor forma de agir.
— Gaëlle...
— Não posso deixar de pensar, sinto muito.
Portos abriu a boca para tentar discutir, mas negou. Então ergueu os olhos.
— Não sei se é uma boa ideia.
— Temos que procurar. Só para ter certeza.
Com o cenho franzido, eu quase podia ver as engrenagens se mover por seu cérebro engenhoso.
— Dentro da Estância? Será mesmo?
Dei de ombros, chutando uma pedra no meio dos ladrilhos amarelos.
Portos pensou.
— Talvez devêssemos nos concentrar em ir até Uxtan agora, Gaëlle. Se estivermos vivos no próximo mês, tenho certeza de que passaremos por aqui de novo. Até porque imagino que não podemos deixar Parvin de lado nessa situação.
Ele estava certo. Parecia uma distração e isso era tudo o que menos precisávamos.
Respirei fundo, assentindo.
Aaden abriu um sorriso.
— Não se preocupe, pequena. Tudo dará certo.
Assim eu tinha esperança. Como a maior parte das pessoas ali, tínhamos mesmo esperança. Era o que nos restava, mesmo quando o medo nos fazia chorar durante a noite. Eu não era a única que perdia noites de sono por causa do medo. Imaginava que, pelo menos cada um dos integrantes daquele grupo, já havia passado ao menos uma noite em claro naquela viagem.
— Com vocês aqui? Jamais. Zylia está bem para continuarmos?
Aaden apoiou a mão no meu ombro, apertando-o levemente. Com uma expressão caracterizada pelo disfarce do medo, ele balançou a cabeça.
Hora de partir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Arthora | A Espada de Vanella
Fantasy[Obra concluída ✔] Quando o relógio marca meia-noite, uma perigosa linhagem de monstros é desencadeada, revelando um lado obscuro da humanidade que Gaëlle jamais imaginou existir. À medida que a garota se lança em uma busca desesperada pelos misteri...