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Capítulo narrado à parte de

Gaëlle Provence

Aaden caminhou firme, deixando Gaëlle para trás. Sabia da curiosidade da menina, e se sentia mal sendo tão duro, mas a segurança dela era maior do que qualquer gentileza. E o soldado sabia que ela não iria atrás dele; apesar de sua insistência, Gaëlle tinha um respeito enorme por todos ali. Não seria tola de fazer o que ele tinha pedido para não fazer.

Até porque, o que acontecia naquela casa no momento, não era da conta da garota. E ela não precisaria saber até que de fato não fosse mais possível esconder.

Aaden Portos estava furioso. Não com Gaëlle, muito menos com seu melhor amigo, Renoward, mas com o que quase matava a tenente todas as vezes que aquilo acontecia. Sentia como se pudesse esganar a criatura do outro lado da porta. E poderia mesmo tentar arrancar a goela fora com uma faca afiada que carregava no bolso, se a vida da princesa de Álix não dependesse disso.

O rapaz não bateu à porta para avisar que estava entrando quando se aproximou do depósito. Zylia voltou os olhos pra ele, embaçados pelas lágrimas enquanto, na frente dela, já mostrando as garras, um Konathus a fulminava com os olhos de íris amareladas.

Portos evitou demonstrar o quanto cerrou os dentes para conter a vontade de atacá-lo com uma faca. Sabia que pioraria as circunstâncias, mas ele não podia deixar de imaginar tal ato.

De forma silenciosa, fechou a porta atrás de si, sem deixar de encarar o monstro em sua frente.

Tinha forma humana, mas não agia como um. Não aquele Konathus. Aquele era sinônimo de sangue e impiedade.

— Eu acho que já está na hora de ir embora — disse Aaden, sentindo os pulsos arderem.

A criatura arregalou os olhos, e suas íris amareladas ficaram ainda mais reluzentes, alimentando-se do medo inconsciente que emanava naquela sala. Ele inclinou a cabeça, abrindo um sorriso descomunal. Seu sorriso deixava de ser humano por causa da maldade presente nele.

— Já? Hm... parece que minha Zylia ainda não entendeu o recado.

— Estou certo de que já.

O Konathus ergueu as sobrancelhas pretas.

— Ora, engraçado. Não é você quem decide.

Então, virou-se para a tenente, que mesmo que se esforçasse para disfarçar, estava com tremores por todo o corpo, demostrando o quão fraca estava diante daquela criatura.

Aaden, por alguns segundos, torceu para que algo acontecesse e os poderes de Zylia voltassem. Nem que ao menos um pouco, ela teria o mínimo de chance. Ele não tinha, sabia disso. Por esse motivo, mesmo que se corroesse para tentar lhe enfiar uma faca na garganta, sabia que morreria antes mesmo de encostar na criatura se movesse um dedo de forma brusca.

O soldado fechou a mão em um punho quando o Konathus ergueu as garras para tocar no rosto de Zylia. Mas, para sua surpresa, ele parou no meio do caminho, inspirando o ar como se um cheiro diferente o atraísse.

Ele pousou os olhos amarelos sobre Aaden antes de virar-se para a tenente.

— Tem algo diferente aqui — disse, recostando na prateleira. Parecia ter acabado de sair de uma briga, com o cabelo preto e relativamente longo bagunçado e a gola da camisa abarrotada. Usava uma calça de alfaiataria e sapatos bem engraxados. O rosto, simétrico, sorria debilmente. — Quem mais está na casa?

Zylia apenas negou.

— Não há ninguém que te interesse.

Ele a encarou, com os olhos cintilando.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora