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Eu engoli em seco, tentando recuperar a razão. Com a respiração entrecortada, olhos arregalados e garganta seca, eu tentei me guiar por elementos que estavam na minha frente. Uma pedra, um animal morto, fogo, tocos de madeira.

Puxei o ar com força, tentando arejar minha cabeça.

O kedi queria matar Eliya. Santo Imperador.

Olhei para Renoward novamente, e ele ainda me observava de volta. Seus olhos diziam a mesma coisa que segundos atrás. Não faça nada.

Passei a mão no rosto, esfregando os olhos e obrigando-me a me concentrar.

Certo.

Foquei o olhar no Kedi. Estava com dó do animal. Costumavam ser inocentes, costumavam ser aliados dos humanos, mas tinham um ótimo faro para ameaças. Por que Eliya seria uma ameaça?

Andei até o Kedi, observando a carcaça. Nunca havia comido um, mas seria ótimo para nós; era grande o bastante para que pudéssemos guardar um pouco para a próxima refeição.

Então lembrei do Colecionador. Ossos de Kedi. Ninguém mataria um Kedi se estivesse caçando um; você morreria antes mesmo de perceber. A não ser que fosse muito bom de luta ou estivesse cercado de gente sem a mesma intenção que você.

Sem pensar no que tinha acabado de acontecer, tentando evitar o fato de que o animal queria matar Eliya, levantei a cabeça para encarar Zylia.

— Podemos usar os ossos dele — falei. — Ninguém mataria um Kedi com tanta facilidade. É bem improvável que o Colecionador o tenha.

Zylia assentiu.

— É um bom uso. Eu ajudo você.

As horas que se seguiram resumem-se a: limpamos o Kedi e separamos a carne para outras refeições, enrolando-a em algumas folhas grandes para tentar conservar. Retiramos os ossos, Aaden juntou as coisas e nos preparamos para dormir. Decidi que ficaria de vigia. Eu não conseguiria fechar os olhos enquanto não descobrisse mais sobre o que tinha acontecido.

Algumas horas depois, todos estavam dormindo, exceto eu e Renoward. Ainda não conseguia entender como ele não estava com sono. Ele provavelmente estava me esperando dormir para conseguir comer ao menos um pouco.

Mesmo assim, não resisti e, quando reparei que todos adormeceram, cutuquei o príncipe.

Ele me olhou com o cenho franzido.

— Que foi, está com medo de outro Kedi? — provocou.

— Acho que precisamos conversar. — Indiquei Eliya com a cabeça.

O soldado me observou. Então, levantou-se, estendendo a mão enluvada para mim. Também me levantei, segurando em sua mão.

Sem aviso prévio, ele me puxou para a mata, um pouco mais afastado do acampamento, mas em um lugar onde desse tempo de chegar caso acontecesse alguma coisa e que tínhamos visão ampla dos três dormindo.

— Você também percebeu — constatei, baixinho. — Por que não me deixou fazer nada?

— E o que você faria? Diria a Zylia o que viu?

Dei de ombros.

— Talvez. Não sei.

Renoward me observou; seus olhos verdes um pouco apagados pelo escuro. A luz que a lua refletia era tampada pelas árvores.

— O que isso quer dizer? — perguntei a ele. — Digo, por que ela seria uma ameaça? O Kedi claramente queria matá-la.

O soldado suspirou, dando uma olhadela no acampamento antes de voltar a me observar.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora