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Renoward estava no meio da sala quando cheguei. Havia outro homem ao seu lado, que falava e gesticulava, animado, enquanto o soldado apenas mantinha as mãos no bolso. Alyssa estava atrás, observando tudo, atenta.

Seria uma cena normal e eu passaria despercebida se não fosse os olhos verdes do soldado em cima de mim. Me marcavam, como se quisessem me matar. Devolvi o olhar.

Caminhei, ignorando sua presença e passei por ele, fingindo que sua existência era uma mera partícula do outro lado do mundo. Ele acompanhou com o olhar até onde deu. O homem ao seu lado não parou de falar um segundo sequer, e aproveitei a deixa para me fechar no quarto.

Ainda dava para ouvir o tagarelar do homem. Esse era o grande problema de ter uma casa grande: mesmo com muitos móveis, o eco sempre denunciava o que você estava fazendo.

Me joguei na cama, deixando os pensamentos sobre Zylia circularem minha cabeça. Além dos pensamentos sobre os jardins, e sobre Ayllier, e sobre Sulman.

A verdade é que eu sabia por onde começar. Precisava apenas traçar um plano para seguir uma ordem atrás de cada jardim. Mas ainda não me sentia exatamente pronta. Ir atrás dos jardins, significava que teria que ir até Sulman, ocasionalmente nos trazendo problemas.

Cobri meu rosto com as mãos, cansada de tanto pensar e não conseguir produzir nada. Não conseguir fazer o que precisava fazer pelo medo. Zylia estava certa: seria mais fácil se fizéssemos todos juntos.

Duas suaves batidas à porta me fizeram pular. Me sentei, olhando para a fechadura, sabendo que alguém atrás esperava minha resposta.

Torci para que não fosse Renoward e pedi que entrasse.

Para a minha sorte, os olhos verdes da garota de cabelos castanhos escuros que me encararam. Não os olhos verdes vibrantes. Não os olhos verdes que me marcavam. Não aqueles olhos verdes.

Suspirei de alívio.

— Oi — disse.

— Oi.

Não tinha certeza se queria conversar com ela. Não tinha certeza se confiava o bastante, e queria simplesmente fechar a cara e não ouvir o que Alyssa tinha a dizer. Mas lá no fundo, algo me pedia para dar uma chance. E também me dizia que não era só para ela a chance.

Gesticulei com a cabeça, indicando que ela se sentasse ao meu lado.

Alyssa entrou no quarto, fechando a porta atrás de si.

— O que foi? — perguntei. — Você nunca vem aqui.

Ela riu baixinho.

— Eu sei. Mas eu... bem, faz um tempo que preciso falar com você. É sobre seu irmão.

Senti como se meu sangue escorresse junto com a água do rio.

Eu abaixei o olhar. Não sentia vontade de chorar, mas ainda doía demais. Ainda sentia a tristeza, ainda sentia a falta.

Apertei os dedos.

— Você sabe, não é? — questionei baixinho.

Ela assentiu.

— Meu irmão... meu irmão me contou.

Não culpava Renoward por isso. Era direito de Alyssa saber sobre Hale quando foi ela quem o ajudou. Quando foi por causa dela que eu estava viva naquele momento.

— Reconheci você naquele dia do salão — repetiu, como se não lembrasse que já tinha me contado. — Sabia que era você.

Ergui meu olhar para ela.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora