Epílogo

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Alyssa achava injusto comemorar aniversários em certas circunstâncias, mas por mais que desejasse passar em branco, acordou no primeiro minuto dele.

Esperou na cama até o alvorecer. Não sentia a mínima vontade de levantar, por mais que soubesse que seus amigos contavam com sua colaboração.

A casa do Sr. Rews estava vazia. Depois de um tempo esperando, encontraram uma carta debaixo do tapete da esposa de Daniel. Ela dizia que estava abandonando a casa e não tinha coragem de enviar para seus familiares então a carta ficaria ali até que fossem procurá-la.

Não sabiam dizer o que tinha acontecido com Daniel Rews. Entretanto, não havia tempo para se darem o trabalho de procurar.

Na varanda, o sol refletia memórias e desejos perdidos na princesa. Sentia o corpo tremer. Tinha a vida toda pela frente, mas quem garantia que estariam vivos? Suas ansiedades pareciam fazer o corpo tremer.

Mas tremeu de verdade quando a voz de Zylia, apavorada, soou do lado de fora.

— ... não... sua promessa!

Aproximou-se da varanda, espionando pelo canto da cortina, onde ninguém repararia nela.

Não gostava de ouvir conversas dos outros. Entretanto, se colocava a vida de alguém em risco, era melhor do que não ser capaz de proteger.

— Eu vim lembrar a você — soou uma voz, grossa. Não conseguia ver quem era.

— Não preciso ser lembrada de nada.

Ao lado de Zylia, Renoward deu um passo protetor. Apesar do tempo, Alyssa conhecia o irmão. Ele estava furioso.

— Se quer a garota, terá que procurá-la.

— Se querem vida, terão que entregá-la antes do prazo.

Zylia parecia querer cuspir, mas conteve-se.

— Ninguém disse que haveriam mudanças no contrato. Você não pode simplesmente decidir mudar.

— Ah, não? — O homem riu. Aproximou-se da garota, deixando-a com os olhos dourados por um instante. — Ótimo, então façamos um novo trato. Entregue-me a garota antes mesmo do solstício e sua família será liberta e os poderes restaurados. Não quer mesmo voltar a ser alguém, Zylia Linville?

A garota pareceu lutar contra uma vontade que não pertencia a ela. Mesmo assim, quase o reverenciando, arregalou os olhos e disse sim.

O homem riu.

— Sabe, é por isso que meu pai odeia deixar meu irmão resolver as coisas. Ele é fraco. Tem o que é preciso e não usa.

Assim, deu as costas, andando na direção contraria da janela de Alyssa.

Mas antes que se afastasse totalmente, olhou para trás e para cima, com os olhos dourados encontrando os verdes da princesa. Por um momento, Alyssa o imaginou sorrindo para ela. Então desapareceu.

A garota respirou fundo, sem perceber que os dedos tremiam, frios.

Konathus. Quantos problemas já não causaram?

Decidiu levantar-se para lavar o rosto e comer alguma coisa, fingindo que nada tinha acontecido. Precisava enxugar as mãos suadas e forrar o estômago para um longo dia. Entretanto, um papel ao seu lado chamou a atenção. Era pequeno, com uma caligrafia delicada. Não estava ali antes.

Não precisa ficar com medo, querida. Se não dizer nada a ninguém, não será a próxima tão cedo. Prometo isso como seu presente de aniversário.

Aliás, parabéns por seus 33 aninhos.

Asriel.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora