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Estava parada em frente a duas enormes portas de carvalho, esculpidas com desenhos de histórias antigas, lendas, ou até mesmo, heróis de outra era. Não conhecia a maioria deles. Estavam espalhados por toda a madeira, tentando contar alguma coisa, sussurrar segredos ou sonorizar contos.

As lendas antigas podiam dizer muitas coisas. Ouvi algumas nos cinco anos em que eu e Hale vivemos no museu. Havia muito mais do que me contaram, mas eu nunca tinha muito tempo para ouvir ou amigos para contar. E não tinha como saber qual delas era real. Qual lenda contava a verdade. Lendas sobre povos bárbaros, ou sobre aqueles que afundaram seu povo por causa da ignorância humana.

Empurrei as portas pesadas, encontrando uma sala repleta de prateleiras e livros, com, pelo menos, mais dois andares. A biblioteca.

Estava escuro, e não havia ninguém ali dentro. Tinha a esperança de encontrar os gêmeos, mas aparentemente estes estavam dormindo no quarto próximo ao meu.

Adentrei, coçando o nariz quando a poeira levantou. Parecia que ninguém ia ali há anos.

Todos os livros estavam organizados por gênero, cor e tamanho. As prateleiras iam de A a Z, onde as últimas letras ficavam no último andar. Era difícil enxergar lá dentro. Tinha que forçar um pouco a visão, mas ainda assim, não conseguia ver muita coisa.

Ativei a pulseira da Corte Privada, ligando a luz azul para que me ajudasse a enxergar. Todos os integrantes tinham uma e só poderia ser usada em casos de emergência, mas eu considerava a minha saúde mental uma emergência.

Observei as primeiras prateleiras, procurando algo de interessante para ler. Nenhum dos livros me interessou. Queria algo que me dissesse sobre o passado. Fosse de Tuorc ou de qualquer outro reino. Agora que tinha oportunidade, precisava estudar um pouco de história.

As escadas subiam em espiral para o segundo andar. Eram de madeira e estralavam alto quando pisadas, mesmo que eu fosse cuidadosa.

O medo queria fechar minha garganta. Nunca tive muita afinidade com o escuro. Nunca se sabe o que se pode encontrar nele. Era assim em Ayllier. O escuro era o maior pesadelo de qualquer pessoa que estivesse lá dentro. Quando não há luz do dia, coisas terríveis acontecem.

Mesmo assim, insisti mais um pouco e subi as escadas para o segundo andar.

Ainda com a poeira coçando meu nariz, caminhei por entre as prateleiras, procurando algum tipo de livro. Não tinha um objetivo. Só queria achar algo que me interessasse e que distraísse minha cabeça.

Passei os dedos pelos livros, olhando brevemente seus títulos enquanto ignorava o medo do breu ao meu redor. Os temas variavam entre política, histórias para dormir, contos, lendas e histórico dos reinos. Além de alguns livros geográficos.

Reprimi um grito quando duas palmas soaram no salão. Desliguei a luz da pulseira quando as luzes da biblioteca acenderam. Me encolhi atrás de uma prateleira, tentando acalmar meu coração do susto enquanto tentava entender quem havia entrado ali.

— Não vimos nada, senhor — disse uma voz, lá embaixo. Não conseguia saber de quem era.

— Merda. Já falei para guardarem essas portas com a vida de vocês. — A voz de Ayaz soou forte. Parecia irritado.

— Estávamos ocupados cuidando para que os outros visitantes não chegassem ao quarto andar. Aqueles soldados são bem curiosos.

— E por que não se dividem para guardar as portas também? Sabem como ninguém pode entrar aqui dentro.

— Estávamos organizando isso também, senhor.

Acho que Ayaz revirou os olhos. Pelo pouco que vi dele, era quase uma dedução segura.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora