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Abracei Ercan quando as gotas frias e pesadas da chuva começaram a cair sobre nós. À minha esquerda, Zylia acompanhava Barrie.

O dia estava tão escuro que parecia quase noite, apesar de já haviam passado várias horas do dia. O solo enlamaçado fazia com que água suja espirrasse em nossos tornozelos enquanto andávamos mais rápido.

Naquele dia, demorou ainda mais para sairmos do que quando chegamos. A hora não parecia passar, o tempo parecia não querer correr nunca.

Mesmo assim, era como se o dia de amanhã não fosse existir.

Não paramos para comer, nem para descansar.

Aaden guiava o grupo, com passos confiantes. Renoward estava atrás de todos nós, cuidando para que ninguém nos pegasse de surpresa. Por mais que estivesse machucado, o príncipe de Sulman parecia não ter sofrido nada no dia anterior.

Ayaz estava calado. E bem, bem longe de Zylia. O mais longe que pudesse.

Quando chegamos no jato, cansados, sujos e molhados, já passava da metade do dia.

Ninguém disse uma palavra. Não trocamos uma frase, não perguntamos nada.

Renoward tomou a frente, abriu a porta do jato, e todos nós seguimos. Momentos depois, ele já pilotava, e nós já nos acomodávamos.

As horas seguiram-se assim; tão escuros como o fundo dos oceanos, tão silenciosos quanto o vazio.

Quando chegamos em Parvin, já estava quase de noite.

* * *

Na mesa improvisada do jato, nós jantávamos a pouca comida que trouxemos da casa de Renoward.

Decidimos não sair da aeronave até o alvorecer. Era mais seguro e tínhamos recursos o bastante para permanecer ali dentro.

Além de Ercan e Barrie, ninguém mais disse nada. Os gêmeos, entretanto, se divertiam.

— Ercan, olhe! Eu fiz um navio pirata!

— Piratas não existem, tonta — Ercan deu de ombros.

— Existem sim!

— Onde eles estão então?

Enquanto discutiam, nós permanecemos ali, em um silêncio tão mortal que parecia querer no corroer.

Eu confesso a você que sentia vontade de chorar. Bastante vontade de chorar. Se alguém naquela sala decidisse, por algum motivo, me puxar para um abraço, eu teria os olhos umidificados bem rápido.

— Estamos perto do Jardim? — soltei a pergunta no ar. Quem a respondesse, respondeu.

— Estamos — a resposta partiu de Aaden, que me observou por alguns instantes com o cenho franzido, mas eu desviei o olhar antes que ele perguntasse qualquer coisa.

— Tá bom.

Eu me levantei. Não suportaria mais ficar ali.

Sem dizer nada a ninguém, juntei minhas coisas e fui para a cabine do piloto, sentindo os braços formigarem enquanto eu inclinava a poltrona em um colchão improvisado.

Não demorou muito até que a primeira gota escorresse pelo meu rosto, percorrendo um caminho trêmulo até que pingasse no chão.

Evitei o choro o dia todo, entretanto havia um momento ao qual eu já não suportava mais. Saudade é algo difícil de lidar. Te corrói por dentro e é tão difícil de expressar que, de vez em quando, me sentia paralisada e estagnada, com uma esperança falsa entalada na garganta e uma sensação de aperto no estômago.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora