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Senti um certo soco no estômago assim que repuxei o galho na árvore. Tinha um bom diâmetro, era relativamente cumprido, mas ainda cabia dentro da bolsa que separamos justamente para isso.

O galho reluzia com o meu toque, e brilhava fortemente. O coloquei com folhas e tudo, fazendo-o ficar longe dos raios de sol.

Um vento soprou, balançando meus cabelos que faziam cócegas nas minhas costas. Eu ainda vestia o traje, mas já era fim do dia. Partiríamos para Rafflésia em doze horas e eu não tinha certeza se estava completamente pronta. Na real, sentia um nervosismo forte.

Eu puxei o ar com força, deixando meus ombros relaxarem. A sensação era a mesma de caminhar para uma viagem sem volta. Porque poderia ser, de fato, uma viagem sem volta.

Eu deixei que o vento soprasse enquanto relaxava meus músculos, repassando algumas coisas na minha cabeça.

— Certo — sussurrei. — Tudo dará certo no final, não é?

Observei a árvore, que reluzia, forte. A árvore central. A mais grossa. Tinha o triplo de largura das outras; era como se alguém pudesse deitar ali dentro.

Eu sabia que a guerra era assustadora, mas em alguns momentos, eu a queria. Queria porque sabia que não havia outra forma de terminar isso a não ser a guerra. Se era para enfrentar Sulman e Ayllier, enfrentaríamos com bravura.

As luvas de couro me assustaram assim que pousaram nos meus ombros.

— Louco! — falei.

Eu tinha certeza de que ele estava sorrindo quando me encarou.

— Terminou aí?

Anuí.

— Já peguei o galho.

— Certo. Vamos. Zylia está nos esperando.

Ele virou as costas, começando a caminhar pelo túnel de árvores, as quais ainda balançavam de leve com o vento. As flores que toquei ainda reluziam. O caminho até a lagoa e depois, o muro, era um pouco longo. E nós caminhamos em silêncio até ver a água.

— Posso fazer uma pergunta?

— Depende do tipo de pergunta.

— O que houve com você?

Isso o fez parar.

Renoward jamais admitiria isso na época; tempo em que muitos de nós não admitiríamos muitas coisas, mas ele precisava desse questionamento. Ele queria falar sobre isso e tinha medo.

Ele continuou de costas para mim quando disse:

— Do que está falando?

Eu engoli em seco, de repente incerta se deveria continuar. Também tinha medo. Soltei a frase no impulso; estava curiosa, mas era invasivo.

Neguei.

— Deixa quieto.

Então o príncipe virou, pousando aqueles olhos verdes sobre mim; julgando-me.

— Termine a pergunta.

— Não. Era uma pergunta tola, eu-

— Gaëlle.

O encarei.

— Pergunte.

— Seu rosto. Por que o cobre? Eu sei que não é apenas por ser príncipe.

Renoward estava praticamente paralisado. Era como se ouvir essa pergunta fosse um de seus maiores medos. Um pesadelo.

O soldado; príncipe, ficou em silêncio, absorvendo o questionamento, procurando uma resposta. Talvez realmente não fosse bom perguntar. Eu quase pude ouvir as engrenagens do seu cérebro receber as lembranças do que aconteceu.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora