Ouviu-se apenas o som das águas que desafiavam a gravidade por exatamente um minuto. Ninguém quis falar, ninguém ousou comentar nada.
O fauno permaneceu nos olhando enquanto eu tentava distinguir se sua expressão entregava medo ou mentira. Ou verdade. Porém, apenas a arrogância permanecia em seu olhar. Não sabia dizer se ele brincava para expulsar o que ele consideraria um bando de crianças, ou se ele de fato falava sério. Nenhuma das duas suposições pareciam verdade.
— Prove — cortei o silêncio.
O fauno abriu um sorriso orgulhoso.
— Gaëlle — Renoward chamou, mostrando a flecha que fez o corte ardente do meu nariz.
A ponta era talhada e feita de ossos. Sua haste era esculpida do mesmo material, feito com cautela para que coubesse algo dentro. Tão cortante e afiada; mortífera.
Ele era o Colecionador de Ossos. A lenda mais viva de toda Ulyan. Mais do que grifos e hipogrifos juntos.
Não consegui impedir que meu corpo tremesse por um pequeno temor. Mas isso não era o que mais me intrigava.
— Bom, agora que tem a prova, não precisa tentar me matar. — O fauno deu as costas e começou a caminhar na direção do arbusto. — Não se preocupe, as azuis não fazem nada com humanos. Agora se fossem verdes... — ele deu uma pausa e virou-se, encarando-me quando se aproximou do arbusto — teriam que lidar com uma terrível coceira.
Ele pulou, sumindo em algum buraco atrás do arbusto.
O pequeno fauno de pelagem caramelo nos encarou com os olhos arregalados e, antes que pudéssemos dizer qualquer coisa, correu para trás do arbusto, sumindo também.
Eu franzi o cenho.
Aaden respirou fundo, aliviado.
— Achei que ele fosse tentar arrancar um osso de um de nós — disse, limpando a terra de seu uniforme.
Neguei, franzindo o cenho enquanto deixava a mente ligar os pontos. Tudo poderia ser óbvio, mas se pensássemos bem...
— Acho que não é assim que ele trabalha.
Eliya me encarou. Zylia coçava a testa, aliviada por não ter morrido naquele dia.
— O que você sabe? — perguntou a enfermeira.
— Eu não sei, mas desconfio que não seja assim. — Recostei na árvore atrás de mim, alcançando a flecha que Renoward estendia e analisando-a. — Pelo seu modo de agir, ele não vai simplesmente roubar um osso.
— Ele pediria um osso em troca de algo — observou Renoward. — Bom raciocínio.
Eu assenti.
— Mas em troca de quê? — perguntou Aaden.
Olhei-o, dando de ombros.
— Informação?
— Talvez — disse Zylia. — Ou talvez seja assim que ele vai deixar você passar para o outro lado.
— Tem certeza que o Jardim está do outro lado? — perguntou Portos. — Temos Rafflésia inteira pela frente.
A tenente assentiu.
— O Jardim é protegido pelas Montanhas de Teralta. Nunca passei por aqui; imaginava que fosse possível voar até seu fim, mas ela é alta demais.
— Mas o que o Colecionador tem a ver com isso? — perguntou Eliya. — Como ele poderia liberar passagem?
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Arthora | A Espada de Vanella
Fantasy[Obra concluída ✔] Quando o relógio marca meia-noite, uma perigosa linhagem de monstros é desencadeada, revelando um lado obscuro da humanidade que Gaëlle jamais imaginou existir. À medida que a garota se lança em uma busca desesperada pelos misteri...