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Fechei os olhos, apoiando a cabeça na almofada fofa do sofá.

Aquele tolo.

— É meu irmão mais novo. O caçula. Eu realmente não sei se concordo...

Eu abri os olhos.

— Eu concordo com Ayaz.

Ainda recostada, encarei o piso de madeira lustroso; madeira cara e importada, que toda a moeda gasta só poderia ter saído de um bolso e que compraria um ano de alimento em Uxtan.

— Laron quase matou Alyssa e parecia bem orgulhoso disso. De qualquer maneira, ele deve ter descoberto que Renoward está vivo e o levado.

— Mas para quê? Vingança? — Zylia virou-se para Alyssa.

Ela negou.

— Suborno e tortura. É isso que sabem fazer naquela corte. Laron sabe que estou viva e que estou bem, tanto que até mandou um caçador pra tentar me matar. Deve ter descoberto que meu irmão estava aqui.

— Então ele está no palácio — Aaden acomodou-se no sofá, pensativo.

— Não tem como saber — Alyssa tremeu. Seus olhos percorreram o local antes de se abaixarem para suas mãos inquietas. — Meu pai... — respirou fundo. — Ridgar tem milhares de lugares para assassinar e mutilar pessoas. Ele pode estar em qualquer um.

Santo Imperador. O quão pesado pode ser as notícias de um mundo real? Até onde a maldade humana pode chegar?

— Ainda não entendo como aconteceu — disse Zylia.

A princesa deu de ombros, com os olhos vermelhos.

— É inegável que meu irmão é melhor que Laron em tudo o que faz, mas Laron tem suas manhas. — Ela negou. — Ele conhece Renoward bem até demais. Os dois sabem onde se bater.

— Então quer dizer que podem estar lutando nesse momento? — disse Aaden.

— Se não estão, meu irmão está planejando uma forma de cortar o mais novo em pedaços.

— Literalmente? — perguntei, erguendo os olhos para Alyssa.

Ela balançou a cabeça.

— Não duvido que ele não hesitaria.

Ficamos todos em silêncio, ouvindo a chuva cair sobre o telhado e molhar o solo de terra infértil. Não havia vento, mas eu quase podia sentir a casa balançar, apesar de sua estrutura. No teto abobadado, o lustre não era capaz de iluminar todo o ambiente, nos deixando encolhidos em um pequeno espaço, com a luz escassa.

Retorci a borda da toalha, sentindo meus cabelos grudados no rosto.

Não podíamos continuar sem Renoward, mas a ideia me parecia um tanto tentadora; se não fosse por sua capacidade de nos manter extremamente seguros.

Revirei os olhos, recostando no sofá.

— Precisamos dos locais que você se lembra que existe — falei. — Com uma descrição simples de como entrar e sair dela.

— Não sei de todos. Podem ter muito mais — relatou.

Respirei fundo, sem entender a bolota que se formava na minha garganta.

— Não tem problema. Vamos começar com o que já temos.

Eu me levantei, me dirigindo a mesa de centro para pegar um papel. Me sentei no chão, começando a rabiscar um esboço do mapa que o Imperador me deu e sentindo alguns olhares de diferentes tons de cores sobre mim.

— Espera... — Zylia começou. — Você quer ir atrás dele?

Eu a olhei brevemente antes de desviar o olhar, mordendo o lábio inferior.

Contrariada, respondi:

— Nós precisamos dele. Eu o odeio, mas você escolheu um bom agente. Então, por mais que ele seja um panaca metido a besta, vamos nos organizar para ir atrás de Renoward. — E terminei, baixinho para que ninguém ouvisse, mas todos ouviram. — E ninguém deixa ninguém para trás, então...

Eu não olhei, continuei rabiscando a folha como se tudo dependesse apenas dela, mas um sorriso apareceu no rosto de Zylia.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora