74

83 20 8
                                    

Primeiro estágio: fome

Foram três dias sem água e comida. As punições começam pelo básico. Primeiro estágio é a fome. Não me desesperei; sabia lidar muito bem com isso. Meu maior problema era como sairia dali viva e com um galho do Jardim de Uxtan nas minhas mãos.

A sede rasgava minha garganta toda vez que eu tentava falar e eu já começava a sentir meu corpo fraco. Mantive-me firme.

O que estariam meus amigos fazendo a esta hora? Teria Sr. Rews ajudado-os com abrigo, água e comida? Estariam discutindo a próxima fase da nossa jornada? Ou será que pensavam em investigar Parvin?

Talvez Ayaz e Zylia estivessem discutindo. Ou os gêmeos estariam treinando com Renoward.

Naquele momento, percebi o quanto sentia falta deles.

Esfreguei as pontas dos dedos na perna, esperançosa de que poderiam esquentá-los.

Comecei a contar o tempo, como costumava fazer antes. Cinco. Dez minutos. Então trinta se passaram e então cinquenta. Decidi contar os parafusos das grades. Até que cento e sete minutos se passaram quando um guarda decidiu aparecer na cela.

Ele abriu as grades e entrou, enquanto outro guarda ficava atrás, garantindo que eu não correria.

— Vamos transferi-la Permaneça calada ou teremos que tomar providências.

Ele me agarrou pelo braço e me arrastou para fora da cela. Pelo menos outros cinco guardas estavam aguardando ali. Outro me agarrou pelo braço, com força, certificando de que eu não fugiria. Pensei que tampariam minha visão, mas começaram a me arrastar sem mais nem menos.

Percorremos o corredor. Não havia muitos prisioneiros, mesmo assim, todos ignoraram totalmente nossa passagem.

O chão era sujo, encrostado de barro, poeira e sangue. As paredes, apertadas e não havia janelas. Queriam que eu visse para me dizer que seria ali onde eu passaria os próximos meses da minha vida.

Então chegamos à uma porta de chumbo, pesada, mas não tão difícil de destrancá-la. Conhecia bem. Essa porta dava acesso à outro compartimento da prisão: a sala de tortura. Era um laboratório, na verdade. Qualquer um poderia servir de cobaia.

Continuamos pelo corredor, onde o cheiro pútrido era mais forte. Partes humanas congeladas, facões, bisturis e todo tipo de remédio poderia ser encontrado ali.

Fechei os olhos. Seja forte. Mas quase não há formas de ser forte em um lugar assim. Senti meu estômago retrair, mas o corredor parecia infinito.

Até que eles pararam. Ainda estava de olhos fechados quando um deles disse:

— Esse é um espetáculo que você não quer perder, Gaëlle.

Não quis abrir os olhos. Eles não insistiram. Na verdade, me soltaram, mantendo armas em minha direção enquanto eu me apoiava no chão molhado com o tintilar das algemas.

Minha respiração fechou quando ouvi um grito. Estava escuro e frio, e meu corpo repousava sobre uma poça grossa e gelada. Sentia meus pés encharcados de suor.

A princípio, não entendi onde eu estava.

Entretanto, o grito que soou pela segunda vez me foi familiar de mais. A ponto de fazer meu coração palpitar.

Observei a garota de cabelos loiros ser arrastada para mesa com amarras, onde seus pulsos foram presos. A mantiveram de costas e de joelhos, vestindo apenas uma calça surrada. Lágrimas escorriam de seus olhos e pingavam no chão de pedra, já manchado. Podia ver seu desespero dali. Seu corpo todo tremia em puro colapso, e por mais que ela puxasse seus pulsos, era impossível de se soltar dali.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora