A Estrada de Jônix era sombria. As árvores pareciam querer tocar o céu, ocultando muito da luz que poderia iluminar nosso caminho; o chão, feito de ladrilho de pedra cinzenta, possuía resquícios de uma tinta que, um dia, fora amarela.
O mato estava tão grande que poderia nos engolir vivos e haviam teias de aranhas monstruosas.
Eu senti a bolsa pesar em minhas costas assim que os primeiros ladrilhos começaram a aparecer.
Muitos boatos já circularam todas as terras sobre a Estrada de Jônix. Alguns diziam ser mal assombrada. Outros diziam que corpos importantes ali já foram enterrados. Outros diziam que era terra de ninguém, pessoas sem nome e sem civilização, perdidas por anos. Ayaz contou ouvir sobre piratas um dia. Não estávamos nem um pouco próximos ao litoral, mas a Estrada poderia conter algum segredo escondido.
Andamos todos bem juntos naquele dia. Estava tão escuro que o sol já aparentava ter ido embora, ainda que estivéssemos na hora mais quente. Por precaução, carreguei minha espada na mão para evitar qualquer ataque.
Aquele era o último lugar antes de chegarmos em Uxtan. A Estrada dividia o território arthoriano, o território orturgo* e o parviano há milhares de anos. Segundo alguns livros, surgiu quando Jônix, herdeiro sulmanita, fugiu de sua terra e permaneceu ali, vagando durante anos.
Nunca descobri o que aconteceu antes; as páginas seguintes do livro estavam rasgadas. Dizem que ele foi tomado pela loucura, mas não acho que isso seja verdade. Sei que ele fez com que o filho dele provocasse a guerra, mas como chegou a esse ponto, ninguém sabe.
Foram dois dias caminhando em direção ao nosso destino. Na última noite, eu decidi ler mais uma carta de Hale. Queria tê-la no coração antes que tudo desse errado.
"34 de Torcksy, calendário arthoriano.
Querida irmã.
Já faz um tempo que venho pesquisando sobre nossa família. Aaden, o soldado, vem me ajudando a procurá-los sem correr muitos riscos.
Achamos uma lista de pessoas que morreram nos campos de escravidão nos últimos dez anos. O nome da nossa mãe estava lá. Aparentemente, ela morreu há um ano e meio, mas não sei a causa da morte.
Entretanto, o nome de nossa irmã não estava lá. Imagino que isso deva ser um bom sinal. Me perdoe por nunca falar dela. Eu tinha medo que nosso pai descobrisse sua existência e, você sabe, ele é bastante cruel quando quer.
Morrigan é filha de um escravo que foi morto por Markus. Ele precisava de um descendente arthoriano e homem, e achou nossa mãe bonita. Assim que teve oportunidade, matou-o e... bem, você já sabe. Não é atoa que ele nos odeia; sou o que ele usaria para sacrifício e você o que ele faria um Espectro. Papai sempre quis o meu sangue e sempre quis controlar você e essas são duas coisas que ele nunca conseguiu.
Sinto muito, Gaëlle, sinto mesmo. Eu tenho sorte se morrer antes que ele possa fazer alguma coisa comigo, além de tudo que já fez.
Não quero ficar aqui falando de coisas tão ruins então, peço que procure por Morrigan. Ela é tão doce quanto teimosa, igual nossa mãe. Você pode confiar nela. Nossa irmã sabia dos objetivos de Markus, mas cuidou de nós com tanto zelo, que é difícil não dizer que ela nos amava. Ela pode ajudar você.
Mande um abraço para ela por mim. Eu sinto saudades.
Com amor,
Hale."
...
* * *
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Arthora | A Espada de Vanella
Fantasy[Obra concluída ✔] Quando o relógio marca meia-noite, uma perigosa linhagem de monstros é desencadeada, revelando um lado obscuro da humanidade que Gaëlle jamais imaginou existir. À medida que a garota se lança em uma busca desesperada pelos misteri...