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Precisamos levá-la para dentro — a voz de Ayaz ficou um pouco abafada. Meus ouvidos ardiam com o vento frio e a neve que congelava minha cabeça.

— Certo — assentiu Zylia. — Acho que...

A tenente cessou a frase e seus olhos pousaram sobre alguém que parava atrás de Ayaz. Eu não me dei o trabalho de olhar. Minha ferida ardia demais e pulsava compulsivamente. Meu estômago amarrou com a dor e eu sentia a agonia subir até acima da minha garganta.

Por incrível que pareça, não fiquei tão surpresa quando dois olhos verdes apareceram no meu campo de visão. O soldado franzia o cenho enquanto me analisava, ajoelhado na neve ao meu lado.

Renoward levou uma das mãos ao meu pescoço, pedindo uma breve licença antes de pousar dois dedos na lateral, checando os batimentos cardíacos.

— Está acelerado. — Estava certa de que sua frase tinha sido dirigida à Zylia, apesar de que seus olhos continuaram em mim.

— Consegue levá-la para dentro, Renoward? — a tenente perguntou.

Ele assentiu, retirando a mão do meu pescoço brevemente.

— Tenho que ver esses pontos. Acho que vou ter que refazer alguns.

Então manteve os olhos nos meus por alguns segundos.

— Segure firme a espada — disse. — Vou levantar você e levá-la até a enfermaria. Não solte de forma alguma.

Franzi o cenho. Minha cabeça ardia por causa do frio, mas, mesmo assim, ousei perguntar:

— Por que ninguém leva a espada?

Parecia ser pesada. Além de que, por causa da dor, eu não teria força nenhuma para aguentar segurar por muito tempo.

Renoward me levantou no colo e eu segurei firme aquela arma encantadora. Não era tão pesada, apesar de que talvez eu tivesse um pouco de dificuldade para movê-la pelo ar.

— Ninguém toca na espada, Gaëlle.

O soldado me carregou de volta ao palácio, enquanto a ferida gritava e eu me concentrava ao máximo para não desmaiar. O caminho era relativamente longo, mas não prestei atenção nos corredores, nem nos gêmeos que nos viram passar, nem nos soldados cochichando atrás de uma porta.

Acabei prestando mais atenção na parte debaixo da máscara de Renoward. Era interessante. Por ali ficava a entrada e saída de ar, feita por pequenos furos, tornando impossível de ver como era por debaixo dela. Por isso sua voz sempre soava bem mais forte quanto eu o abraçava.

Mal percebi quanto ele me colocou sobre a cama, deitando com cuidado para que não machucasse minha cabeça. Com alguns movimentos rápidos, Renoward virou de costas, retirando as luvas de couro e voltou com luvas nitrílicas.

Ele me olhou de soslaio enquanto preparava as coisas.

— Você está bem? — Novamente, não percebi sentimento algum em sua fala.

— Uhum.

Aaden entrou no cômodo azul, observando com atenção por alguns segundos antes de, sem qualquer aviso prévio ou pergunta, ir até a pia lavar as mãos e ajudar Renoward.

— Você olhou a ferida? — perguntou.

— Não.

— Precisa olhar.

— Não havia tempo, Aaden. Ela poderia ter hipotermia se ficasse lá fora.

Portos assentiu.

— Certo. Vou buscar algumas compressas quentes para colocar entre o cobertor.

Arthora | A Espada de VanellaOnde histórias criam vida. Descubra agora