Loren Colucci era a noiva de Mário Monteiro desde a adolescência, mas nenhum dos dois desejava a união.
Loren não suportava a ideia de se casar com o menino que viu crescer e com ele não era muito diferente, se existisse algum tipo de sentimento bo...
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LOREN
Abri o outro olho e provavelmente, o encarei com a boca aberta.
— Cuidado - ele disse, ainda sem me soltar.
— Desculpe - sussurrei focada em seus olhos escuros. Eram tão negros que eu não conseguia distinguir o que era a íris e a pupila, parecia ser tudo um só. Eu não fazia ideia de que alguém poderia ter olhos tão escuros assim, nem tão sombrios e vazios, e eu não estava falando da ausência de cor.
— Você está bem? - ele me soltou lentamente, como se quisesse ter certeza de que eu ia conseguir ficar de pé quando suas mãos não estivessem mais em mim, me segurando. O pensamento fez meu corpo formigar e eu dei um passo para trás, passando as mãos pela saia do meu vestido antes de assentir.
— Sim - abri um sorriso, saindo da sua névoa de mistério, com cheiro amadeirado e voltando ao meu estado de extrema felicidade, mesmo que lagrimas estivessem lutando para escapar dos meus olhos. Não eram lagrimas de tristeza, muito pelo contrário. — Estou bem. - afirmei e funguei, tentando não chorar a frente de um estranho. Meus olhos estavam ardendo, as lágrimas lutando por sua liberdade. — Obrigada por não me deixar cair e, novamente, desculpe.
— Não tem que se desculpar - ele acenou com a cabeça e só então notei que ele tinha que se curvar levemente para olhar pra mim enquanto falava. Isso só mostrava o quanto ele era mais alto que eu, embora eu não fosse tão pequena quanto a média. Eu tinha mais de um e setenta, sendo um pouco mais alta que a maioria das mulheres que eu conhecia. — Apenas tome cuidado para não acabar batendo a cabeça em alguma coluna.
Eu ri pelo nariz e aquele não devia ser o som que uma dama faz, cobri a boca com a mão, mas acabei rindo quando vi um sorriso nascer em seus lábios finos.
— Você parece feliz - comentou e eu assenti.
— Estou - afirmei ainda com a mão na boca, me sentindo ligeiramente envergonhada por meu comportamento tolo, mas, eu não sabia quem era aquele senhor e se desse sorte, não o veria novamente tão cedo. — Tenho que ir, mais uma vez, me desculpe e-
O homem me interrompeu, segurando meu pulso com firmeza, mas não a ponto de machucar. Eu o olhei confusa, mas não disse nada enquanto o observava tirar do bolso interno do blazer um lenço e me entregar.
Mesmo hesitante, eu aceitei o gesto, segurando o lenço branco e bordado nas bordas com a mão que ele não estava segurando.
— Obrigada - sussurrei, sem saber o que fazer, apertando o tecido fino porém macio entre meus dedos trêmulos. Seu gesto extremamente gentil, me deixou em silêncio por alguns instantes e então, eu solucei, quando as lagrimas finalmente se libertaram sem minha permissão. — D-desculpe...
— Está tudo bem - ele disse ainda me segurando pelo pulso, mas agora seu aperto era quase como uma caricia.
— Eu não choro sempre - sussurrei, ainda com a cabeça baixa e ouvi um risinho de descrença. — Estou falando sério. - funguei.
— Acredito em você - ele disse, mas ainda em um tom divertido e eu ergui a cabeça o olhando com o cenho franzido, o que o fez rir novamente e eu me afastei, percebendo que estávamos quase colados um no outro novamente.
— Eu vou devolver - eu avisei e ele assentiu, dando um passo para trás também, e finalmente a distância entre nós parecia segura.
— Não tenha pressa - ele disse e eu assenti — Você precisa dele mais que eu.
Soltei outra risada que foi mais um bufo do que qualquer outra coisa e quase choraminguei, por estar agindo de forma totalmente deselegante na frente daquele homem que parecia bonito e gentil demais para ser verdade.
— Você é muito engraçadinho - resmunguei antes de fugar novamente.
— Eu tenho que ir - ele avisou, olhando por cima de mim, e eu tentei não me virar para saber para onde ou para quem ele estava olhando, não queria que mais ninguém me visse naquela situação embaraçosa — Tem certeza que está bem? - seu olhar estava cheio de preocupação e eu teria sorrido se não fosse estranho sorrir naquele estado vergonhoso.
— Estou. - garanti rapidamente — Não se preocupe.
Ele assentiu novamente, mas não se moveu.
Ficamos nos encarando por o que pareceu ser tempo demais e eu o observei da mesma forma que ele estava fazendo comigo.
Seus olhos escuros bonitos, o cabelo também negro que descia quase na altura dos ombros, perfeitamente penteados para trás, o terno azul escuro, sem gravata e com os primeiros botões da camisa branca abertos. Mas, o que mais chamava minha atenção era sua altura... ele parecia gigante.
Ele limpou a garganta e eu desviei o olhar, me sentindo envergonhada, mesmo que ele estivesse me encarando também, mas eu devia estar parecendo uma bagunça.
Eu pensei em dizer algo, mas ouvi seus passos e afastando e quando ergui a cabeça novamente, ele tinha passado por mim e já estava fora do meu campo de visão.
Puxei o ar, tentando me acalmar.
Caminhei, ainda com as pernas trêmulas até o banheiro mais próximo e fiz uma careta ao me ver no espelho. A pouca maquiagem eu estava estava borrada, meus olhos vermelhos do choro, mas pelo menos meus cabelo ainda estava aceitavelmente preso no rabo de cavalo.
Eu estava usando um vestido cinza com gola padre, que descia até abaixo dos meus joelhos mangas que iam até o cotovelo, junto com sapatilhas pretas. Eu parecia tão triste e digna de pena, mas não mais.
Sequei algumas lagrimas que insistiam em descer por meu rosto com o lenço que o desconhecido me deu e inalei o seu cheiro amadeirado, surpresa pelo cheiro estar tão forte quanto o dele...
Eu fiz uma careta ao perceber que estava a tempo demais sentindo o cheiro do desconhecido e guardando o lenço no bolso do meu vestido, eu lavei meu rosto e esperei alguns minutos para sair do banheiro e fui ao encontro de Sirena.
Ela ficou tão feliz quanto eu, mas amaldiçoou Mário o máximo que conseguiu. Ela nunca gostou dele e eu tinha certeza que se pudesse, faria meu primo se livrar dele como vingança por me trair, palavras dela.
Eu não me sentia traída, talvez, se eu gostasse minimamente dele. Se eu gostasse de Mário como uma mulher gosta de um homem, como Sirena era louca por Felipo, eu me sentisse devastada, mas simplesmente não estava. Não tinha motivos. Não havia perdido nada com que eu me importava de verdade.
Não chegou nem perto do desespero que senti quando soube que Sirena havia sido levada pelos gregos ou quando soube que ela havia perdido o bebê... Foi horrível.
A sensação de paz e leveza era nova, mas muito bem vinda.
— Loren? - Sirena me chamou erguendo elegantemente sua xícara até a boca para tomar um pouco do seu chá cítrico. — O que quer fazer agora que não está mais noiva daquele peso morto?
Parei e pensei. O que eu queria fazer? Essa era uma pergunta que ninguém me fazia há muito tempo. E eu abri um sorriso sem nem mesmo perceber.