Parei na frente de casa já deixando a moto ali mermo, tirei a chave dela e abri a porta.
Entrei em silêncio dentro de casa, me deparei com o Hariel na cozinha fumando de frente pra janela.
- cadê ela?- ele se vira me olhando mas logo volta dando um trago.
- tá dormindo- ele diz apontando com a cabeça pro quarto dele
Me aproximo da porta do quarto e coloco minha mão na maçaneta.
- acho melhor deixar ela dormir, ela não está muito bem não, depois tu troca ideia.
- oque aconteceu?- pergunto me aproximando dele.
- pergunta pra ela- ele joga fora o Beck e sai de perto de mim.
-tá fumando porque?- pergunto e ele da risada irônica.
- vai se fuder- ele sai de casa
Fico parado no mesmo lugar e vejo o Hariel saindo de casa, era madrugada, ele só saia essas horas quando estava mal, e ele fumando não era parada boa.
Tentei esperar, mas a hora parecia que não passava, e minha mente estava louca, tomei banho troquei de roupa, mas quando vejo aquela porta simplesmente abro, a porta faz barulho fazendo ela abri os olhos devagar me olhando.
Não consegui falar nada, mas só de ver ela ali bem, eu tinha me acalmado um pouco.
- oque foi?- ela pergunta me tirando do transe enquanto olhava ela.
- como tu tá?- pergunto e ela me olha e desvia o olhar.
- você parece cansado- ela diz fugindo do assunto - vem aqui- ela se afasta um pouco deixando um espaço do lado da cama para que eu deitasse.
Vou devagar até ela e me sento encarando a parede.
- fiquei preocupado contigo pô -ela me olha confusa- te fiz algo?
- não, eu te devo desculpas, fui grossa descontando a culpa em você.
- quer falar oque tá rolando?- pergunto olhando pra ela.
...
Ela me contava oque aconteceu enquanto eu fazia cafuné em sua cabeça. A criança estava magoada, isso era nítido, e eu nem sabia oque fazer pra ajudar pô.
- tu vai voltar pra lá?- pergunto curioso
- eu não queria, estou cansada de ser presa sabe- ela se vira me olhando.
- mora comigo - falei de vez sem pensar
Seus olhos me olhava sem acreditar no que falei.
- não posso, isso geraria mais confusão pra mim, as pessoas iriam pensar coisas de mim- ela se deita denovo no meu peito.
- tô te falando pô, não me importo oque o Zé povinho acha não, mas a proposta tá aí! Só basta tu querer- digo me levantando.
Não gosto desses papos da Ana não, tudo é "o povo vai pensar" deixa que pense pô.
- vai fazer isso?- ela se levanta de braços cruzados me olhando e eu me viro passando a mão no rosto.
- isso oque pô?
- toda vez que não gosta de algo, vai embora? Sempre vai ser assim?- encaro ela sem saber oque fazer.
- tô com a cabeça cheia Ana - digo me sentando - não gosto quando tu pensa no que o povo vai falar, bagulho chato.
- Gabriel, eu também estou com cabeça cheia, nem por isso tô descontando minha raiva em você - olho pra ela .
- mas descontou- digo e ela se lembra
- esqueci, mas mesmo assim, sei que você tá dane-se pro mundo e pra geral, mas eu não sou igual você! Imagina eu sou de igreja e tudo, aí do nada tô morando na casa do dono da favela! Já pensou nisso?
Ela nao me falou isso não né?
- a já entendi qual a tua- me levanto bolado- o bagulho é por causa que eu sou traficante né? Tu tá certa Ana, gente certinha igual você não deve se juntar com Bandido não - vou em direção a porta mas ela me segue.
- não foi isso quis dizer
- mas foi oque disse, fica Mec aí, por consideração a tu eu arrumo uma casinha pra tu ficar, ou se preferir volta pra casa da tua mãe e segue tua vida de crente e cada um pro seu lado- saio do quarto indo na varanda fumar.
A menina vem se desfazer do cara só porque sou traficante? Qual da fita porra.
- Gabriel!- nem me viro e continuo fumando meu Beck.- não foi isso que eu quis dizer cara.
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VIVAZ
FanfictionRet recebe a informação que tem moradoras novas no morro, era uma mãe e filha, as duas crentes, mas a primeira impressão de Ana e Ret não foi uma das melhores. Porém eles acabam criando uma aproximação, e descobrindo coisas passadas... 31/10/23