29.

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 Parei na frente de casa já deixando a moto ali mermo, tirei a chave dela e abri a porta.

Entrei em silêncio dentro de casa, me deparei com o Hariel na cozinha fumando de frente pra janela.

- cadê ela?- ele se vira me olhando mas logo volta dando um trago.

- tá dormindo- ele diz apontando com a cabeça pro quarto dele

Me aproximo da porta do quarto e coloco minha mão na maçaneta.

- acho melhor deixar ela dormir, ela não está muito bem não, depois tu troca ideia.

- oque aconteceu?- pergunto me aproximando dele.

- pergunta pra ela- ele joga fora o Beck e sai de perto de mim.

-tá fumando porque?- pergunto e ele da risada irônica.

- vai se fuder- ele sai de casa

Fico parado no mesmo lugar e vejo o Hariel saindo de casa, era madrugada, ele só saia essas horas quando estava mal, e ele fumando não era parada boa.

Tentei esperar, mas a hora parecia que não  passava, e minha mente estava louca, tomei banho troquei de roupa, mas quando vejo aquela porta simplesmente abro, a porta faz barulho fazendo ela abri os olhos devagar me olhando.

Não consegui falar nada, mas só de ver ela ali bem, eu tinha me acalmado um pouco.

- oque foi?- ela pergunta me tirando do transe enquanto olhava ela.

- como tu tá?- pergunto e ela me olha e desvia o olhar.

- você parece cansado- ela diz fugindo do assunto - vem aqui- ela se afasta um pouco deixando um espaço do lado da cama para que eu deitasse.

Vou devagar até ela e me sento encarando a parede.

- fiquei preocupado contigo pô -ela me olha confusa- te fiz algo?

- não, eu te devo desculpas, fui grossa descontando a culpa em você.

- quer falar oque tá rolando?- pergunto olhando pra ela.

...

Ela me contava oque aconteceu enquanto eu fazia cafuné em sua cabeça. A criança estava magoada, isso era nítido, e eu nem sabia oque fazer pra ajudar pô.

- tu vai voltar pra lá?- pergunto curioso

- eu não queria, estou cansada de ser presa sabe- ela se vira me olhando.

- mora comigo - falei de vez sem pensar

Seus olhos me olhava sem acreditar no que falei.

- não posso, isso geraria mais confusão pra mim, as pessoas iriam pensar coisas de mim- ela se deita denovo no meu peito.

- tô te falando pô, não me importo oque o Zé povinho acha não, mas a proposta tá aí! Só basta tu querer- digo me levantando.

Não gosto desses papos da Ana não, tudo é "o povo vai pensar" deixa que pense pô.

- vai fazer isso?- ela se levanta de braços cruzados me olhando e eu me viro passando a mão no rosto.

- isso oque pô?

- toda vez que não gosta de algo, vai embora? Sempre vai ser assim?- encaro ela sem saber oque fazer.

- tô com a cabeça cheia Ana - digo me sentando - não gosto quando tu pensa no que o povo vai falar, bagulho chato.

- Gabriel, eu também estou com cabeça cheia, nem por isso tô descontando minha raiva em você - olho pra ela .

- mas descontou- digo e ela se lembra

- esqueci, mas mesmo assim, sei que você tá dane-se pro mundo e pra geral, mas eu não sou igual você! Imagina eu sou de igreja e tudo, aí do nada tô morando na casa do dono da favela! Já pensou nisso?

Ela nao me falou isso não né?

- a já entendi qual a tua- me levanto bolado- o bagulho é por causa que eu sou traficante né? Tu tá certa Ana, gente certinha igual você não deve se juntar com Bandido não - vou em direção a porta mas ela me segue.

- não foi isso quis dizer

- mas foi oque disse, fica Mec aí, por consideração a tu eu arrumo uma casinha pra tu ficar, ou se preferir volta pra casa da tua mãe e segue tua vida de crente e cada um pro seu lado- saio do quarto indo na varanda fumar.

A menina vem se desfazer do cara só porque sou traficante? Qual da fita porra.

- Gabriel!- nem me viro e continuo fumando meu Beck.- não foi isso que eu quis dizer cara.

VIVAZOnde histórias criam vida. Descubra agora