Capítulo 6

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Falcão - Rio de Janeiro, 15 de fevereiro, Complexo da Maré. Noite do mesmo dia.

- Tá tudo certinho, patrão. Tudo contado! - DG falou e eu assenti pegando o papel da mão dele, li todos os detalhes e as anotações dele.

- Voltamos com tudo ein, DG. Quase mil quilos de maconha, vamo vender tudo hoje no baile. - falei tirando a pistola da cintura e colocando na mesa do meu escritório improvisado.

Por enquanto, todas as coisas aqui estão desse jeito, improvisadas, mas é só tempo até tudo se ajustar e voltar a ser como era antes. A gente tava forte, todo armamento pesado estava nas nossas mãos. Eu sou do crime mas eu não sou burro, peguei todos os armamentos dos vermes que morreram aqui no confronto.

- Vai metade pra casa do Danone, ele vai acabar rapidinho com isso. - DG zoou Danone que tava quieto na dele e fechou ainda mais a cara.

- DG pega lá pra mim meu celular no carro. - pedi entregando a chave do carro na mão dele e ele foi. - Qual foi, mané? - perguntei pro Danone que tava todo esquisito no canto da sala.

- Nada não, irmão. - ele falou passando a mão no cabelo e se levantando dando uma respirada funda.

- Porra, eu te conheço, vai mentir pra mim? - eu falei e ele me encarou.

- Poxa, cara. Eu esqueço que tu sabe ler minha mente. - ele falou e eu ri. - Aquela filha da puta da Maria tá acabando com a minha cabeça.

- Ainda ela? - perguntei e ele assentiu devagar. - Cara, tu tem que superar, se não ela vai ficar te fazendo de cachorrinho, acabando com teu psicológico.

- Eu sei, mas porra, eu amo ela pra caralho. - ele falou impaciente. - E ela fica me rejeitando. Com razão né, eu vacilei feio.

- Tu sabe o que eu acho disso, não sou a favor de traição, mas também não vou tomar partido de ninguém. O que aconteceu já tem quase três anos e vocês dois já mudaram a mente, tu era moleque, ás vezes ainda é, mas se tá disposto a largar a vida de cachorrada pra ficar com ela, vai na fé e conversa.

- Valeu, mané. Vou tentar bater um papo com ela, se ela parar pra me ouvir eu vou abrir o jogo. - ele falou mais calmo e olhou pro lado que tava as drogas. - Vou levar um, beleza? - ele falou e já foi pegando um tablete.

- Sessenta conto. - ele me olhou e ignorou. - Não paga não pra tu ver, vou te cobrar filho da puta.

- Eu sou seu sub, tu não pode me cobrar. - ele falou e eu dei uma gargalhada irônica. - Já tavam falando da morena na tua garupa hoje mais cedo.

Cocei a nuca e olhei pra ele que me encarava.

- Minha vizinha, pô. - falei e cocei a garganta.

- Vizinha. Sei. - ele me olhou desconfiado.

- Me amarrei no moleque dela, tavam no meio da troca de tiro sábado. - lembrei do carinha me chamando de tio Gavião.

- Ai, Falcão. - ele falou e eu olhei sem entender. Tá ficando maluco o cara.

(...)
Chegamos na quadra e a festa já tava rolando solta, os moleques estavam fazendo minha contenção, mesmo que não fosse necessário já que o morro tá tranquilo.

- Fala, chefe. O camarote já tá reservado pra tu. - um dos vapores falou e eu fiz toque com ele.

Subi pro meu camarote e percebi o quanto eu tava sentindo falta disso. Isso que eu chamo de liberdade. Já pedi logo pra trazerem as bebidas mais fortes pra eu me embebedar, mesmo que demore algumas boas doses pra que eu fique realmente bêbado. E eu já tô velho pra isso, ficar bêbado é coisa de jovem.

RENASCER [CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora