Capítulo 19

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Falcão. - Rio de Janeiro, 13 de março, Complexo da Maré.

Olhei meu relógio de pulso vendo que faltavam vinte minutos pra Natan sair da escola e eu fui logo agilizando o que precisava pra sair da boca. Daria tempo de buscar ele e voltar pra bater um papo com PH que era o cara da tecnologia, ele descolava qualquer coisa pra facção.

"Não gosto de pedir nada, mas tu pode ir sozinho lá buscar o Natan? Tô com almoço no fogo, achei que daria tempo ." - chegou uma mensagem de Carolina e eu ri.

"Deixa comigo, já chego aí com ele."
"Tá fazendo almoço pra mim também? Porque todo mundo já almoçou nessa casa menos eu."

Ela demorou mas respondeu.

"Porque você não quer, sempre tem almoço aqui."
"Quando trouxer ele, já fica e traz o Matheusinho."

Mandei um dedo e bloqueei o celular pegando a chave do carro e indo pra fora da boca.

Matheus tava de bobeira na porta e eu já puxei ele pra ir comigo buscar a cria.

- Tá de motorista particular hoje chefe? - ele perguntou e eu olhei pra ele.

- Tô cara. - respondi simples e fui dirigindo pra contenção na entrada do complexo. Eu já ficava com um pé atrás quando saía do morro e agora que tem essa lista rolando por aí, tenho que redobrar a atenção. Tudo é um risco.

- Carolina confiou em te deixar buscar o menor sozinho? - ele perguntou meio duvidoso e eu até entendo, Carolina é protetora demais com o filho e com razão.

- Se até tu tá abismado imagine eu. - falei e ele concordou.

O bom é que Carolina achou uma escola que ainda fica dentro do meu território, molho a mão dos policiais corruptos pra não ser pego aqui fora ao sair do morro, não que meu nome esteja sujo, eu já paguei pelos meus crimes, mas ainda assim sou procurado.

Estacionei a Mercedes na frente da escola percebendo que alguns pais estavam olhando. Saí junto com Matheus e ele veio tagarelando no meu ouvido.

- Bom dia, posso ajudar? - a funcionária perguntou cheia de medo.

- Vim buscar meu menor. Natan. - dei o nome como sempre via Carolina fazendo.

- Preciso ligar pra responsável dele pra que ela libere. Só um minuto. - ela pego um telefone e discou. Logo ela começou a falar e desligou virando pra mim de novo. - Desculpa, não sabia que era o pai do Natan. Vou liberar ele. - ela falou dando as costas.

- Porra, tio. Tu é o pai dele? - o fofoqueiro do Matheus perguntou e eu só concordei com a cabeça. - Tu e a Carol já...

- Não, porra. Pai de consideração. - eu falei e ele me olhou com os olhos cerrados.

- Mas bem que tu queria né, chefe? Eu vejo como tu olha pra ela. - ele falou e eu dei um pescotapa nele.

- Não viaja. Só assumi o menor, nada além disso. - ele concordou sem botar muita fé no que eu falava, nem eu botava fé. - Quem tá te dando essas intimidades todas? - eu perguntei e ele riu.

- Vou calar minha boca.

- Tio! - vi Natan correndo todo desengonçado com a mochila maior que ele nas costas e a lancheira na mão.

- Oi, moleque. - peguei ele no colo e beijei a cabeça dele.

- Oi, tio Matheus. - ele estendeu a mão fechada pra o outro dar um soquinho e Matheus fez isso.

- E aí, cara. Como foi a aula?

- Eu fiz um desenho, olha. - Natan pediu pra descer do meu colo e pegou um papel na bolsa. - Eu, a mamãe, a tia Maria e a tia Tamires, o tio Danone e o tio Matheus e o meu pai. A professora pediu pra eu desenhar minha família.

RENASCER [CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora