Falcão. - Rio de Janeiro, 26 de abril, Complexo da Maré.
Abri a porta da casa de Carolina e deixei Natan entrar, antes de entrar atrás dele.
- Carolina, precisamos conversar! - eu falei depois de Natan ter passado pra falar com ela e correu pro quarto pra tomar banho e trocar de roupa.
- Eita... O que houve? - ela perguntou franzindo a testa.
- Senta e me ouve, beleza? - ela assentiu e se sentou na cadeira da bancada, de frente pra mim. - Vamos precisar mudar Natan de escola.
- O que? Porque? Aconteceu alguma coisa? - ela perguntou meio desesperada.
- Mês passado eu recebi uns bagulhos e tinha uma lista no meio, meu nome lá com a minha cabeça valendo uma grana alta. - polpei ela dos detalhes da cabeça de Machado na minha mesa, mas mesmo assim ela fez uma cara espantada e eu continuei. - E nessa lista também tinha o nome do teu ex, Daniel. Ele também tava valendo uma grana e eu sabia da história que ele tinha morrido, por isso mandei um cara investigar essa parada pra mim, e eu descobri que ele tava vivo, a certidão de óbito era falsa e...
- Você já sabia disso há um mês e nem cogitou me falar? - ela perguntou baixo mas seu tom de voz mostrava que ela tava magoada pra caralho.
- Porra, tu tava bem, Natan tava bem e a gente tava numa boa. Eu não queria atrapalhar isso com os meus bagulhos.
- Seus bagulhos? Porra, Thiago. Tem a ver comigo também! Tem a ver com o meu filho, com a segurança dele. - ela falou levantando e me peitando.
- Eu sei, Carolina. Porque você acha que eu tava pegando no teu pé pra ir sozinho buscar ele no colégio? Eu queria te proteger e proteger ele, eu consigo fazer isso.
- Mas eu poderia saber, eu aguentei muita merda a vida toda, saberia lidar com isso também! - ela falou e eu suspirei passando a mão no rosto.
- Foi mal, eu sei que deveria ter te contado. Tu tava na tranquilidade, pensei que resolver sozinho seria mais fácil. - baixei a guarda e ela me olhou com os olhos cheios d'água.
- E o que aconteceu na escola? Porque Natan vai ter que sair? - ela perguntou.
- Eu tô sendo caçado, princesa. Foram atrás de mim lá na escola dele. Eu tô me sentindo culpado pra caralho porque a última coisa que eu quero é colocar vocês em risco. - eu expliquei e ela respirou fundo.
- Eu busco ele, ninguém me conhece. - ela falou dando uma solução.
- Não, Dan tava indo na escola dele e os caras viram Natan comigo, já ligaram uma coisa a outra e colocaram teu nome no meu. Não dá mais pra sair assim sem proteção, linda. Nossa solução vai ser trocar ele de escola, voltar ele pra escola do complexo.
- Mas aquela professora...
- Foda-se ela, Carolina. Agora ele tem um pai e eu vou matar qualquer um que mexer com ele. Tá me entendendo? - eu falei colocando meus olhos no dela. - Eu tô disposto a qualquer coisa pra manter vocês bem, porra. - falei mais baixo e ela foi se acalmando.
- Tudo bem, nós vamos ficar bem. - ela falou e se aproximou me abraçando. Coloquei minha mão na sua cabeça fazendo um carinho e a outra mão na sua cintura. Puxei seu rosto e beijei sua boca sem pressa, só curtindo o momento. Essa mulher é viciante demais.
Desgrudei da sua boca puxando seu lábio inferior entre os dentes e ela voltou a me abraçar escondendo o rosto no meu pescoço, sua respiração ali fazia eu me arrepiar de leve.
Paz. Era o que eu sentia. Mesmo em meio ao caos, mesmo afundado na merda, eu tava em paz.
Os braços de Natan rodearam nossas pernas e eu ri, pegando ele no colo e beijando seu rosto.
- Preciso ir pro trampo. - eu falei.
A gente combinou de não falar sobre o meu "trabalho" perto dele, eu até acho melhor assim.
- Não vai almoçar aqui, tio? - ele perguntou e eu neguei com a cabeça.
- Hoje não, menor. Mais tarde passo aqui e te levo pra gente jogar uma bola, beleza? - eu respondi e ele assentiu animado. - Tô indo lá, daqui a pouco apareço. Cuida da tua mãe ein moleque, obedece ela.
- Cuidado. - foi a única coisa que Carolina falou e eu beijei sua testa.
- Meu sobrenome, pô. - ela riu de lado e eu coloquei o menor no chão, saindo da casa.
Meu coração tava na mão, pô. Sensação esquisita de nada estar sob o meu controle, e eu não tava gostando não.
Atravessei a rua e troquei o carro pela moto que era mais prático, pilotei até a boca da principal e estacionei ela ali na frente vendo os meninos tudo conversando e perdendo tempo na entrada.
- Tão fazendo o que aqui, porra? Toda vez tem que mandar trabalhar, tão me estressando ein. - eu falei alto e eles foram circulando pros seus postos.
- Tua mulher dormiu de calça jeans essa noite, porra? Tá todo irritadinho. - DG falou quando entrei na minha sala e sentei na minha cadeira.
- E tu tá fazendo o que aqui bicho? Tem casa não? Hoje é tua folga e tu tá aqui me apertando. - eu falei e ele gargalhou.
- Tu gosta da minha presença, pode admitir. - ele falou e eu revirei os olhos.
Abri o computador pra ver onde estavam os carregamentos de droga e arma que chegaria essa semana, e vi que chegaria daqui dois dias.
- Já avisou pros caras da polícia que tem carga chegando? - ele negou com a cabeça me olhando e eu o olhei puto. - Mas esse é teu trabalho, se prenderem essa porra tu que vai pagar, tá ligado? - eu falei.
- Ei ei, o que tá pegando? Eu sei do meu trabalho, porra, precisa ficar me cobrando não. Tá de caô pro meu lado, Falcão?
- Tô de caô porra nenhuma, tu é meu parceiro, mas amigos, amigos, negócios a parte! - falei e ele se calou.
- Vou dar uma volta, daqui a pouco nós se tromba, chefe. - ele falou meio chateado e saiu me deixando sozinho.
Eu até tentei me concentrar no trabalho, mas minha cabeça tava lá naquelas armas apontadas na minha cabeça. Eu lembro que meu primeiro pensamento foi sair dali vivo porque agora tem gente que precisa de mim, Natan e Carolina. Se fosse antes de eu entrar em cana, eu não teria nada a perder, botaria pra cima dos caras e atiraria sem dó. Mas agora, eu tenho duas motivações que me fazem pensar duas vezes antes de me meter em perigo.
Tá foda.
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RENASCER [CONCLUÍDA)
RomanceCarolina conhece muita coisa sobre relacionamento, principalmente tendo passado pelas mãos doentias do ex abusivo, ela só conhece o lado negativo de se relacionar. Natan, seu filho, foi a única coisa boa que lhe aconteceu nesse período conturbado da...