Capítulo 48

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Carolina. - Rio de Janeiro, 19 de agosto, Complexo do Alemão. 17:30 PM.

Dia dos pais.

Eu tava nervosa.

Em três anos eu comemorei dia das mães e dia dos pais sendo válida pra essas duas datas, mas esse ano seria diferente. E se eu estava ansiosa, imagine Falcão.

Natan voltou pra escola, eu fiquei mais aliviada por não prejudicar os estudos do meu filho. Ele voltou a estudar na escola do complexo mesmo, e ele adorou. A professora que fez um comentário sobre a paternidade dele acabou pedindo demissão e isso me tranquilizou ainda mais.

A nova professora dele organizou uma apresentação para os pais da escola, e obviamente Falcão se animou logo.

Era bom demais ver meu filho sendo amado assim e era bom também me sentir amada. Falcão faz a diferença na nossa vida.

Meu desafio foi olhar pro meu filho todo arrumadinho, e não chorar pro vento. Ele tava com o corte de cabelo igual o de Falcão, e ele disse que não quer trocar e nem voltar pro cabelo antigo. Eu tava emotiva demais, essa data teria um novo significado pra gente.

- Tá pronto? - cheguei por trás de Thiago cheirando seu pescoço e ele se virou passando o braço pela minha cintura.

- Claro, princesa. Bora? Tô ansioso. - eu ri da sua animação e ele me olhou fazendo careta.

- Mamãe, a senhora vai também? - perguntou e eu neguei com a cabeça.

- Não, amor. Seu pai vai assistir você, no dia das mães eu tava lá, lembra? Agora é a vez dele. - eu falei e ele sorriu assentindo.

- Mas tu poderia ir né não? - Falcão falou e me deu um sorriso amarelo.

- Poderia, mas não vou. É com você. Grava tudo pra me mostrar depois. - ele revirou os olhos e beijou minha testa.

- Então vou indo, bora menor. - eles se despediram de mim e eu acompanhei os bonitos até a porta da frente vendo eles entrarem no carro e irem pra escola.

Eu decidi não ir, por dois motivos. Primeiro porque eu queria que meu filho não dependesse só de mim, e tivesse autonomia com o Thiago também. E segundo, esse momento era deles dois, eles estavam felizes e isso foi o suficiente pra deixar os dois a vontade.

A apresentação tava marcada pra três da tarde, e agora eram duas e quarenta. Aproveitei o tempo que eu tinha livre pra fazer uma faxina na casa e ouvir minhas músicas.

Eu já deveria ter voltado pra casa, mas quem disse que Falcão deixou? Eu dormi uma noite longe dele e o bonito apareceu de madrugada pra dormir comigo, maldito o dia que eu dei uma cópia da chave da minha casa pra ele.

Mas eu não vou negar que é bem melhor dormir com ele do que dormir sozinha, eu simplesmente me acostumei e ele também. Então por isso eu ficava mais aqui do que na minha própria casa.

Depois que terminei a faxina, eu fui tomar um banho e coloquei um shortinho de tecido e uma camisa de Thiago. Deixei meus cabelos secarem naturalmente e fiz minhas unhas também. Eram raros esses momentos sozinha então eu tinha que aproveitar.

Já tinham se passado duas horas e meia quando ouvi a porta da frente bater e fui ver quem era.

- Chegamos mamãe. - meu filho veio na cozinha e eu me levantei tendo a visão da sala.

Eu paralisei e meus olhos encheram d'água vendo os meus pais ali. Mas não tive reação, eu paralisei e meus olhos se arregalaram.

- Oi... - minha mãe falou emocionada também e eu olhei pra Falcão tentando entender.

- Eu vou deixar vocês conversarem. Bora tomar banho, menor. - ele falou e saiu de perto da gente me deixando sozinha ali na sala. Com as duas pessoas que eu achei que nunca mais veria na minha vida.

- Eu... - mal conseguia formular uma frase. - O que vocês estão fazendo aqui?

- A gente tava atrás de você, meu amor. - minha mãe falou do jeito dócil dela.

- Mas esse tempo todo? Já fazem quase sete anos. - eu falei desacreditada. - Meu Deus... - eu me aproximei deles que estavam abraçados.

- Nós perdemos contato com você quando você trocou de número, lembra? - meu pai se explicou e eu olhei pro meus pés.

- E como me encontraram? - eu questionei baixo.

- Esse homem conversou com a gente, pediu pra gente vir até aqui conversar com você. - eu vou matar Falcão.

- Vamos conversar, filha. - meu pai falou e eu apontei pro sofá calada, indicando pra eles sentarem, me sentei de frente pra eles em outro sofá.

- Nós sentimos sua falta! - minha mãe falou e eu abaixei a cabeça me segurando pra não chorar.

Eu não tava preparada pra isso, meus pais me deixaram sozinha pra viver a minha vida, Falcão não deveria ter feito isso. Ou poderia pelo menos me avisar.

- Você teve um filho. - meu pai falou e eu assenti só ouvindo o que eles estavam falando, sem falar nada. Eu tinha muito pra botar pra fora, mas não quero machucar ninguém. Eu não sou assim.

- Qual o nome dele? - minha mãe perguntou e eu respirei fundo.

- Natan. - falei e dei um sorriso de lado.

- Que nome lindo! Ele é lindo demais. - ela falou novamente se emocionando. - Ele é o pai? - ela perguntou apontando pra escada por onde Falcão subiu.

- Sim. - respondi simples sem muitos detalhes.

- O que aconteceu com Dan? - minha mãe questionou.

- Está morto. - falei me estressando, aquele diálogo não era confortável pra mim. - Desculpa se eu for rude, mas o que vocês realmente querem?

- Nós queremos te pedir perdão, meu amor. - meu pai começou. - Cada dia desses longe de você e sem ter notícias suas foi difícil demais. Nós nos arrependemos tanto de ter virado as costas pra você, filha. - ele falou.

- Eu...

- Primeiro nos ouça! - minha mãe me interrompeu. - Nós não esperamos que você nos perdoe assim tão facilmente, nós erramos com você. Não quero nem pensar no que você passou nas mãos daquele homem, mas a gente quer se reaproximar e reconstruir uma relação com você e a sua família.

- Você não é mais a menininha que saiu da nossa casa cheia de medo, você se tornou uma mulher e eu estou orgulhoso de ver isso. - ele falou e eu mordi a bochecha balançando a perna, meu corpo estava me dando sinais de que eu precisava sair dali urgente. - Como você tá? Conta pra gente o que aconteceu nesse tempo. - meu pai pediu e eu suspirei antes de começar.

- Eu tô bem, eu aprendi a me virar, aprendi a criar o meu filho e eu tenho a ciência que sou uma mulher foda pelo que eu vivi e pela forma como eu me livrei do que me atormentava. Eu criei meu filho sozinha, tive quase nada de apoio, e nos momentos mais delicados vocês fizeram falta. Mas eu superei e fiquei bem, assim como estou muito bem agora. - comecei a colocar pra fora o que estava preso há tempos, entalado na minha garganta. - Eu tenho uma família agora, tenho aprendido a cuidar deles, assim como tô sendo muito bem cuidada por pessoas que me amam e querem meu bem.

- Filha...

- Não. Agora é a minha vez de falar. - falei e eles assentiram concordando. - Eu perdôo vocês, mas eu preciso pensar se quero que vocês se reaproximem, porque eu me acostumei a viver sem vocês, eu me acostumei a ser sozinha e preciso realmente pensar.

- Tudo bem, nós entendemos. Mas pensa com carinho, pensa com calma e qualquer coisa nos ligue. Nós te amamos muito e sentimos sua falta. - ele falou e minha mãe suspirou.

- Eu vou ligar sim. - falei e me levantei cruzando os braços.

- Podemos te dar um abraço? - minha mãe pediu e eu assenti vendo eles se aproximarem. - Eu te amo, filha. - ela foi a primeira a me abraçar e eu senti falta demais desse abraço.

Meu pai também me abraçou e eu respirei seu cheiro, sem saber se aquilo era uma despedida ou um até logo.

- Eu levo vocês até a porta! - fui andando e eles saíram - Feliz dia dos pais. - falei e ele sorriu entrando no carro.

RENASCER [CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora