Capítulo 30

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Falcão. - Rio de Janeiro, 21 de abril, Complexo da Maré.

- É irmão isso aí, trás duas cartelas. - concordei no radinho com DG que pediu pra confirmar o meu pedido.

- Tá mal é patrão? - ele perguntou e eu revirei os olhos.

- Leva pra mim lá na boca, valeu. - eu falei ignorando o que ele perguntou.

Fiquei ali sentado na sala esperando Carolina ter a melhora dela pra eu poder sair, tenho uma reunião agora e depois eu volto pra dar o remédio dela. Eu normalmente iria tacar o foda-se, mas é a Carolina.

Carolina é diferenciada.

Peguei a chave da moto depois de uns quinze minutos com a cara enfiada no celular, mandei uma mensagem pra ela falando que ia sair e que era pra ligar qualquer coisa, e fui andando pro lado de fora de casa.

Acelerei a moto pra boca onde os caras já estavam reunidos, chamei geral aqui pra dar um aviso. Nesse um mês, o movimento aqui dentro tava a mil, quem via de fora achava que tava parado, porque a gente não fez baile e nem tá saindo pra meter o louco no asfalto.

Mas aqui dentro a gente tá movimentando. Tô toda semana em contato com PH pra ele me informar se teve mais alguma morte ou se o nosso informante da facção rival deu alguma notícia.

- E aí chefe, tava sumido. - um vapor me viu estacionando e veio puxar saco.

- Tô todo dia, o dia todo aqui, porra. Se tu não me vê, é porque tu que tá sumido.

Ele riu sem graça e veio entrando atrás de mim pra sala de reunião. 

- E aí, família. Bora logo pro que interessa, vou esperar ninguém mais não, quem é pra tá aqui já tá aqui. - falei e eles concordaram.

DG tava do meu lado esquerdo e Danone tava do direito. Eu sentei na cadeira na ponta da mesa, tinham uns dez caras ao redor que já tavam sentados.

- Bora lá. Essa semana foi baixo demais a venda de droga, e aqui no morro eu sei que os cara não compram. Mas agora a gente vai mudar a estratégia porque eu tenho que lucrar. - fui falando sério e eles me olharam prestando atenção. - A gente já vende lá fora infiltrado nas festas, mas sabe onde tem gente precisando de uma verdinha? Nas faculdades. Cheio de playboy estressado querendo desestressar.

- Então agora a gente vai vender nas faculdades? - algum deles perguntou e eu nem me dei o trabalho de olhar.

- Agora vocês vão se infiltrar dentro das faculdades, fazer contatos lá dentro, tem gente que paga até o triplo do valor comum do nosso bagulho. É só saber vender. - falei e eles me olharam meio relutante com minha ideia. - Qual foi? Não tão concordando? É só vazar, vocês já sabem qual é a saída do crime né?

- Não, Falcão. Que isso? A gente só tá estranhando, mas tamo de acordo, bora pra faculdade vender pra playboy então. - um deles falou e eu assenti.

Olhei Matheus quieto no canto me olhando.

- Ainda essa semana quero começar a infiltração. Bora geral trabalhar porque aumentando meu lucro, o salário de vocês aumenta também. - eu falei e eles começaram um falatório, falei de mexer no bolso deles aí os caras se empolgaram. - Tá geral liberado.

Esperei os caras saírem e mandei logo uma mensagem pra Carolina.

"Tá melhor, gatinha?" - ela logo respondeu.

"Tinha apagado, mas acordei agora com uma ansia horrorosa, mas tô bem. Preciso só do remédio pra ficar 100%"

"Já chego aí, princesa. Aguenta vinte que já chego."

Ela não respondeu mais e eu guardei o celular.

- Senta aí chefe, preciso trocar uma idéia contigo. É coisa séria. - ele falou meio tenso e eu fui caminhando pra perto dele.

A sala já tava vazia, DG deixou a sacola com o remédio na mesa e eu sentei de frente pra Matheus olhando bem na cara dele.

- Qual foi? - eu perguntei ajeitando a postura. - O que tá rolando? Tu tá desde o começo da reunião esquisito, te conheço menor. Desembucha. - pressionei ele que deu de ombros.

- É o seguinte, chefe. Eu recebi uma ligação ontem, depois que cheguei em casa. - ele falou e eu assenti prestando atenção no que ele tava falando. - Tem alguém doido atrás de ti, me fizeram uma proposta absurda e eu tenho quase certeza que é alguém de dentro porque colocou até o nome do Natan no meio.

- Qual foi a proposta, ein? - eu perguntei e ele respirou fundo.

- Primeiro tu vai me prometer que não vai querer me mandar pra vala, eu temo a minha vida. - ele falou e eu fiquei logo em alerta.

- O que tu fez, Matheus? - eu falei sério.

- Me ofereceram dez mil pra te entregar, pra dizer onde tu ia, com quem andava, quando que tu sai do complexo. Pediram cada passo teu.

- E tu deu informação? Sabe o que acontece com X9 aqui dentro né?

- Não porra, te considero pra caralho e não ia fazer um bagulho desse. Por mais que eu precise da grana, meu caráter não vale dez mil não, tá maluco? - olhei pra ele de cara fechada. - Foi mal, Falcão, esqueço que tu é meu chefe.

- Mas o que tem o Natan? Porque ele tá no meio?

- Porque disseram que já sabem do teu moleque e ameaçaram fazer uma visita na escola dele. - aí sim mexeu comigo. Porra, Natan não.

- Me dá teu celular. - mandei e ele nem questionou muito, só me deu o celular desbloqueado. - Cadê o número que ligou? - perguntei e ele apontou.

Tirei uma foto e mandei pra PH com a mensagem "Vê de quem é esse número aí pra mim, vou esperar resposta ainda hoje. Valeu!"

- Aí eu não dei nenhuma informação, não falei nada, te juro. Juro pela minha mãe. - ele disse meio desesperado e eu só assenti.

- Beleza, menor. Tô confiando em ti. - eu falei. - Mas tu sabe Matheus, tu sabe muito bem que eu tenho olhos e ouvidos nos quatro cantos dessa porra, e se tu tiver no vacilo comigo, vai ser cobrado e eu não vou ter pena não. - ele assentiu rápido e eu estendi minha mão pra ele apertar.

- Tá certo, chefe. Mas não tô no erro não, tranquilidade. - ele disse sem vacilar o olhar no meu e eu assenti.

- Beleza, menor. - me levantei e peguei a sacola de remédio, subi na moto e vazei pra casa.

RENASCER [CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora