Capítulo 17

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Falcão. - Rio de Janeiro, 01 de março, Complexo da Maré.

Puta que pariu. Caralho.

Nenhum homem tá preparado pra isso.

Eu achei que já tinha enfrentado de tudo nessa vida e que estaria pronto pra tudo, mas achei errado. Aquelas palavras entraram pelo meu ouvido e eu gelei, travei. Não sabia o que responder sem frustrar as expectativas de uma criança. Natan é um menino incrível e a pergunta dele me fez perceber o quanto ele está precisando de uma figura paterna.

Carolina passou a não ser mais suficiente pra ele, provavelmente por causa do que aconteceu na escola.

Porra, que situação.

- Falcão? - ouvi a voz da Carolina tão distante mesmo que ela estivesse na minha frente.

- Ein tio? - Natan cobrou uma resposta mas eu tava sem nenhuma noção do que responder.

- Posso bater um papo com sua mãe? Aí a gente vê, pode ser? - ele fez um bico e ameaçou chorar. - Ela só precisa saber ta bom? Eu vou te responder.

Ele assentiu secando o olho com a costa da mão e eu respirei fundo colocando ele no chão finalmente olhando pra Carolina.

- Bora bater um papo. - ela concordou rápido sem entender e fez sinal pra Maria continuar olhando ele por alguns minutos.

Eu fui pra casa dela e ela entrou na minha frente e enquanto eu ia pensando em como falar isso pra ela, com certeza Carolina não vai gostar nem um pouco disso.

- Então... - ela incentivou pra que eu começasse a falar e cruzou os braços.

- Natan perguntou se eu quero ser pai dele. - eu falei e me sentei no sofá.

- O que? - ela sussurrou e me encarou desacreditada. - Meu Deus, me desculpa Falcão, eu...

- Não, porra. Não tem que se desculpar não. - eu falei passando a mão no rosto e umedecendo os lábios.

- Mas isso não é coisa que se peça. Eu não imaginava que ele faria isso por causa do que aconteceu na escola, eu... nem sei o que falar. - ela começou a chorar e eu me levantei de novo abraçando seu pescoço e trazendo ela pro meu peito meio desajeitado.

- Natan é um menino de ouro, um moleque inteligente. - eu falei começando a abraçar a ideia.

- Não, para! Nem cogita essa possibilidade. Você não vai aceitar, é responsabilidade demais Falcão, nem pensar. - ela me afastou e enxugou o rosto com as costas das mãos e eu ri vendo o quão parecido Natan era com ela.

- E se eu quiser? - respondi.

- Não, você não quer! Você tá com pena, com peso na consciência porque ele pediu isso pra você. - ela negou com a cabeça.

- Não, Carolina. Eu quero porque quando ele me pediu isso, acendeu um negócio aqui dentro. - apontei pro meu peito. - Um instinto, pra proteger ele disso, de toda essa porra que falaram pra ele sobre ele não ter pai. Eu quero isso, de verdade.

- Mas um dia você vai perceber que fez uma escolha que não tem volta. E como vai ser isso? - ela enfrentou.

- Porra, eu sei. - segurei seu rosto com as duas mãos. - Mas confia em mim, Carol. Confia que eu não vou frustrar a expectativa que ele colocar em mim. Gosto pra caralho do teu filho e quero ter uma ligação com ele. Confia em mim.

- Não, Falcão. Isso é pedir demais, Natan viveu a vida quase inteira sem um pai e isso bastava. Eu bastava, não tem porque mudar isso de uma hora pra outra, e não é certo que você vá ficar perto dele. - ela falou e eu respirei fundo passando meus dedos por dentro do seu cabelo e aproximando meu rosto do seu, olhando no seu olho pra passar toda a confiança que eu precisava pra isso.

- Eu sou homem, e eu tô dando a minha palavra de que eu vou me aproximar dele pra que ele veja em mim o pai que ele sente falta. - ela fechou os olhos ainda sentindo meus dedos e eu no automático juntei minha boca com a dela em um selinho.

Ela não se afastou e nem se assustou como na ultima vez. Aquilo parecia tão comum, tão certo.

Me afastei antes que isso fosse longe demais e ela entendeu olhando nos meus olhos.

- Você tem certeza, Falcão? - ela perguntou mais uma vez e fez uma cara duvidosa. - Não quero dividir meu filho. - ela brincou fazendo uma cara de sofrida. Cínica.

- Ele já me divide com você e você nem percebe, otária. - falei abraçando sua cintura e ela riu.

- Eu tô falando sério! É novo pra gente, ter um homem na família. - ela falou e eu ri.

- Mas agora você tem que se acostumar. - eu falei e ela passou as mãos pelo meu peitoral e pareceu se lembrar de algo.

- Não tem nada a ver com o assunto de agora. Mas não briga com o Matheusinho. - ela falou e deu um sorriso torto.

- Matheusinho? Já estão íntimos assim? - eu brinquei e ela riu. - Mas porque eu não brigaria?

- Ele almoçou aqui hoje e disse que se você soubesse ia brigar com ele. Mas fui eu que chamei, ele tava com fome e eu alimentei. - ela falou rápido. - Você sabia que ele não tem ensino fundamental completo? Que abandonou por causa do trafico?

- Sabia dessa fita aí, ele não disse mas eu imaginei. Ele não sabe escrever direito apesar de falar bem. - eu falei lembrando que ontem pedi pra ele fazer uma lista de material pra boca e ele errou umas dezenas de palavras.

- Já podemos chamar ele pra conversar? - ela perguntou voltando ao assunto de Natan.

- Na hora. - ela assentiu e respirou fundo se preparando pra o que viria.

Carolina se soltou do meu abraço e foi na porta chamar o menor. Eu não vou negar, me deixou nervoso pra caralho. Mas eu vou encarar essa situação, vou assumir meus corres.

- Mamãe, eu acho que o tio Gavião não gostou do que eu falei... - ele falou do lado de fora e me viu dentro da casa.

- A gente vai conversar com ele sobre isso meu amor. - continuei o encarando e ele se sentou no sofá meio receoso.

- E aí, Natan. - eu falei e sentei do lado dele e Carol sentou na poltrona na nossa frente. - Tu me pegou de surpresa com tua pergunta. Mas eu conversei com sua mãe sobre a minha resposta. Eu quero. Quero ser seu pai.

- Sério mesmo? - ele nem escondeu o sorriso e eu também não.

- Sério. Eu quero conhecer você e me aproximar pra que você veja em mim um pai. Se estiver tudo bem pra você.

- Tá tudo ótimo pra mim! Tá tudo muito ótimo. Eu tenho um pai, eu tenho um pai, mãe. - ele falou todo animado e eu sorri pra Carolina que estava com os olhos cheios d'água. Toda melosa.

- Ele vai te conhecer filho.

- Eu sou o Natan, tenho 5 anos, sou filho do tio Falcão e sou flamenguista. - ele foi falando todo empolgado.

- A gente pode ver melhor essa questão de ser flamenguista. Tem que ser tricolor que nem eu. - eu falei.

- Isso é algo que você não vai conseguir mudar. A gente é flamenguista desde muito tempo. - Carolina falou.

- Vacilo isso aí. - falei e Natan riu me abraçando.

- Obrigado por isso tio. - ele falou baixinho e eu beijei sua cabeça.

RENASCER [CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora