Carolina. - Rio de Janeiro, 13 de março, Complexo da Maré.
Quatro dias pro aniversário do meu filho e está tudo uma loucura. Eu queria ser aquelas famosas ricas que deixam tudo nas mãos dos outros pra resolver. Mas sou só uma mãe assalariada que ama comemorar o aniversário do filho.
Nesse momento me encontro em uma loja de artigos de festa pra comprar o máximo de decorações possíveis do McQueen que é o desenho favorito dele, enquanto ele tá na escola. Falcão tá comigo, parece que não tem nada pra fazer.
Agora que Natan mudou de escola, tá tudo mais complicado, a escola é mais cara, fora do complexo, mas ele tem gostado e se adaptado, tem sido bom pra evolução dele, eu tenho feito esse sacrifício por ele.
Falcão disse que ajudaria com as despesas mas eu não aceitei, disse que conversaria com ele sobre o financeiro depois, mas não quero.
Estamos todos em adaptação com Falcão por perto, é estranho ver ele como uma figura paterna pro meu filho, mas se Natan estava feliz e se Falcão estava cumprindo seu papel, então tudo certo por mim.
Peguei os balões vermelhos e amarelos pra enfeitar e fui atrás de coisas pra fazer lembrancinha.
- Vai indo pro caixa, eu vou só pegar mais umas coisas. - falei e ele foi com a cestinha onde eu coloquei quase tudo o que precisava.
Peguei o que ainda estava faltando e fui pra onde Falcão estava, mas o bonito já tinha passado as compras e já tava pago. Muito palhaço.
- Eu falei que ia pagar, cara. - reclamei e ele me ignorou e foi pro carro.
Passei o restante das coisas e deu menos de vinte reais, Falcão pagou a maior parte das compras.
Fui pro carro também onde ele já me esperava e entrei jogando as sacolas no banco de trás.
- Não vai falar nada? - perguntei.
- Falar o que? Já paguei. - ele disse dando de ombros.
- A gente disse que ia conversar sobre essa parte. - eu respondi e ele virou pra me encarar.
- Mas eu não vejo porque conversar, eu já falei que quero participar de tudo e inclui o financeiro também mesmo que você não queira. - ele respondeu.
- Você não precisa, Falcão.
- Larga de ser orgulhosa, Carolina. Eu tô pra somar contigo pô. - ele me olhou e eu mordi a bochecha por dentro. - Tá entendendo? - ele se aproximou.
- Tô entendendo. - ele me olhou e ligou o carro, dando partida pra casa.
Meus pensamentos estavam a mil.
Nós compramos as coisas dentro do complexo mesmo depois de ter saído pra levar o Natan na escola. Falcão parecia tão animado quanto meu pequeno pra essa festa, segundo ele seria o primeiro aniversário que ele participaria e Natan obviamente já cobrou os presentes. Um playstation 5 e um carrinho de controle remoto. Claro que eu não deixei Falcão comprar um playstation ainda, mas ele garantiu que compraria o carrinho.
Tocava um pagode baixo no carro e eu cantarolava. Falcão colocou a mão na minha perna e eu encarei sua mão grande e tatuada e olhei pra ele em seguida vendo o sorriso de lado que ele dava, a cara do golpe.
Ele estacionou na frente da minha casa e eu abri a porta pra pegar as coisas no banco de trás. Ele também desceu pra me ajudar e foi entrando em casa com quase todas as sacolas e deixou só duas pra mim.
- Obrigada, Falcão. - falei quando entrei e fechei a porta.
- Acho que á essa altura tu já pode saber meu nome, né não? - ele falou e eu olhei pra ele estranhando.
- Posso? - perguntei curiosa.
- Pode, mané. Já tô incomodado contigo me chamando pelo vulgo. - ele falou e eu assenti esperando que o bonito me falasse o nome dele. - Thiago. Esse é meu nome. Thiago Falcão.
- Beleza, Thiago. Acho que vou demorar a me acostumar. - ele chegou mais perto abraçando minha cintura. A diferença de altura era clara entre nós dois, ele com mais ou menos 1,90 de altura e eu com 30 centímetros a menos, mas ainda assim estávamos próximos. Bem próximos.
"Chefe, cola aqui na boca. Tu precisa ver um bagulho." - o radinho dele tocou e ouvi ele bufando antes de me soltar e pegar o rádio na cintura.
- Preciso ir lá, gatinha. Daqui a pouco volto pra gente ir buscar o menor. - me deu um selinho e saiu da minha casa.
(...)
Falcão. - Rio de Janeiro, 13 de março, Complexo da Maré.- Qual foi, porra? - cheguei na boca puto da vida. Já falei pra esses caras não me incomodarem enquanto eu não estiver aqui. - Espero que seja alguma coisa muito...
Me calei vendo o que era e que caralho era aquilo?
- É a cabeça do Machado chefe. - Danone falou fazendo cara de nojo e eu troquei olhares com ele. - Jogaram lá na contenção da entrada.
- Quem veio deixar? - eu cheguei mais perto e tampei o nariz depois de sentir o cheiro podre vindo da cabeça do cara que tava meio inchada, mas dava pra saber que é ele.
- Carro preto, blindado, insufilmado. Só jogaram a caixa e vazaram. - DG respondeu e eu passei a mão na cabeça meio perdido sem saber o que fazer.
- Veio com um bilhete, chefe. - Piolho me deu um papel grande meio amassado.
Tinham vários nomes e do lado de cada nome tinha um valor. Machado era o único nome que tinha sido riscado da lista. O primeiro a morrer. Na hora entendi do que se tratava e me assustei ao ver outros nomes ali, incluindo o meu. Puta que pariu, eu não tenho um dia de paz.
- Chama o PH, diz que preciso do serviço dele. - eu mandei e voltei a ler a lista.
Eu tava valendo setessentos mil, e eu até entendo. Já tentaram me matar várias vezes e sem sucesso em nenhuma delas, é difícil me jogar na vala e os caras sabem disso. Danone e DG tavam valendo a metade, e ainda era muito. Caralho, como que eu vou saber de onde veio essa porra?
- Olha aqui, chefe. Lembra do cara que era ex marido da tua vizinha? - DG falou e apontou pra um nome.
"Daniel Rodrigues Castro (Dan) - 250.000"
Puta que pariu, isso não é possível.
- Mas ele já tá morto, DG. Porque não tá riscado na lista? - perguntei e ele deu de ombros.
- Será que ele tá morto mesmo? - ele perguntou e eu fiquei com uma pulga atrás da orelha.
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RENASCER [CONCLUÍDA)
RomanceCarolina conhece muita coisa sobre relacionamento, principalmente tendo passado pelas mãos doentias do ex abusivo, ela só conhece o lado negativo de se relacionar. Natan, seu filho, foi a única coisa boa que lhe aconteceu nesse período conturbado da...