Capítulo 16

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Falcão. - Rio de Janeiro, 01 de março, Complexo da Maré. 13:00 PM.

- E aí, como vai ser? - DG perguntou sobre a contagem das drogas que acabou de chegar.

- Tem que contar né, parceiro. Bloco por bloco. - falei olhando o movimento da rua na frente da boca.

Não dava pra entender porque as pessoas passavam e evitavam olhar pra cá, nenhum de nós dá medo.

Quase não reparei quando o furacão Carol passou na nossa frente soltando fogo pelas ventas. Mulherzinha do caralho essa. Poderia ignorar, mas ela quase jogou Matheus da moto quando ele passou perto dela oferecendo carona, o coitado tava só fazendo o trabalho dele.

- Não conta sem mim. - falei e me levantei indo pra perto dela que descia na velocidade. - Qual foi aqui?

- Não sei chefe, essa aí não roda bem não. O moleque dela falou alguma coisa e ela vazou da casa, falou que ia resolver um bo.

- E tu tava fazendo o que lá uma hora dessa? - ele deu de ombros todo errado.

Olhei pra Carol que foi dando as costas e voltando a andar puta da vida, ela virou a esquina da escola do menor e eu pensei em ir atrás com medo de ela botar fogo no lugar, eu não duvido de nada vindo dela.

- Matheus, vai pra boca e me espera lá, tenho serviço pra ti. - mandei e ele concordou descendo da moto e me dando a chave.

Subi e dei partida acelerando pra onde ela tinha ido. Virei a esquina bem na hora que uma funcionaria abriu o portão pra ela entrar. Parei a moto de qualquer jeito e desci indo pra onde a bonita tava indo.

- Carolina, porra. Espera! - ela olhou pra trás desacreditada que eu tinha ido atrás dela.

- O que você veio fazer aqui? - ela perguntou e eu nem sabia o que responder na verdade, foi no automático.

- Qual que foi a fita? Diz que eu resolvo! - eu falei e ela negou com a cabeça.

- Uma professora fez um comentário sobre o meu filho não ter pai. Mas não precisa resolver, já tô resolvendo. - ela virou pra ir em direção à secretaria mas eu segurei o braço dela.

- Ei, pô. Calma aí, eu assumo essa fita contigo. - ela me olhou sem entender.

- Não, Falcão. Fica aí, eu vou resolver, o filho é meu! - ela respondeu e pouco me deixou espaço pra responder porque se soltou de mim e foi andando pra sala da diretoria.

(...)

Carolina. - Rio de Janeiro, 01 de março, Complexo da Maré.

- Posso ajudar? - uma mulher veio me perguntar quando eu entrei na secretaria e a voz irritante dela me deu nos nervos.

- Pode, quero saber quem é a professora Raiane! - eu perguntei com puro ódio na minha voz.

- A professora Raiane não está no momento, mas é algo que eu consiga resolver?

- Pode ser então. Eu quero que me explique porque eu pago um absurdo pra essa escola cuidar da educação do meu filho e o trabalho de vocês não é feito direito. - haviam alguns pais na sala que olhavam torto pra situação mas eu pouco me importava. - Me diz porque a professora do meu filho fez uma piada ridícula acerca da sua paternidade e isso abalou a mente dele. Porque ele é uma criança, uma criança, porra.

- Peço que se acalme...

- Não vou me acalmar, quero essa mulher longe dessa escola. Quero a demissão dela. Porque ao invés de ensinar meu filho a fazer dever de casa, ela tava se preocupando com o pai dele. Isso é sobre a minha vida pessoal e não cabe a vocês como profissionais falar disso em sala de aula, pra outras várias crianças questionarem do meu filho quem é o pai dele.

- Pedimos desculpas pelo ocorrido, mas não será necessário a demissão dela. - a diretora falou e eu respirei fundo perdendo a pouca paciência que me restava.

- Então pode cancelar a matricula do Natan, porque eu prezo pelo bem do meu filho, e se ele não tá se sentindo bem aqui, é simples, ele vai pra outra escola.

- Senhora, nós podemos ver outra forma de solucionar essa questão e...

- Não, eu já solucionei. Espero que essa mulher não mexa com o filho de mais ninguém aqui. - falei e saí da sala batendo a porta encontrando com Falcão no corredor.

- E aí? - ele perguntou.

- Natan vai mudar de escola, eles se recusaram a mandar a professora embora. - eu passei a mão no rosto. - Pior que só tem escola fora do complexo.

- Não pô, vamo voltar lá. Deixa que eu resolvo. - ele falou e eu encarei ele respirando fundo.

- Não, Falcão. Precisa não, eu já resolvi e quero acabar logo com isso, vou pra casa ficar com meu filho que é o que eu faço de melhor agora.

- Ele tá como? - Falcão perguntou interessado e parecia até preocupado. Fui andando e ele veio caminhando do meu lado.

- Ele chorou, Natan quase não chora. Eu sabia que esse momento chegaria, mas não tava preparada. Ele vai perguntar pelo pai agora até ter uma resposta que o convença. - ele coçou o queixo e riu de algo que pensou.

- Diz que virou estrela. - ele falou e eu olhei com cara de poucos amigos.

- Dan virou qualquer coisa menos estrela, quem me dera poder falar o que realmente aconteceu, mas isso é conversa pra quando ele estiver maior. - respondi e Falcão riu.

- Ele é foda, menor firmeza, vai dar tudo certo. - ele disse e eu concordei com a cabeça.

- Eu espero. - Falcão passou o braço por cima do meu ombro e eu cruzei os braços quando saímos da escola.

Ele subiu na moto e eu subi em seguida agarrando a cintura dele porque sabia que ele era meio doido pilotando, e que bom que eu segurei porque ele arrancou com a moto e eu quase voei.

- Filho da puta. - falei baixo pra ele ouvir.

- Tu gosta que eu sei. - ele falou mais alto por causa do vento.

Em dois minutos chegamos na casa e logo vi Maria varrendo a calçada dela, ela tava de folga hoje e deixei Natan com ela pra ir resolver essa situação da escola dele.

- Tio Gavião! - ele gritou quando viu Falcão e eu ri. Mas dessa vez ele tava meio desanimado, Falcão pegou ele no colo e meu filho passou os dois braços ao redor do pescoço dele.

Natan falou alguma coisa baixo no ouvido dele e vi pela primeira vez Falcão ficar pálido e sem reação olhando pro pequeno em seu colo. Logo em seguida ele me olhou procurando uma resposta e eu o encarei sem entender.

RENASCER [CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora