Capítulo 38

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Falcão. - Rio de Janeiro, 27 de maio, Complexo da Maré. 07:40 PM.

Depois de um banho gostoso com a minha mulher, eu coloquei a mesma roupa que eu tava na noite anterior que tirei pra dormir e não sujar.

"Minha mulher"

Vocês repararam?

Porra, fico todo besta. Carolina me deixa assim meio aéreo, dá pra explicar não. E agora que a gente resolveu mesmo se juntar, tudo melhora.

- Matheus foi embora. - Carolina falou chateada quando chegou na sala e viu que a roupa de cama tava dobrada no sofá.

- Folgado. Mandei ele ficar aqui. - eu respondi e ela negou com a cabeça indo pra cozinha.

- Acorda Natan por favor, vou fazer o nescau dele. - ela pediu e eu fui pro quarto dele ver ele dormindo. O moleque já parecia um anjo, dormindo ficava ainda mais parecido.

- Ei menor... - ele se remexeu mas não acordou. - Natan. - cutuquei de novo e nada.

- Oi, tio Gavião. - ele falou na mesma posição com os olhos fechados e eu soltei uma risadinha.

- Bora tomar café, moleque. Vou te levar no campo hoje. - eu falei e na hora ele despertou e levantou.

- Vai mesmo, tio? - ele questionou sentado na cama e eu assenti. - Eu quero ir logo, vamos?

- Primeiro tem que comer, depois tomar um banho e depois nós vamos! - eu falei e ele entendeu.

- Tá bom, tá bom. - ele levantou se arrastando e eu ajudei pegando ele no colo.

- Bora lá ver tua mãe. - falei e ele concordou com a cabeça.

Fomos andando pra sala e Natan pediu pra ir pro chão, saiu correndo pra ver a mãe.

- Voltei, família. Foi mal, nem avisei. - Matheus entrou pela sala com uma sacola de pão e andando com dificuldade ainda. - Comprei aí pra nós.

- Tá maluco, Matheus? - Carolina perguntou preocupada e foi levantando a camisa dele pra ver os pontos que ela fez ontem. - Tu não pode sair assim não. Já pensou desfaz os pontos?

Carolina deu uma bronca nele e eu achei bem feito, ninguém mandou sair.

- Pô, mas fui só comprar o pão. Tem BO não.

- Senta lá na mesa, vai tomar café. Daqui a pouco a gente vai lá na tua mãe pra ela ficar sabendo da história. - falei sentando entre Natan e Carol. Matheus sentou no outro lado da mesa.

Peguei um pão pra não fazer desfeita, mas a verdade era que eu não sentia fome. Por mim, eu passava o dia na boca resolvendo BO sem comer nada, e eu tava aguentando. Mas aí sempre chegava uma mensagem de Carolina perguntando se eu ia almoçar lá com ela, eu nem tinha coragem de negar.

- O que tem pra eu fazer hoje, chefe? - Matheus teve a cara de pau de perguntar e eu encarei ele serinho.

- Teu trabalho hoje vai ser ficar o dia todo sentado. - eu falei. - Depois que tu comer vamo lá na tua mãe pra falar umas mentiras.

- Tio, mentir é feio. - Natan falou e só assim eu percebi que ele tava prestando atenção na conversa, Caroline me olhou de cara feia e eu mandei um beijo pra ela.

- Verdade, menor. A gente não vai mentir não. - eu falei e ele assentiu voltando a comer.

Comemos em silêncio e conversamos um pouco, mas deu a hora de ir pra boca. Eu não podia me ausentar mais.

- Preciso ir, família. Bora Matheus, vou te deixar lá na tua casa. - peguei a chave do carro e Matheus foi levantando. - Tchau, menor, daqui a pouco eu volto pra gente ir lá no campinho. - ele concordou todo feliz e eu beijei sua cabeça.

- Cuidado viu? - Carolina falou e eu beijei sua boca num selinho, sem me importar se veriam.

- Meu sobrenome, princesa. - ela riu e negou com a cabeça. - Qualquer coisa liga.

Saí dali e Matheus me olhou prendendo o riso.

- Tá amando chefe? - ele perguntou cheio de gracinha.

- Cala a boca, porra. Entra logo aí, depois tu fala. - eu falei e ele segurou uma risada entrando no carro.

Dirigi até a casa dele e desliguei o carro.

- Não precisa ir comigo não, chefe. Pode deixar que eu vou me resolver com minha velha. - ele falou antes de eu sair do carro e eu olhei meio relutante.

- Mas eu assumo a bronca, menor. - eu falei e ele negou com a cabeça.

- Eu resolvo, ela é de boa. O máximo que ela vai fazer é me xingar de todo nome que ela lembrar, mas tá de boa, eu já conheço a peça.

- Vai lá então, moleque. Se cuida e continua tomando os remédios que Carolina passou, se não ela vai tirar esses pontos aí na porrada. - ele riu e saiu do carro entrando em casa.

Dirigi pra boca, mas não tava afim de trabalhar hoje não, era um dia que eu queria ficar só de preguiça em casa. Mas quem disse que ser o chefe é só luxo?

(...)

- Oi, amor da minha vida. - Danone chegou na minha sala depois de eu ter feito a metade do que eu tinha pra fazer e eu revirei os olhos.

- Fala aí, Danoninho. - respondi e ele se jogou no meu sofá. Abusado.

- Novidades, parceiro? - ele riu já sabendo de alguma coisa. Carolina provavelmente falou pra mulher dele, e ele ficou sabendo. Um monte de fofoqueiro.

- Não, irmão. E tu tem alguma? - ele deitou a cabeça no encosto do sofá.

- Tenho mesmo, po. Meu parceiro tá na coleira, pai... - ele falou mais animado que eu, e eu estreitei os olhos. - Sabe quantos anos que eu não te vejo com mulher? Desde a Débora, aquela puta.

- Nem fala o nome dessa vagabunda perto de mim, ela me deu só estresse. - eu falei e ele gargalhou. - Ainda queria me meter o golpe da barriga, sou bem besta mesmo, confia.

- Quem queria te dar golpe da barriga? - a voz de Carolina soou no ambiente e Danone na hora calou a boca. Só assim pra esse filho da puta ficar quieto.

- Tá fazendo o que aqui? Cadê Natan? - falei me ajeitando na cadeira e desviando do assunto.

- Natan tá com a Maria, eu vim trazer os remédios que Matheus esqueceu lá em casa, não sei onde ele mora, vim logo aqui porque vocês devem saber.

- Beleza, daqui a pouco eu colo lá. - peguei da mão dela e ela deu as costas. - Ei pô, vai dar as costas assim mesmo?

Ela me olhou por cima do ombro e jogou um beijo, continuou andando pelo corredor até sair do meu campo de visão.

- Tu é um filho da puta, Danone. Pô, tá maluco? - falei bolado e ele gargalhou.

- Nasci pra te ver ter medo de mulher. - ele me zuou e eu dei o dedo do meio pra ele.

- Vai se foder, viado. - falei e ele saiu da minha sala rindo.

Voltei ao que eu tava fazendo e foquei em fazer o mais rápido possível pra sair logo daqui e ir levar meu moleque pra jogar bola, como prometido.

RENASCER [CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora