Capítulo 23

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Falcão. - Rio de Janeiro, 17 de março, Complexo da Maré. 20:30 PM.

Voei com a moto pra entrada do morro e cheguei lá vendo uma mulher andando de um lado pra outro toda acabada.

Ela tava cheia de olheiras, os cabelos todo pra cima, com as roupas frouxas. Esquisita.

- Qual foi aí, dona? - eu cheguei perto e Matheusinho veio pro meu lado.

- Eu quero ver meu neto. Quero ver ele, cadê o meu neto? - ela falou meio desnorteada, parecia fora do juizo.

- Que neto? Quem é? - eu perguntei sem entender nada.

- Natan. Eu fiquei sabendo que a Carol veio morar aqui, eu quero ver ela! Quero ver os dois.

Num instinto protetor eu só cruzei os braços e neguei a cabeça. Ligando um ponto ao outro não era difícil saber que aquela ali era a ex sogra de Carolina. Pelos olhos claros iguais ao de Natan e pela forma como ela chamava eles com tanta intimidade.

- Tu não tem que querer nada aqui não, e eu não conheço ninguém com esses nomes. Some daqui. - eu falei.

Se ela não sabia que Carolina morava aqui era porque Carol não queria ser achada. Não vou liberar a entrada dessa mulher pra ver meu menor se os olhos dela não me passam verdade nenhuma. Só maldade.

Mas a mulher deu uma de doida e avançou pra cima de mim fazendo meu reflexo ativar. Puxei rápido a arma na cintura e engatilhei apontando pra testa dela.

Os vapores apontaram as armas também e ela arregalou os olhos.

- Traz ela pra mim, eu sei que ela tá aqui. Eu preciso ver meu neto, hoje é aniversário dele. Eu trouxe um presente olha. - ela falou mais calma mostrando um embrulho azul, tranquila mesmo que minha arma tivesse apontada pra cara dela.

- Eu já falei dona. Vaza! - eu falei ríspido e pouco me fudendo pra o que ela tava falando, ela respirou fundo e saiu marchando sendo escoltada pelos meus caras.

- Porra, o que foi isso, Falcão? - Matheus perguntou e eu quase esqueci que eu trouxe ele. - Carolina vai ficar pilhada quando souber.

- Ela não vai saber, e se tu abrir tua boca, tu vai pra vala. - eu falei passando a mão no rosto. - Bora, circulando, volta pra contenção e vaza daqui quem é pra tá na boca. - falei alto ainda com a pistola na mão e eles obedeceram rapidinho.

Comecei a andar pra minha moto e Matheus veio atrás subindo na garupa.

- Puta que pariu, preciso de um cigarro. - eu falei antes de dar partida.

- Não não, tu precisa voltar pra festa. Quer que teu menor sinta o cheiro da tua maconha? - Matheus perguntou todo pra cima de mim.

- O chefe sou eu, Matheus. Dá um tempo! - eu falei e ele riu.

Dei partida na moto e fui pra casa de Carolina mesmo estando doido por um cigarro. Matheus me paga, ele que vai pagar minha maconha.

- Ah, voltaram. - Carol falou nos encontrando do lado de fora da casa e eu dei um meio sorriso. - E aí, quem tava procurando Natan?

Porra!

- Ninguém não, os moleques confundiram só. Tudo sobre controle. - Matheus passou por nós e deu duas batidinhas no meu ombro.

- Falcão... - ela falou num tom ameaçador. - É meu filho, o que aconteceu lá? - Carolina me dava medo quando falava nesse tom.

Mas que caralho, onde já se viu mulher me dar medo?

Nunca tive medo de nada, mas só de olhar pra Carolina com essa cara dela, já me subia um frio na espinha.

- Já falei, porra. Tudo sobre controle. - eu falei e botei a mão no bolso da bermuda.

- Thiago, você não sabe mentir. - ela falou baixo e séria.

- Porra, Carolina. To falando que não é nada, caralho. - falei mais alto e ela só me olhou com a cara fechada e virou as costas indo pra dentro da casa.

Só assim percebi a merda que fiz, puta que pariu. Hoje o dia não tá legal não. Só o que salvou foi a festa do Natanzinho.

- Ei, Carol. - tentei chamar mas ela não me olhou. E eu também não ia ficar atrás de ninguém.

- Tio Gavião, eu tô cansado. - Natan chegou perto de mim todo murcho do lado de fora da casa e eu peguei ele no colo.

- Brincou demais ein, moleque! - ele riu.

- Foi muito legal o meu dia, obrigado, tio! - ele falou e eu ri pra ele. - Eu queria que fosse meu aniversário todo dia.

-Mas não seria tão da hora se fosse todo dia. - eu falei enquanto andava com ele no colo pra dentro da casa.

Os convidados já estavam saindo e Carolina foi se despedindo de um por um e Natan só acenava pra eles sem querer descer do colo.

- Tô indo, amor da titia. Qualquer coisa grita que eu venho. - Maria falou e beijou a bochecha dele. Tamires fez a mesma coisa e foram embora. Danone e Matheusinho também estavam de saída, os dois me deram um olhar de aviso e falaram com Natan antes de ir.

Foi cerca de vinte minutos até que todo mundo tivesse ido embora e sobrasse só eu, Carol e Natan dentro da casa.

Carol nem tava olhando na minha cara e com razão, gritei com ela.

- Porque a mamãe tá emburrada? - Natan perguntou.

- Não sei, menor. Ela deve ter se irritado com alguma parada. - eu falei olhando ela pela janela da casa, o mesmo lugar que Natan tava olhando. - Bora lá que tua mãe vai te dar banho.

Ele concordou e eu coloquei ele no chão, não demorou nem dois minutos e o moleque já tava em baixo do chuveiro.

Carolina passou por mim na sala, sem falar um pio, passou com uma sacola de lixo pra fora. Observei ela indo e entrando pela porta de novo.

Ela ia passar direto por mim de novo, mas segurei seu braço sem muita força pra não piorar a minha situação.

- Carol, fala comigo. - eu falei e ela me encarou com raiva.

- Você vai conversar comigo que nem gente? Sem gritar? Porque eu não sou surda. - ela falou e se soltou de mim.

- Porra, foi mal. Não queria ter gritado contigo, princesa. - eu falei na tranquilidade e ela me olhou.

- Mas gritou! E eu não admito isso, você pode gritar lá com seus caras, mas comigo não e muito menos dentro da minha casa, eu não vou permitir. - ela falou baixo mas transpirando ódio.

- Me perdoa, morena. Descontei meu estresse em tu. - eu falei e ela respirou fundo.

- Não faz isso de novo, se não pode esquecer Natan e ficar longe da minha casa. - ela falou e eu puxei a bonita pra um abraço onde ela relutou de início mas logo me apertou e deitou a cabeça no meu peito.

RENASCER [CONCLUÍDA)Onde histórias criam vida. Descubra agora