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Victoria De Angelis

Dia vinte e nove de abril de dois mil e oito, às sete e trinta e seis da manhã, foi o momento exato em que os olhos da minha mãe perderam a vida. Um dia depois do meu aniversário de dezoito anos. Vítima fatal de uma doença suja.

Mamãe foi diagnosticada com câncer de pulmão semanas depois que eu tinha partido para para a Califórnia, quando de repente passou muito mal no trabalho, chegando a desmaiar. Seu quadro era terminal, o câncer estava muito avançado e nenhum tipo de tratamento funcionaria nesse estágio. O médico disse que ela teria pouco tempo até que essa doença a levasse.

Durante três meses cuidei da minha mãe em casa. Assistimos os seus filmes antigos favoritos, escutamos as suas músicas preferidas, ela me ensinou todas as suas receitas culinárias, olhamos centenas de vezes os álbuns de fotos que ela guardava no canto do seu guarda-roupa, desfilamos com as roupas uma da outra pelo corredor de casa, trocamos segredos e sentimentos mais profundos, contamos as piores piadas  e cantadas que já tínhamos ouvido falar, fizemos tudo o que estava no nosso alcance.

Mesmo depois de tantos acontecimentos e tendo temor de voltar para a Itália, meu pai insistiu em passar o máximo de tempo possível, por causa do seu trabalho, com ela. O homem passou os três meses indo e voltando de Los Angeles para Roma e vice-versa. Minha mãe não relutou a ter a sua companhia, ela não queria desperdiçar o pouco tempo que tinha. Então, os dois tiveram os seus próprios momentos juntos. Algumas vezes, quando eu me juntava à eles, sentia que tudo tinha voltado ao normal. E eu me permiti acreditar nisso até o último dia.

Nesse meio tempo, mamãe conseguiu assistir todas as performances da banda. Eu a levava para todo lugar que o Måneskin se apresentava. Ela adorava os garotos. Dizia que a dor passava quando ouvia nossa música.

Nos seus últimos dias, segurei sua mão até o fim. Era uma manhã ensolarada quando ela se foi. O sol beijava suavemente sua pele pálida através da janela do seu quarto e seus olhos azuis se misturavam com a cor do céu, se escurecendo na medida em que os seus olhos se fechavam. Quando me despedi dela, eu sabia que uma parte de mim iria com ela. E realmente foi.

Aos dezoito anos me vi sem vontade de sair de casa, perdi a vontade de fazer qualquer coisa. Naquele período, havia algo quebrado em mim e eu não sabia como me consertar. Os garotos me ajudaram muito, mais do que realmente precisavam, eu não queria ser inconveniente, cada um tinha a sua vida para cuidar. Meu pai me ligava e vinha me visitar sempre que podia, também chegou a oferecer para que eu fosse morar em Los Angeles com ele, mas eu não iria conseguir sair daqui. Não enquanto o cheiro dela ainda estivesse aqui.

Comecei a ter sessões de terapia constantes e voltei a ter acompanhamento psicológico, o que ajudou  muito com o meu luto e a minha ansiedade. Os medicamentos já eram outra história. Eu sempre odiei tomar remédios para ansiedade, evitava ao máximo tomar qualquer tipo de medicação que deixasse o meu corpo e mente entorpecidos, ou o mínimo disso. Eu precisava das engrenagens da minha cabeça funcionando a todo vapor para trabalhar com a banda, me obrigando a descartar qualquer medicamento calmante no cotidiano. Porém, eu ainda tinha algumas cartelas guardadas para casos extremos e emergências.

Mas minha única salvação foi a música. Compor letras com Damiano, usar todo o meu tempo para a banda e me dedicar ao máximo. E hoje eu vejo o resultado de todo o esforço.

Tenho certeza que ela ficaria orgulhosa de mim.

(...)

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