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Victoria De Angelis

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Victoria De Angelis

Los Angeles - Califórnia | De Angelis House

- O que você estava pensando? Você sabe o quão rápido essas notícias viralizam? Tem paparazzis de tocaia no lado de fora dos portões!

Eu andava em passos apressados pelo extenso corredor que ligava as escadas até o último quarto, o qual me pertencia. Após meu pai mandar Tom retornar para a casa de Ben e dispensar Thomas, ele me escoltou silenciosamente até estarmos dentro de casa. O homem loiro me seguia como um fantasma atormentando enquanto gritava, quase rosnando, em meus ouvidos algo sobre como eu posso ser tão irresponsável e como eu poderia causar mais problemas. Minha cabeça já estava doendo de tanto escutar seu sermão acusatório. Eu estava farta.

- O que a sua mãe te ensinou?

Meus pés travam no chão. Eu já estava a alguns centímetros da porta do meu quarto e com a mão indo de encontro com a maçaneta, quando o meu corpo inteiro ficou estático. Lentamente, giro nos calcanhares para encarar meu pai. Ele tinha os olhos duros, como eu nunca tinha visto antes. E com certeza, se olhar matasse, eu já estaria enterrada a sete palmos do chão. Seu cenho estava franzido severamente e seus lábios pressionados um no outro com tanta força, que deixava a vista algumas linhas em volta da sua boca. Infelizmente, eu sabia que ele era o meu espelho, sentia a mesma carranca formada em meu rosto.

- O que disse?

- Scarlett ensinou você a agir desse jeito? - ele refaz a pergunta com um olhar presunçoso.

Respiro fundo.

- Quem você acha que é para falar sobre a minha criação? - digo entredentes - Você é a última pessoa que tem o direito de mencionar algo sobre a minha criação ou sobre a minha mãe.

- Claro que tenho direito. Você é minha filha, Victoria!

- Não! Você deixou de ser o meu pai à nove anos atrás quando foi embora, e adivinha só, Victor, minha mãe conseguiu me criar sozinha e com a ajuda de ninguém. Ela me ensinou valores, lições sobre a vida, a ter respeito e empatia, me ajudou a construir o meu caráter e nunca, jamais, me deixou. Mas a questão não é só sobre mim, e sim sobre ela. Você sabe como foi difícil para ela depois que você se foi?

- Estou ciente disso, Victoria, mas você não sabe o quão difícil foi para mim também. As escolhas que tive que fazer, o caminho que fui obrigado a percorrer. Minha consciência pesa até os dias de hoje. - meu pai dá um passo para frente - Eu sei que você não entende, e sei o quanto sua mãe...

- Não, você não sabe. - dou um passo para trás - Não sabe o trabalho que ela passou para me dar o melhor e nunca me deixar perceber o quanto não estava sendo fácil, ou quando ela me deixava escondida embaixo da mesa do escritório do seu emprego, durante a tarde, porque não confiava o suficiente em alguém para cuidar de mim, e no esforço que ela fazia nos meus aniversários porque sabia o quanto eu sentia a sua falta. Então não, Victor, você não sabe de porra alguma!

Eu estava gritando, berrando, sentindo a minha voz falhar a cada duas palavras, um bolo se formava em minha garganta e a única escolha que eu tinha era engolir para continuar firme. Meu rosto molhado e anestesiado, meus olhos quase não enxergavam sob tantas lágrimas. E eu estava ali, desabando todos os sentimentos reprimidos por anos diante do homem que levou um pedaço do meu coração embora.

- Quando você se foi, eu te esperei por meses. - passo os dedos pelas bochechas tentando limpar as lágrimas novas - Todo dia, no mesmo horário, na hora que você chegava em casa após o trabalho, eu te esperava na porta. - sorrio sem emoção e ele abaixa o olhar - Eu tinha tanta convicção que você passaria por aquela porta como todos os dias anteriores, com um sorriso largo, olhos cansados enquanto afrouxava a gravata e vinha na minha direção para me dar aquele abraço cheio de saudade. Mamãe nunca me disse que você não voltaria, eu percebi isso sozinha. Deve lembrar quando me ligou pela primeira vez, dois meses depois da sua partida, era o meu aniversário. Você chorou no telefone, dizendo que sentia muito. Foi só então, que eu me dei de conta que não te veria mais. E eu estava certa.

Uma risada involuntária e incrédula escapa entre meus lábios, fazendo seus olhos se voltaram para mim. Me forço a engolir mais um bolo que se formou em minha garganta e respiro fundo uma, duas, três vezes quando meus pulmões decidiram se recusar a trabalhar. Já que minha velha companheira estava querendo dar um olá, aquela seria a hora certa de contar sobre ela.

- Com o passar do tempo, conforme eu crescia, senti que você foi se tornando menos presente na minha vida, as ligações foram diminuindo e as notícias sobre você também. Era estranho ver outros pais indo buscar seus filhos na escola e os levando para tomar sorvete no outro lado da rua, como você costumava fazer comigo. Só que nessa situação, eu sempre fui a garotinha que ficava no banco esperando, vendo todo mundo voltar para casa e sendo a última a ir embora, porque mamãe sempre se atrasava por causa do trabalho. - dou uma breve pausa para analisá-lo e respiro fundo mais uma vez - Aos quatorze anos fui diagnosticada com transtorno de ansiedade generalizada. No começo os sintomas não eram perceptíveis, mas tudo mudou quando minha mente amadureceu e eu, finalmente, entendi o peso das emoções. Os ataques de pânico começaram. Passei por alguns psicólogos, até achar um que entendesse o meu caso. Foi só então que aprendi a lidar com a ansiedade, se assim posso dizer, com a ajuda de remédios e algumas técnicas de concentração e respiração. Mas ela ainda está aqui. - aponto para minha cabeça - Ela não vai embora e é tudo culpa SUA!

Sem perceber, eu estava avançando até o homem em passos largos, quase correndo, e cega pela raiva. Eu enxergava vermelho e meus ouvidos ficaram surdos, minha falta de autocontrole era visível.

Li em seus lábios o meu nome ser chamado várias vezes enquanto eu me dirigia até ele. Eu sabia que ainda estava gritando, xingando, praguejando, ameaçando, jogando coisas pesadas em cima dele, mas minha audição foi totalmente bloqueada, pois não conseguia nem entender o que eu mesma dizia. 

Eu queria despejar toda dor que ele me fez sentir ao longo dos anos, toda raiva, todo choro, toda culpa e todo remorso. Meus punhos foram de encontro ao seu peito uma vez, outra vez e mais uma vez.  Mas ele não se movia, não se defendia, não pedia para parar. Então, senti uma lágrima cair nos nós dos meus dedos. Mas a lágrima não era minha. Era dele. Meus gritos se fundiram em um soluço estrangulado e minhas mãos agarraram o terno dele. Eu estava exausta.

Meu corpo cansado cai contra meu pai, enterrando meu rosto em seu peito trêmulo e manchando sua camisa perfeitamente passada com lágrimas severas. Sinto seus braços me envolvendo suavemente, me segurando perto enquanto ambos deslizavam pela parede e caíamos no chão.

Ele me abraça com força e passa os dedos pelos meus cabelos, jogando alguns fios para longe do meu rosto grudento. Eu não tinha ideia de quanto tempo ficamos assim. Ele me abraçando e sussurrando alguns "Eu estou aqui" e outros "Vai ficar tudo bem", enquanto eu ainda berrava e sujava suas roupas caras com lágrimas. Não tinha ideia de quantas vezes seus braços se apertaram ao meu redor, me esmagando contra seu corpo cada vez que outro grito escapava da minha boca.

- Eu sinto muito.

Mas eu sabia que, dessa vez, meu pai estava lá.

AFFAIR | Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora