Capítulo 3

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Valéria.

Eu ainda não acredito no que eu fiz.

Eu me vendi pra um traficante preso. Eu só posso estar ficando louca mesmo.

Mas eu tenho meus motivos. Assim que saí do presídio eu me lembrei do porque eu tava ali, foi só ver o valor altíssimo que caiu na minha conta bancária, e eu me lembrei. Era tudo por ela. Não veria mais a minha filha chorando de fome e nem passando nenhuma necessidade.

Eu pedi um carro por aplicativo, pra me levar na entrada do morro, pelo menos eu não precisaria andar até a parada pra pegar ônibus.

Me olhei no retrovisor dentro do carro e tive vergonha das marcas que estavam em mim. Meu pescoço estava marcado de leve, mas eu sabia que meus peitos estavam piores, com marcas roxas profundas.

Minha bunda então... nem se fale, deve estar cheia de marcas da mão dele em mim. E só de pensar em como aquelas marcas pararam ali, eu senti as borboletas no meu estômago se agitarem. Eu gostei. Essa foi a pior parte.

Eu gostei de ter transado com ele, foi um sexo bom. Achei que seria um terror, achei que seria ruim. Mas meu corpo espasmando duas vezes com certeza disse o contrário. E o traiçoeiro com certeza iria se gabar por isso.

Eu nunca gozei na minha vida, aquilo era novo pra mim. Mas eu me sentia suja por ter gostado, eu só queria chegar em casa e tomar um banho pra tirar toda essa sensação de mim.

Cerca de uma hora depois, eu estava pagando o motorista que tentou de todas as formas puxar assunto, perguntou até se eu era parente ou mulher de algum detento, mas minhas respostas foram quase vazias, entre sim e não. Eu desci do carro, e subi até o mercado próximo de casa.

Peguei tudo o que sempre quis pegar, mas não tinha dinheiro. Meu olho encheu d'água, eu sentia vontade de chorar, mas não aqui no meio do mercado. Peguei coisas pra minha filha, tudo o que ela gostava de comer. Na verdade a maioria das coisas no carrinho eram pra ela, eu comprei só o básico pra mim.

Passei pelo caixa com o carrinho pra pagar e suspirei levando todas as sacolas pra minha casa que ficava há duas ruas dali. Infelizmente precisei passar na frente da boca e Fogo tava ali, me olhou com um sorriso debochado sabendo exatamente de onde eu vinha. Quem sabe disso é somente ele, e pretendo que continue assim. No morro, qualquer uma se entrega fácil pros caras que trabalham na boca, não quero ser mais uma entre elas. Não quero ser taxada de puta e marmita de bandido, porque são esses apelidos que eu ouço quando rodo pelo morro.

Entrei em casa depois de alguns minutos de caminhada e joguei as compras no sofá. Tirei minha camisa e fiquei de sutiã arrumando todas as compras de olho no horário, tinha que buscar minha filha antes de meio dia.

Fiz um almoço rápido, um arroz com feijão fresquinho, e bife com salada. Tudo fresco, eu estava tão animada, mesmo que tivesse um conflito interno dentro de mim me dizendo que eu estava fazendo o errado. Tomei um banho rápido, coloquei um short e uma camisa sem decote que tampasse todas as marcas no meu colo.

Desci de novo o morro, indo pra escola de Milena. Ela já estava me esperando com a mochila nas costas e conversando com uma professora que ouvia atentamente o que ela falava. Ela era uma tagarela, falava pelos cotovelos e conversava com os outros como se fosse uma adulta. Com quatro anos, ela é meu maior orgulho.

Meu peito dói de imaginar ela crescendo e olhando pra mim com vergonha pelo que eu tô fazendo por ela hoje. Mas qualquer coisa eu faria por essa menina, qualquer loucura. Assim como eu já estou fazendo.

Subimos pra casa enquanto ela ia me contando tudo, todas as coisas que fez na creche, e eu ouvia tudo concordando com algumas coisas e respondendo quando ela pedia minha opinião sobre algo. Logo chegamos em casa e eu abri a porta pra ela entrar, ela deu um grito super animada pela surpresa que eu preparei deixando duas bonecas novas em cima do sofá, ainda dentro da embalagem.

- Mamãe, é meu? - ela perguntou e mais uma vez me deu vontade de chorar.

Que merda, tudo tem me deixado emotiva hoje. São muitas sensações no mesmo dia.

- É seu, minha princesinha. Gostou?

- Eu amei! Mãe, você é a melhor, elas são lindas, é a Melu e a Mali. - ri dos nomes das bonecas e ela foi logo abrindo as caixas pra brincar.

Esquentei toda a comida de novo e chamei ela pra comer, Milena ficou encarando o prato e me encarou em seguida. Já sabia que ela ia perguntar alguma coisa.

- Foi a tia Hanna que trouxe comida pra gente? - ela questionou.

- Não amor, eu comprei. A mamãe tá... trabalhando. Vai dar pra segurar as pontas. - eu dei um meio sorriso e ela assentiu pegando a colher e começando a comer.

Eu mal comi, olhava Lena toda feliz e sabia que minhas escolhas tiveram aqui uma recompensa. Era gratificante demais ver a minha princesa toda animada comendo, eu queria ver ela assim todos os dias.

Terminei de comer e Lena pediu pra dormir com as bonecas, levei ela pra minha cama e não demorou muito pra ela dormir. Eu trataria de comprar uma cama pra ela, e roupas também, e muitas outras coisa que estávamos precisando. E eu poderia fazer as minhas unhas, minhas sobrancelhas que há anos era Hanna quem fazia, mesmo que não tivesse nenhum curso na área.

E eu guardaria uma quantia pra caso algo acontecesse.

Ainda sobraria muito dinheiro.

Dinheiro sujo. - minha mente me lembrou e eu fechei os olhos espantando qualquer pensamento que viesse me atormentar.

VISITA INTIMA - Além do Sexo [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora