Valéria Dantas.
Meus olhos doíam pra abrir, minha boca tava seca, minha garganta doía, meu braço estava com acesso na veia. Eu sabia que estava no hospital.
As memórias voltaram de imediato fazendo a minha cabeça latejar. Minha loja pegou fogo, eu quase morri. Eu tinha que saber das meninas que trabalham comigo, será que elas estão bem?
E Lena, com quem ficou nesse meio tempo? Ela tava na escola quando tudo aconteceu.
Me mexi um pouco pra tentar olhar ao meu redor, mas estava difícil. Tudo doía, principalmente pra respirar.
Tinha também um acesso de oxigênio ligado no meu nariz, provavelmente porque eu inalei muita fumaça.
- Oi, preta... - ouvi a voz do Russo no canto da sala e logo senti sua presença perto de mim.
- Hum... - eu não conseguia falar.
- Fica quieta aí, pô. Vou chamar um médico. - ele apertou o botão e eu só fiquei ali com os olhos ainda fechados, tentando reagir.
Ouvi os ruídos da porta abrindo e passos pra dentro da sala.
- Ah, ela acordou! - o doutor falou acompanhado de mais um enfermeiro.
Consegui abrir metade de um dos meus olhos, a claridade era quase insuportável.
- Só me confirma o que você tá sentindo, fazendo sim ou não com a cabeça. - ele falou. - Dor de cabeça? - concordei. - Dor no corpo? - concordei de novo. - Dificuldade na respiração? - fiz que sim.
Ele perguntou mais alguns sintomas e eu fui concordando conforme o que eu sentia.
- É normal que não consiga abrir os olhos ainda. Você ficou desacordada por mais de vinte horas, ainda vai demorar um pouco pra retomar à realidade. - ele falou e eu franzi o rosto. - E além disso, assim que você beber água, sua garganta vai voltar ao normal e você vai conseguir falar normalmente.
Vinte horas? Tudo isso sem acordar?
Meu Deus eu precisava voltar pra minha realidade. O que eu ia fazer com a loja agora?
Teria que pagar uma indenização pras funcionárias. Teria que reconstruir do zero tudo o que foi perdido.
Pela quantidade de fumaça, nem sei se muita coisa restou, já que saí da minha sala desacordada e nem vi como ficou.
Talvez fosse melhor assim, porque eu ficaria abalada demais se visse a loja destruída.
- Ela vai ficar os próximos dois dias em observação e mais tarde ela vai precisar fazer exames. - o médico falou pra Russo que tava de braço cruzado e o chapéu cobrindo os olhos.
Nesse meio tempo uma outra enfermeira entrou me entregando uma garrafa d'água me ajudando a beber. Me senti instantaneamente aliviada e minha garganta aliviou quase por cem por cento.
- Beleza. Deu alguma coisa nos exames que ela fez ontem quando chegou? - ele questionou.
- Nada visível. Amanhã vamos ter certeza pelos exames que ela vai realizar hoje. E aí ela vai ficar esses dias em observação e logo vai ser liberada. - o médico explicou. - O enfermeiro vai trocar a medicação do acesso e vocês vão poder ficar tranquilos até virem buscar ela para os exames.
Ele se retirou, o enfermeiro trocou o remédio do acesso, também saiu, me deixando sozinha com Henrique que me encarava preocupado.
- Porra... - ele virou de costas olhando pra janela e tirando o boné pra passar as mãos no cabelo.
- Ei... Eu tô bem. - eu falei ainda rouca e ele virou de novo pra me olhar.
- Me desculpa, pretinha. - ele se aproximou da maca e segurou minha mão. - Se tu tá aqui é tudo culpa minha, eu poderia ter ficado lá e tudo seria diferente.
- Não é sua culpa, Henrique. Eu tô bem, vai ficar tudo bem. - fiz carinho no seu braço e ele respirou fundo.
- Eu te amo pra caralho. - ele falou se aproximando do meu rosto. - Me perdoa de verdade.
- Para de se desculpar, amor. A culpa não é sua. - eu falei e coloquei a mão no seu rosto pra acalmar ele. - Cadê Lena?
- Tá com a Hanna. Eu fui lá pra Hanna ficar aqui ontem de noite, fiz a pequena dormir e fiquei por lá de olho nela.
- Obrigada... - eu falei baixinho. - Você estar aqui significa demais pra mim. Eu te amo. - eu falei beijando a lateral do seu rosto.
Ouvi batidas na porta e a enfermeira que veio me trazer água foi entrando.
- Com licença... Valéria, a sala pra fazer os exames está pronta. Podemos ir? Consegue andar?
- Consigo... - eu nem tinha certeza se conseguia mesmo. Ela tirou o acesso do meu braço, tirou o negocinho de oxigênio do meu nariz e eu dei uma respirada funda pra testar, mas ainda senti uma pontada no peito.
- Te ajudo, vem. - Russo falou me apoiando nele pra levantar da cama.
Fomos andando devagar pelos corredores, ele me acompanhou em todos os exames. Fiz raio x do pulmão pra ver se a fumaça não danificou nada, fiz exames de sangue também e neurológicos.
- Vou avisar a Hanna que você acordou, ela me implorou pra avisar. - ele falou enquanto a gente voltava pro quarto.
- Eu não deveria preocupar ela, ela tá no início da gravidez.
- Ela tá grávida? - ele questionou assustado.
- Achei que você sabia, você e Rato tão andando pra cima e pra baixo juntos agora. - eu falei.
- O filho da puta passou o dia comigo ontem e não me falou nada. - eu ri.
- Hanna disse que ele ficou todo feliz, até chorou. - ele riu.
- Tão feliz que não falou pro parceiro dele. - ele falou parecendo magoado, com certeza vai esfregar na cara do Rato que não foi avisado.
- Você ainda quer ter filhos? - eu perguntei entrando nesse assunto que antes a gente nunca tinha tocado.
Só na penitenciária quando ele mandou eu me proteger e eu avisei que não queria mais filhos. Mas nem considero isso um diálogo sobre esse assunto.
- Porquê "ainda"? - ele perguntou me olhando.
- Porque você já vai fazer trinta anos. Teu filho vai nascer te chamando de avô. - eu gastei ele que me olhou puto da vida.
- Tô velho não caralho, olha isso aqui... - ele apontou pro próprio corpo. - Me chama de velho mas sabe que ainda trabalho muito bem, né? - falou puto da vida.
Eu gargalhei alto despreparada por ouvir isso e ainda tossi um pouco por não estar tão recuperada.
Ele abriu a porta do quarto e eu fui entrando.
- Sinceramente, você não quer prestar. - eu falei ainda rindo e sentei na maca, apoiando a cabeça no travesseiro.
- Mas respondendo tua pergunta... Eu quero ter filhos só se for contigo, aí sim tô dentro. - ele falou e meu sorriso foi murchando.
- Qual foi? Quer ter mais filho não? Se não quiser, beleza. A escolha é tua, preta. - ele colocou a mão na minha perna.
- Eu nunca parei pra pensar se quero. Mas sempre me protegi pra não ter, eu sou bem traumatizada com essa coisa de gravidez. - eu expliquei olhando pra minhas mãos.
Eu nem sabia o que pensar sobre isso ainda.
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VISITA INTIMA - Além do Sexo [CONCLUÍDA]
RomanceQuando não se tem opção, você acaba tomando decisões que podem mudar a sua vida. Foi assim com Valéria ao aceitar fazer visitas íntimas a um homem temido no Rio de Janeiro. Russo era conhecido no mundo do crime pelos olhos azuis intensos e por não...