Paulo Henrique.
Eu não lembro de já ter falado dessa minha parte pra Valéria. Mas é um bagulho que eu evito falar pra proteção da minha família mesmo.
Tenho mãe, tenho três irmãos, dois homens e uma menina, e sou o mais novo entre eles, tenho dois sobrinhos e dois tios. Não mantive contato com nenhum deles, menos com um único tio que me dava notícia de três em três meses e eu sempre mandava dinheiro pra ajudar a manter a família aqui.
Eu nasci e cresci no Rio, mas quando comecei a subir no crime, afastei minha família pra não afetar eles.
A gente morava tudo na mesma casa, dividindo dois quartos, foi uma infância foda e uma adolescência mais solitária.
Minha mãe era diarista, ganhava o suficiente pra manter os quatro filhos, meu pai até chegou a criar a gente mas se afundou na bebida e minha mãe expulsou ele de casa.
Eu não lembro muita coisa dessa fase porque era moleque, coisa de três ou quatro anos quando ele vazou fora.
Entrei pro crime pra ajudar em casa, tinha quatorze anos e era só aviãozinho, ganhava duzentos só pra ficar na porta da boca vendendo coisa, mas aí começou a apertar as coisas, recebia proposta de matar gente, vender droga no asfalto, roubar na rua, a lista é longa e a grana era boa pra caralho.
Mudei de vida em duas semanas fazendo essas porras e pra não sujar pro lado errado, mandei minha família toda pra BH dando uma desculpa qualquer. Meu tio Guga me ajudou nessa parada e alimentou a cabeça da minha mãe e dos meus irmãos pra irem todos pra Belo Horizonte que não era tão longe e dava pra visitar.
Até cheguei a visitar mesmo nos primeiros anos. Pegava o carro e metia a cara na estrada sem carteira e sem saber nenhuma rota. Mas dava pra chegar.
Eu ia uma vez a cada três meses lá, depois passou a ser uma vez no ano porque a demanda de "trabalho" tava aumentando, até que eu não voltei mais, desde os meus vinte e um anos. Oito anos que não vejo esses aqui.
E quando fui preso, ninguém ficou sabendo, só o meu tio. E ele me prometeu que não contaria pra minha mãe assim como eu prometi que a grana chegaria certinho todo mês.
Tive sorte de Fogo não fazer idéia de pra onde ia esse dinheiro porque enquanto eu tava em cana, era ele que mandava e se eu soubesse que ele era um filho da puta, não teria dado essa responsa pra ele.
Agora fora da cadeia e sem ninguém na minha cola, ficava tranquilo vim visitar.
Observei Val sentada conversando com a minha mãe enquanto comiam o bolo de fubá e riam de alguma coisa enquanto olhavam pra mim.
- Oh, a mãe tá falando mal de ti pra tua mulher. - meu irmão Cadu falou rindo.
Quando cheguei, minha mãe chorou me vendo. Me abraçou se tremendo e eu só sabia rir.
- Deixa falar, pô. Depois vou lá tirar satisfação. - falei e ele riu.
- E aí, como estão as coisas lá pelo Rio? - ele perguntou e pegou o filho do carrinho pra sentar no colo dele. Moleque devia ter uns seis meses.
- Estavam agitadas, pô. Mas agora tá na paz. E por aqui?
- Como sempre tá tranquilo, a família tá espalhada. Mas amanhã vai brotar gente que eu nunca vi na vida, quer ver?
- Eu não duvido de nada. - falei e ele riu.
- Dona Ana falta só se jogar na política e virar vereadora. Tá famosinha na cidade pô. - ele riu e o menino no colo dele deu uma risadinha também. Peguei no dedo dele que apertou e quis botar na boca.
- Ih, sai fora. Vai me morder não, moleque. - eu falei e Cadu riu.
- Quer um desse não? Seria uma mistura interessante um filho de vocês dois. - ele falou apontando com o queixo pra Valéria que seguia cheia de sorrisos com a minha mãe e a esposa do Cadu que chegou por lá agora.
- É com ela, pô. Sei de nada não. - eu falei dando de ombros e coçando a nuca pensando no assunto.
- Pra mulher tudo é mais trabalhoso, tá certo em deixar a escolha com ela, o corpo é delas, regras delas né! - ele falou eu concordei com a cabeça.
- É, complicado. - me limitei a responder isso e ele me encarou.
- Esse aqui veio de surpresa. A gente deu mole e aí ele aproveitou e se enfiou na barriga da Bia. - eu ri.
A gente conversou mais um pouco e Cadu precisou sair pra ajudar a mulher dele com o bebê.
Minha mãe liberou Valéria também e ela veio na minha direção sorrindo. Guardei o celular pra falar com ela e admirei a beleza daquela mulher.
Ela ia sentar do meu lado mas puxei sua cintura pra sentar no meu colo.
- Tua mãe tá vendo a gente. - ela falou baixinho com vergonha.
- E daí? Tô com amante não pra ficar escondendo. - falei e ela riu.
- Porque não me disse que tinha família aqui, tão pertinho da gente? - ela questionou e eu apertei os braços ao redor do seu corpo.
- Tu nunca perguntou, pô. - ela me olhou com os olhos cerrados.
- Realmente, mas eu achei que não tinha ninguém. - ela falou sincera e eu ri.
- Ainda tem mais gente, amanhã vai tudo aparecer por aí. - avisei e ela me olhou rindo de lado.
- Tô ansiosa pra conhecer o restante da tua família.
- Eles vão gostar de ti, doido é quem não gosta. - falei beijando seu rosto. - Gostou?
- Eu amei a sua mãe, ela é um amor. E a Bia também é muito simpática. Tô gostando. - ela falou toda felizinha.
- Bora pro hotel? Amanhã cedo a gente volta pra cá. - falei e ela concordou.
A gente chegou umas cinco horas e agora já era quase oito da noite. Passamos bastante tempo aqui e amanhã teria mais.
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VISITA INTIMA - Além do Sexo [CONCLUÍDA]
RomanceQuando não se tem opção, você acaba tomando decisões que podem mudar a sua vida. Foi assim com Valéria ao aceitar fazer visitas íntimas a um homem temido no Rio de Janeiro. Russo era conhecido no mundo do crime pelos olhos azuis intensos e por não...