Valéria Dantas.
Segunda feira chegou e era meu primeiro dia de trabalho.
Acordei no mesmo horário de sempre, antes das cinco da manhã. Preparei café, preparei a farda da Milena, deixei tudo pronto pra me arrumar e organizar o que eu precisaria no decorrer do dia.
O trabalho era de sete da manhã até ás duas da tarde, nos dias de segunda, quarta e sexta. O horário era tranquilo, mas só conseguiria deixar minha princesinha na escola, pedi pra que Hanna buscasse e desse o almoço dela pra mim. Eu não gostava de pedir esse tipo de coisa, o dever de cuidar da minha filha era único meu.
Me sentia mal por deixar ela na mão de outra pessoa, mesmo sendo minha melhor amiga. Eu confio em Hanna de olhos fechados, mas pra uma coisa mais tranquila, uma vez no mês ou uma tarde na semana. Mas quase todos os dias, mesmo que sejam só três horas era demais pra mim.
Suspirei deixando isso de lado.
Hanna amava cuidar de Milena, mas eu sempre tive um pé atrás de ser um incômodo. Minha filha é tranquila, mas não deixa de ser uma responsabilidade.
Deixei o que estava fazendo pra atender meu celular que tava tocando.
Estranhei quando vi que era Russo ligando. Uma hora dessa.
Ele não dormiu comigo essa noite porque foi pra um pagode lá na entrada do morro, era com os caras da boca, e ele até me chamou porque dizendo ele que a mulher dos caras iam, eu teria companhia. Mas eu ia trabalhar hoje, precisava dormir.
- Bom dia, minha preta. - falou animado e eu estranhei mais ainda.
- Bom dia, Russo. Acordou animado ou ainda não dormiu? - ouvi a risada dele do outro lado.
- Ainda não dormi, princesa. Tá indo trabalhar já? - ele questionou.
- Ainda não, vou arrumar Milena e deixar ela na escola ainda.
- Beleza, tô mandando um vapor aí pra te deixar na escola da pequena e te deixar lá na zona sul. Se eu pudesse sair, eu mesmo levava, mas tá complicado pro meu lado. - ele falou e eu fechei os olhos respirando fundo.
- Porque alguém tem que me levar? Eu vou de ônibus, não tem problema. - eu argumentei.
- Por causa da tua segurança cara. Tu tava no meu nome lá na cadeia, vai saber se os vermes vão te reconhecer e te abordar. - ele falou
- Mas eu sou discreta, vai acontecer nada não.
- Não, Valéria. Já já o K2 vai aparecer aí, ele vai te levar e buscar, todos os dias. E ponto final. - eu revirei os olhos com esse autoritarismo. - E não revira o olho pra mim não, filha da puta... - ele disse com um tom de brincadeira.
- Como voc...
- Eu tô te conhecendo, pretinha. Já sei que tu revira a porra do olho a cada frase que eu falo. Principalmente se for alguma ordem pra ti. - ele falou e eu gargalhei.
- Tá, eu vou aceitar esse seu vapor aí. Mas vou logo avisando que não vou fazer o que você quer na hora que você quer. - eu falei.
- Beleza, lindona. Vai me avisando. - eu ri. - E outra... Fica atenta no teu celular, eu vou ficar em contato com você pra saber como tu tá.
- Mais alguma coisa, papai? - ele riu do outro lado.
- Sim. Vai tá em casa que horas? - ele questionou.
- Umas três horas. - respondi.
- Hum. Beleza. Vou aí depois, a gente vai se falando. - ele falou e desligou.
(...)
Como o prometido, o tal K2 me buscou, me deixou na escola da Lena e depois me levou no condomínio lá na zona Sul. Isso tudo em silêncio, não falou nem uma palavra.Eu subi até o apartamento que estava indicado no anúncio do emprego e toquei a campainha.
A "entrevista" foi feita por ligação, por um homem, pra me conhecer e saber sobre a minha disponibilidade. Eu tava nervosa agora, porque não os conhecia e nem eles me conheciam.
- Olá, bom dia. Tudo bem? - sorri simpática pra um senhorzinho de idade que também sorriu e me deu espaço pra entrar.
Pelo que eu entendi, era um casal de idade e um filho adulto que morava na casa. O apartamento é enorme, e eu teria trabalho.
- Oi, você deve ser a Valéria né? - ele falou.
- Sim, sou eu. É um prazer. - ele assentiu rindo. Parecia com vergonha, mas aparentava ser um querido.
- Eu sou o Nelson. Aquela é a minha esposa Fátima. - ele apontou pra um corredor atrás de mim onde uma outra senhora sorridente vinha, mas seu sorriso falhou quando ela se aproximou.
- Olá. - ela disse simples e eu somente acenei com a cabeça. - Você pode começar pelos quartos, nosso neto está na faculdade, mas logo ele chega e é bom que o quarto dele esteja arrumado. As coisas ficam na área de serviço, ali atrás. - indicou e eu olhei.
- Claro! - me direcionei pra lá, mas consegui ouvir a voz da senhora bem no fundo.
- Querido, não me disse que ela era... assim. - ela disse e a bile subiu pela minha garganta.
Que merda de situação.
- Não fale assim, Fátima. É a cor dela, não podemos fazer nada. - eu simplesmente fingi que não ouvi e fui fazer meu trabalho.
Ela me seguia a cada cômodo, eu estava incomodada e desconfortável. Parecia que a qualquer momento ela iria me acusar de roubar algo, ou de não estar fazendo meu trabalho direito.
Eu me sentia péssima.
Eu arrumei todos os quartos, eram três no total. E comecei a organizar a sala, passei um pano nos móveis, a senhora estava sentada na sala de jantar, tomando seu café da manhã, mas hora ou outra ela me encarava.
Eu limpei a sala, a cozinha, o corredor, a área externa. Tudo.
E quando terminei olhei meu relógio de pulso vendo que eram onze horas. O combinado era fazer o almoço também, por isso fui logo pra cozinha começar a preparar.
Eu li toda a dieta deles, tudo o que eles podiam e não podiam comer. E eu não poderia errar, era uma chance que eu não podia jogar fora.
Mesmo que seja um ambiente desagradável, eu iria engolir o meu incômodo e seguir a minha vida.
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VISITA INTIMA - Além do Sexo [CONCLUÍDA]
RomanceQuando não se tem opção, você acaba tomando decisões que podem mudar a sua vida. Foi assim com Valéria ao aceitar fazer visitas íntimas a um homem temido no Rio de Janeiro. Russo era conhecido no mundo do crime pelos olhos azuis intensos e por não...