Capítulo 44

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Eu nunca me imaginei nesse cenário.

Eu tava sem nenhuma opção de fuga. Minha sala não tinha janelas, eu estava sem sinal de telefone, sem as chaves das salas.

Minhas funcionárias também estavam presas.

E a minha loja muito provavelmente estava pegando fogo.

Eu não estava em uma condição muito boa com a polícia nesse momento, não era uma opção ligar pra eles. Mas eu podia ligar pros bombeiros. Não precisava de sinal pra ligar.

Eu peguei meu celular de novo, discando os três números pra ligar pros bombeiros. Peguei um pano e molhei na pia do banheiro do escritório, coloquei perto da porta pra sugar a fumaça e eu não ficar inconsciente antes de conseguir falar com os bombeiros.

A fumaça tava começando a ficar mais forte, eu estava em desespero. Russo já devia estar bem longe agora e eu só queria saber o que acontecia do lado de fora.

- Alô? - eu falei ao ouvir a voz de uma mulher do outro lado.

- Olá, qual sua ocorrência?

- A minha loja tá pegando fogo. Foi um incêncio criminoso, eu tô presa, minhas funcionárias também.

Eu expliquei da forma mais resumida possível. Ela pediu meu nome, o endereço e avisou que já vinham socorrer.

O pano com água não resolveu. Tava entrando muita fumaça dentro da sala, o calor do fogo tava se aproximando.

Eu mal me importava com a perda material, eu queria saber das meninas presas na sala também.

Reuní forças pra levantar e tentar arrombar a porta. Eu tomei distância, dei o primeiro chute e nada. Mais um chute e nada.

No terceiro chute eu machuquei meu pé e fiquei caída pelo chão de novo.

Me afastei da porta sentindo dor, e inalando fumaça demais. Eu tentava ao máximo prender a respiração e aspirar aquela fumaça o menos possível.

O ar puro era cada vez mais escasso. Eu estava começando a tussir. Meu pé latejava, mas eu precisava sair daqui de alguma forma.

Por isso levantei de novo, tomei distância da porta e avancei chutando com o outro pé. Uma, duas, três, quatro vezes.

Até que eu percebi que ela não tava abrindo porque tinha algo impedindo do outro lado.

Eu iria morrer se não saísse daqui.

Um desespero bateu só de imaginar que eu poderia partir dessa. Minha filha ficaria sozinha, eu não podia ficar aqui pra morrer.

Eu também não sabia mais o que fazer, se não esperar pelo corpo de bombeiros. Eu tava desesperada, ansiosa, aflita, angustiada.

Era muita coisa ruim, pensamentos negativos. Mas eu só queria sair daqui e voltar pra minha família.

Sentei num canto no chão, longe da porta. Eu comecei a tossir sabendo que agora no meu pulmão não tinha quase nada de oxigênio puro.

Fechei os olhos e comecei a pensar positivo. Mas um sono e uma vontade de permanecer com os olhos fechados me atingiu. Eu estava com uma sensação de exaustão.

Meu corpo foi ficando mole, minha mente foi desligando, até que eu perdesse completamente os sentidos.

(...)
Paulo Henrique.

Chegamos no morro e meu celular começou a tocar desesperadamente. Eu já tava começando a me irritar, mas atendi logo.

- Oi, boa tarde! - eu estranhei me ligarem por número desconhecido. - Sou do corpo de bombeiros, recebemos uma ligação e viemos prestar socorro em uma loja, o número de emergência de uma das vítimas era o seu.

- Vítima? Que porra... - freei o carro no meio da rua e fiz o retorno com Rato me encarando.

- Sim, a vítima está sendo encaminhada pro hospital mais próximo, se puder comparecer pra auxiliar na documentação... - ele falou e eu suspirei.

- Beleza, to indo. - eu falei e desliguei.

- Botaram fogo na loja da Valéria. Ela tá sendo levada pro hospital. Porra, era pra eu ter ficado lá. - eu falei me culpando.

- Ei pô, não é culpa tua não. - ele falou me encarando. - Para o carro aí, deixa que eu dirijo, tu tá nervoso pô.

Eu parei no acostamento e troquei de lado com ele pra ir mais tranquilo.

Nem contei quanto tempo levou pra gente chegar no hospital, mas assim que chegamos eu coloquei o boné e uma máscara pra tampar um pouco meu rosto.

Desci e fui logo andando na recepção pra encontrar alguém pra me ajudar.

- Quero ver minha mulher. Valéria Dantas. - dei o nome dela na recepção e a mulher me olhou.

- Vítima do incêndio, certo? - eu confirmei com a cabeça olhando ao redor.

- Ainda não tá liberado pra visita, ainda estão examinando ela porque chegou aqui desacordada. - ela explicou. - Você pode esperar que o médico vai chamar quando ela estiver liberada.

Eu respirei fundo querendo fazer a cabeça da mulher pra me deixar ver Valéria. Mas eu não ia atrapalhar o trabalho dela. Só vazei e sentei ali perto, Rato veio na minha direção e sentou na cadeira do meu lado.

- E aí? Tem notícias dela? - ele perguntou parecendo preocupado.

- Chegou desacordada mas tá fazendo exames. - expliquei simples e ele concordou se acomodando na cadeira.

Caralho, minha mente não parava um minuto sequer. Pensando em todas essas paradas acontecendo ao mesmo tempo. O caminho tava afunilando, eu tava começando a me sentir impotente. Sem capacidade de proteger os meus.

Foi um vacilo ter deixado Val sozinha. Nem pensei que o perigo poderia vir de dentro pra fora.

Eu fui burro pra caralho.

Rato deu um soquinho na minha perna e só então eu percebi que tava com ela inquieta balançando.

- Para pô. A culpa não é tua, se tu ficar pensando isso, eu vou te mandar pra casa. - ele falou e eu neguei com a cabeça.

- Mas é minha pô. A responsabilidade é pra ser minha porque eu prometi proteção a ela e no primeiro vacilo isso acontece.

- Mas a culpa não é tua, Russo. É culpa de quem tá tentando te derrubar, uma hora ou outra algo poderia acontecer com ela, com ou sem a tua proteção. Porque é isso que eles querem! Te deixar fraco e desestabilizado. Não cai nessa, tu é mais que isso e a tua gata vai ficar bem, Valéria sempre foi foda.

- Eu sei disso. Ela é foda pra caralho.

VISITA INTIMA - Além do Sexo [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora