Valéria Dantas.
- Você é um fofoqueiro, e ainda passa informações erradas. Se eu tivesse morrido, tu ficaria com remorso. - joguei na cara do K2 quando entrei no carro.
Já era segunda feira, cerca de oito da manhã, ele ia me levar no trabalho.
- Tu não respondeu minha mensagem, Quem cala consente né, lindinha. Só fiz meu trabalho, sou fiel ao mano Russo.
- Se duvidar, é mais fiel a ele do que à sua mulher. - ele gargalhou.
- É igual! Se vacilar com qualquer um dos dois, já posso garantir um buraco no cemitério. - eu ri e ele negou com a cabeça. - Mas falando sério mesmo, foi mal por ter te entregado, tu podia ter morrido mesmo, sorte que o Russo te considera e ainda preferiu conversar.
- Não, tranquilo. Como tu falou, é o seu trabalho. - eu falei e olhei ele.
Fiquei o resto do caminho em silêncio, ouvindo a música baixinha que tava tocando. K2 freou na frente da loja e eu desci dando um tchau pra ele que só riu de lado.
Eu trabalhei a manhã toda. Pra uma segunda feira o movimento tava até bom. Quando deu uma da tarde eu parei pra almoçar, as marmitas chegaram e eu peguei logo uma pra comer.
Sentei no chão da salinha de bagunça e peguei meu celular pra ver as notificações.
"Peguei Lena, dei almoço e levei na aula da ginástica. Te amo, bom trabalho."
"Obrigada, Hanna. Você é incrível, te amo demais." - respondi e abri as outras mensagens.
Tinha uma do Russo que eu suspirei antes de abrir, mas cliquei pra ler a mensagem.
"Quando sair me avisa, não fica dando bobeira do lado de fora." "Se K2 atrasar de novo, pede um uber." - tinha sido mandada há umas duas horas.
"Tá bom, papai. Mais alguma coisa?" - respondi.
Ele visualizou rápido e logo apareceu digitando.
"Vai tomar no cu, abusada." - eu ri de lado. - "Saudade de te comer, sabia?"
"Tô fazendo uma greve." - ele tava gravando um áudio e logo enviou.
"Greve o caralho, Valéria. Tu é toda cheia de meia hora. Se tu liberar hoje, eu te pago uma pizza." - a voz dele no áudio fez minha pele se arrepiar e eu tratei de me recompor. É só uma voz.
"Pensa que me compra assim fácil com comida? Eu não sou tão barata." - ele visualizou e voltou a digitar.
"Depois a gente bate esse papo pessoalmente, quero ver se tu resiste à mim." - ele visualizou e eu mandei um dedinho beleza pra ele.
Voltei a comer mexendo nas redes sociais, lendo as fofocas do morro, coisa que antes eu não fazia, mas agora eu quero saber o que acontece na minha ausência.
Meu horário de intervalo acabou e eu fui logo voltar ao trabalho, as meninas que estavam trabalhando comigo não eram muito próximas de mim, e eu não dava muita abertura pra saberem da minha vida.
Na verdade ninguém além de Hanna sabe da minha vida, Russo sabe uma parte mas não é nem a metade de tudo o que eu já vivi. Ele sabe o básico.
E eu pretendia que continuasse assim, porque quanto mais discreta, menos motivos tem de falarem de mim.
Quanto menos amizades eu tiver, menor é a chance de me decepcionar. Quanto menor o meu ciclo social, menos satisfações tenho que dar. Então eu vivo assim, na discrição, sendo quase invisível.
Eu passei o restante do dia atendendo e finalmente deu quatro horas, dessa vez dava pra ver do lado de fora o carro do K2 estacionado. Suspirei aliviada e peguei minhas coisas, me despedindo das meninas e indo pra fora.
Abri a porta do carro e neguei com a cabeça vendo Russo no banco do motorista. Ele veio me buscar de novo, e eu ficava logo neurótica com medo de pegarem ele e eu ir junto. Eu tenho uma criança pra cuidar, ele não.
- Boa tarde, preta. - ele se inclinou pra beijar minha boca e eu deixei.
- Oi, Russo. - sussurrei contra sua boca.
- Tava com saudade de mim? - ele perguntou e eu ri.
- Não, mas acho que você tava né? - ele negou com a cabeça rindo e deu partida no carro. - Porque veio hoje?
- Porque eu quis. E pra garantir que tu ia comigo e não num carro do BOPE. - ele fez graça.
- O Bope não vai me pegar de novo, eu não tenho informações pra dar. - ele riu.
- Tu não conhece esse mundo, pretinha. Tem sorte que eles foram bonzinhos de te deixar inteira, geralmente eles liberam a pessoa com um dente a menos, ou um dedo, ou um braço. Depende do humor.
- Credo! - eu falei horrorizada.
- Tudo por informação. No mundo do crime é assim também, pior na verdade. Porque depois de ter a informação, a gente joga na vala.
- É crueldade, às vezes pode ser um pai de família, ou alguém do bem. - eu contestei e observei ele avançando num sinal vermelho.
- A gente não é assim lá no Alemão. Eu pego gente ruim, informante de rival, que mata gente, vende droga pra criança, estuprador. Esses são os melhores informantes, eles não tem nada a perder e aguentam tortura até o fim, mas sempre soltam a língua porque tem medo de morrer. - eu assenti.
- Certo pelo certo, errado pelo errado né? É o que vocês falam.
- Tá sabendo demais, tô achando que é envolvida e eu não tô sabendo. - ele riu e eu também.
- Eu ouço muito, sou na minha, mas meu ouvido é bom. - eu falei. - E eu convivo com Rato que é bandido. Eu ouço muita gíria que ele fala, chega a ser engraçado, não entendo quase nada.
- A gente tem a nossa linguagem, tem coisa que só envolvido entende. - ele falou passando mais um sinal vermelho.
- Você vai ser multado se continuar passando todos os sinais.
- Se eu parar tem o perigo de a polícia vir atrás. E a placa é falsa, depois é só trocar por outra. - ele deu de ombros.
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VISITA INTIMA - Além do Sexo [CONCLUÍDA]
RomanceQuando não se tem opção, você acaba tomando decisões que podem mudar a sua vida. Foi assim com Valéria ao aceitar fazer visitas íntimas a um homem temido no Rio de Janeiro. Russo era conhecido no mundo do crime pelos olhos azuis intensos e por não...