Capítulo 19

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Valéria Dantas.

Depois de uma semana, consegui outro emprego, numa loja de roupas em um bairro mais perto do Alemão. E ao mesmo tempo, matriculei Lena na aula de ginástica que tinha na ONG aqui da comunidade, pelo menos agora ela ficaria o dia quase todo ocupada.

O que ela não me pede sorrindo que eu não faço chorando? É perigoso, mas de tanto ela ver a Rebeca Andrade na televisão, ela ficou encantada.

E seria até bom, era um trabalho de segunda a sábado, de dez da manhã até quatro da tarde. Mais uma vez precisava de Hanna pra me ajudar, mas eu tava tranquila agora.

Eu estava empregada e agora era só deixar a vida levar. Bastava ir lá com Fogo pedir pra não receber mais pelas "visitas". Agora que Henrique tava fora das grades eu não acho justo que tenha tanto dinheiro chegando na minha mão por um trabalho que não está sendo feito.

Ok que mesmo depois de ele ter saído de lá, acabou acontecendo. Três vezes.

Mas não era a mesma coisa. Ali era pelo calor do momento, a gente tava se vendo quase todo dia, era inevitável.

Eu saí de casa pra deixar Lena na escola e já passei lá na boca afim de falar com Fogo. Ainda dei de cara com Rato que me abraçou assim que me viu.

- Fogo tá aí? - questionei e limpei as mãos suadas no short jeans.

- Tá lá dentro com Russo. - ele falou e eu suspirei.

Não era pra Russo tá aqui, eu nem cogitei que ele poderia estar aqui essa hora.

- Valeu. - respondi e fui andando. Quando ia bater na porta pra abrir, Russo saiu com a cara fechada e me encarou.

- Tá fazendo o que aqui? - ele perguntou meio grosso e eu só levantei as sobrancelhas.

- Vim falar com Fogo. - ele assentiu e saiu.

Bati na porta meio aberta e ouvi a voz dele me pedindo pra entrar.

- Tu de novo? - ele me encarou.

- Eu de novo! - eu falei e ele riu. - Queria falar contigo. Não quero mais receber pelas visitas. Russo nem tá mais no presídio.

- Mas as visitas continuam aqui fora. Foi ordem dele. - eu abri e fechei a boca várias vezes.

- Foi ordem dele? - eu perguntei.

- Isso aí, morena. Ele falou pra continuar pagando porque ia continuar com o trato aqui fora.

- Eu não tava sabendo disso. - falei e ele deu de ombros. - Mas eu quero parar, não quero receber.

- Aí é com ele, eu não posso fazer nada. - ele disse e eu revirei os olhos. - Ele deve tá lá na pensão da dona Maria tomando café.

- Beleza, valeu. - dei as costas e fui pra casa.

Eu tinha certeza que ele vinha aqui depois, por isso nem me importei de ir atrás dele lá na pensão.

Dei uma geral na casa e deu a hora de me arrumar pra trabalhar. Coloquei uma calça jeans e uma camisa com a logomarca da loja. Calcei um tênis e fiz um rabo de cavalo pra prender meu cabelo.

Passei uma maquiagem leve e arrumei uma bolsa com tudo o que eu ia precisar durante o dia. Ainda deixei uma mensagem pra Hanna antes de sair.

"Bom dia, meu amor. Lena já tá na escola, o horário da ginástica dela é 14h00, consegue deixar ela lá pra mim? Eu busco ela no horário de saída."

A resposta chegou minutos depois.

"Bom dia, princesa. Deixa comigo, bom trabalho. Te amo!"

"Te amo, muito obrigada!" - respondi e coloquei o celular na bolsa.

Ouvi a buzina do carro de K2 e saí de casa trancando tudo. Arrumei a bolsa no ombro e abri a porta da frente sentando no banco carona.

- Bom dia! - cumprimentei sabendo que ele não ia responder, só acenar. Como sempre fazia. - Você é mudo? - tirei a dúvida que tava dentro de mim a semana toda.

- Eu falo, pô. Só não falo contigo. - olhei estranho pra ele que fez uma careta como se tivesse falado demais.

- Não fala comigo porque? Eu sou legal. - ele deu partida no carro e deu de ombros.

- Eu tenho ordem pra só te levar lá e trazer de volta depois. Não tenho pra que falar contigo não.

- Hum... - liguei uns pontinhos na minha cabeça. - Às vezes é bom bater um papo. É só conversar. Tipo assim, tu é casado? - apontei pra aliança enorme no dedo dele.

- Sou, pô. Seis anos na coleira. - olhei pra ele espantada.

- Você tem quantos anos?

- Vinte e três. - ele respondeu.

- Casou com dezessete anos? - perguntei espantada.

- Porra, era uma conversa ou um julgamento que tu queria? - ele falou na brincadeira e eu ri. Pelo menos um gelo eu tô conseguindo quebrar.

- Parei. - levantei as mãos em rendição. - Tem filhos, K2?

- Tenho duas crias. A Sofia de quatro anos e o Gabriel de dois meses. - ele riu orgulhoso. - Sofia estuda com tua filha, inclusive.

- Ah, a Sofia é sua filha? Milena vive falando dela, são amiguinhas. - ele assentiu. - E o seu caçula tem dois meses, era pra você tá em casa ajudando sua mulher, essa fase é complicada.

- Minha mãe fica com ela enquanto eu tô trampando, e depois eu chego pra ajudar. - ele falou.

- Tu parece ser bacana. Nem parece que é envolvido. - eu falei e ele riu.

- Eu sou bacana cara. Tem mais envolvido bacana do que playboy bacana, sabia? Os caras que cresceram aqui comigo fecham com o Russo na parceria. - percebi que ele tava se soltando. - A gente é família. Não tem esse caralho de traição e falsidade aqui não.

- Mas se tiver...

- É sal! X9 nunca teve vez, quando descobre vira atração pública lá na pracinha, queimando junto com a borracha do pneu.

- E você fala isso com tanta naturalidade.

- É porque é a vida né. Tá andando errado, vai ser cobrado. Tá andando certo, vai ser recompensado. - ele falou e eu concordei.

- Tem razão. - eu disse mais baixo e percebi que já tava chegando no meu trabalho.

VISITA INTIMA - Além do Sexo [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora