Capítulo 41

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Dois dias depois.

Eu tava esgotado de bancar o falso. Ter que aturar Fogo sabendo que ele tava me esfaqueando pelas costas tava sendo desgasgante.

Eu tava fingindo que nada tava acontecendo. Mas tava agindo também pra derrubar ele.

Não só ele como aquele arrombado do TH. Além de ser filho da puta, é X9 da rocinha que veio se infiltrar aqui junto com aquele tal Machado.

Machado na verdade é sub gerente da boca lá do rival, ele tava vindo aqui na minha ausência porque ninguém conhece a cara dele. Eu só conheço porque tenho que estudar a cara dos meus inimigos.

Mas pra falar a verdade, eu tava indo bem como ator. Tava tendo até paciência de lidar com Fogo sem meter uma bala na cabeça dele.

Vontade não me falta, mas eu tinha que descobrir quem mais tava no meio disso pra não cometer erros e acabar colocando minha mulher, a filha dela e a mulher do meu parceiro em risco.

Não contei com detalhes pra Rato e K2 o que tava acontecendo, até porque seria arriscado eles terem reações na frente do TH e de Fogo.

Eu sou um cara que não tenho um pavio muito longo. É curto pra caralho. E eu já tava contando os dias pra acabar com essa porra e tomar meu morro de volta cem por cento, tendo gente de confiança na boca e na gerência.

Mas tá maluco, eu tava surtando já.

Tava sentado na minha sala na boca principal, ouvi duas batidas na porta e mandei entrar. O maldito apareceu e entrou, o cabelo platinado já com a raiz crescida deixava ele uma merda.

- Qual foi?

- Tô saindo lá no asfalto fazer cobrança. - ele avisou. Já era a segunda cobrança dele no asfalto nesses dois dias. E geralmente descia pro asfalto uma vez só na semana.

- Que tanta cobrança é essa? Tem tanta gente devendo lá? - eu questionei e ele vacilou o olhar do meu.

- Não terminei minha lista de ontem. - ele explicou e eu não acreditava mais em nada que saia da boca imunda dele.

- Beleza, agilidade nisso aí. Tem mais coisa pra fazer. - eu falei irritado. - Antes de tu vazar, deixa só eu te dar um bagulho pra entregar lá na Penha.

Peguei na gaveta o bagulho pequeno que embrulhei que nem presente e já tinha colocado um gps e uma escuta pequena dentro.

- Entrega depois da cobrança e deixa no teu bolso pra não esquecer, é importante.

Era a primeira parte do meu plano. Só pra ter certeza do bagulho que ta a rondando a minha cabeça depois do que Valéria falou.

Falando nela, tô levando e trazendo do trabalho todo dia. A malucona tá se achando andando de Audi pra cima e pra baixo comigo.

Tô dormindo lá com ela desde que ela ganhou a casa. Eu tô me mudando pra lá e ela nem tá percebendo. Deixei até um espaço no guarda roupa dela pra colocar minhas roupas que todo dia deixo lá.

Era um bagulho legal acordar e tomar café com ela e a Lena. Eu e a mini Val já estamos num nível mais avançado de convicência. Antes ela só falava de longe, agora gosta de abraçar e pede pra eu contar história pra ela dormir.

Vê se pode. Eu contava umas três histórias de princesas que odiavam os príncipes e ela apagava, era uma maravilha usar isso e o horário como desculpa pra dormir na casa dela.

Eu aluguei um espaço pra mim também, mas nem é a mesma coisa. Vou lá só pra tirar meus cochilos de tarde, mas dormir mesmo é só com a minha preta, eu já me acostumei.

Esperei uns dez minutos depois da saída de Fogo pra abrir o gps no meu computador. Acompanhando o carro dele que tava bem rápido até. Eu tava com o olho fixo na tela, observando o trajeto do carro.

Ele tava pegando a estrada pra ir mesmo pra Rocinha. Eu tava esperando isso mesmo, mas porra... é decepcionante. O mano cresceu comigo, tanto no crime quanto na vida.

E o poder subiu à cabeça. Ele sabe que se me derrubar, pega meu posto, meus bens, meu dinheiro. E se ele quiser, até a minha mulher ele toma.

Sorte que Valéria vai vazar daqui se alguma coisa acontecer comigo, a única coisa que ainda mantém ela aqui sou eu, isso ela deixou claro, e ela saindo, ainda vai arrastar Hanna e Rato pra longe do morro.

O carro parou bem no alto do morro. Eu ativei a escuta e coloquei o fone de ouvido pra ninguém além de mim escutar.

As vozes ainda tavam embaralhadas, parecia uma porrada de gente. Coisa de dez a quinze pessoas numa sala.

Tipo reunião.

Ouvi uns ruídos e todo mundo ficou em silêncio.

- Silêncio nesse caralho, vamo ouvir o mano WM. - era o dono da Rocinha. Já tinha trombado com ele nas reuniões do tráfico, era um babaca, acusado de um monte de porra. Desde roubo até pedofilia e abuso infantil, era daí pra baixo.

- Satisfação aí pra vocês. - ele tinha a voz irritante, falava devagar e embolado, parecia um bêbado. - Quem ta aqui foi selecionado e já sabe o porquê dessa reunião. Nosso foco é derrubar o império do mano Russo lá do Alemão e expandir o tráfico da Rocinha. Fiquei sabendo que um tal de Fogo tem uma forma de derrubar ele fácil fácil. Diz aí, parceiro.

- Satisfação aí, pô. - a voz de Fogo foi ouvida e eu suspirei. - O que eu tenho não vai derrubar ele, mas vai deixar fraco. O cara não assumiu fiel, mas tá cheio de papo pra cima de uma moradora lá do Alemão. Ela vai desestabilizar ele, sei dos horários dela, sei quando ela sai do morro pra ir trabalhar, é só saber agir e começar a desmontar o império dele sendo ela a primeira atingida.

- Mulher só serve pra atrasar a vida do cara. - WM falou e ouvi eles rindo. - TH, tá de acordo? Tem mulher mesmo nesse bolo?

- Tem, chefe. Mulher e criança. Se matar as duas vai ser mais fácil pegar quem a gente quer mesmo. - ele falou e um frio subiu pela minha espinha.

- Beleza, a gente faz essa porra amanhã mesmo. Finge assalto, algum bagulho assim e elimina a mulher, deixa a criança pra lá. Depois a gente invade o morro enquanto ele tiver vivendo o luto, tem que pegar ele na fragilidade mesmo.

Eu precisava correr contra o tempo agora.

VISITA INTIMA - Além do Sexo [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora