Capítulo 47

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Valéria Dantas.

Angústia, dor, tristeza.

Mas principalmente raiva.

Esses eram os sentimentos que eu tinha dentro de mim, e cresciam a cada hora que passava.

Depois de revirar o morro de cima a baixo, não achamos Lena. Russo me avisou que quem tava na barreira era TH, tinha grandes chances de ela ter saído daqui e ninguém viu.

Já tinham se passado três horas desde que tudo aconteceu e desde então eu me mantenho quieta, só ouvindo as vozes ao meu redor, sentinho um frio na barriga e uma vontade imensa de chorar e gritar.

E me isolar de tudo e todos.

Me trouxeram pra casa de Hanna, tomei uma água com açucar pra me acalmar, mas eu queria mesmo sair aos quatro cantos desse Rio de Janeiro pra procurar a minha menina.

Henrique disse que tinha umas suspeitas de onde ela poderia estar, mas não arriscaria e pediria pra uns contatos resolverem isso.

Tem meia hora que ele saiu pra uma reunião com K2 e Rato e me deixou aqui.

Eu não tinha mais forças. Eu sentei no sofá e juntei meus dois joelhos próximo ao meu rosto. Fiquei nessa posição por muito tempo, olhando pra parede da casa da minha melhor amiga.

Milena é a minha razão de viver, o que seria de mim sem ela? O que seria da minha vida sem a minha pequena?

Esse pensamento fez com que lágrimas brotassem dos meus olhos e um choro compulsivo saísse de mim.

Eu senti Hanna me abraçando e me permiti chorar até o meu peito doer, até a minha voz sumir.

Levantei num supetão, caminhei de um lado pro outro ainda chorando mas me mantendo forte. Minha filha precisa de mim e eu não sou capaz nem de me manter sã.

Eu me sinto impotente, me sinto inferior, me sinto minúscula diante da situação.

Eu era tão traumatizada com tantas coisas, mas nunca me imaginei nessa cena. Eu sempre cuidei tão bem da minha filha, sempre protegi ela de tudo e de todos.

Em um deslize meu tudo isso acontece. Meus olhos desviaram por dois minutos de Lena e ela some.

Porra, que vontade de sair daqui e gritar. Gritar até meus pulmões doerem.

A porta foi aberta, entrando somente Russo e Rato por ela. Russo veio até mim e eu o abracei forte chorando de novo.

- Achou ela? Me diz que achou, Henrique... por favor. - eu falei no ouvido dele ainda o abraçando na ponta dos pés.

- Ainda não, preta. - ele suspirou parecendo tão cansado.

- O que a gente vai fazer? - eu perguntei e olhei seu rosto. Ele baixou os olhos, também sem saber a resposta da pergunta.

- Eu tenho quase certeza que ela tá na Rocinha, Fogo e TH também sumiram, eles com certeza estão no meio dessa merda toda. - ele explicou. - A gente vai achar a pequena. - ele beijou minha cabeça e se afastou indo pegar água pra que eu bebesse.

Bebi dois goles e devolvo o copo pra ele mais calma. Sentei no sofá e apoiei meus dois cotovelos nos meus joelhos, juntando as mãos e olhando a televisão pausada em alguma série que Hanna tava assistindo quando chegamos.

Era difícil me concentrar em qualquer coisa, tendo a minha pequena longe de mim sem saber onde ela estava.

- Eu vou lá na Rocinha. - ouvi Russo falando com Rato.

- Não cara, tá maluco? É suicídio, os caras querem tua cabeça.

- Então vamo invadir aquele caralho. Lena tá em perigo, porra, sei nem se tão cuidando dela lá, esses filhos da puta não querem saber de nada.

- Não porra, bora bolar um bagulho certo e...

- Eu vou! - eu me prontifiquei e os dois me olharam e se olharam em seguida.

- Não, Valéria. Tu não vai lá, eles querem isso mesmo. Tu vai morrer se for, escuta o que eu tô te falando. - Rato falou por Russo e eu suspirei me aproximando.

- Mas eu quero ir até lá resgatar a minha filha, nem que pra isso eu dê a minha vida em troca. - eu falei e ouvi meu celular tocando no canto da sala, onde ele ficou desde que eu cheguei.

Peguei ele vendo o número desconhecido na tela.

- Atende e põe no viva voz. - Russo falou ficando do meu lado.

Fiz o que ele pediu e esperei que o outro lado falasse algo.

Eram só ruídos, não dava pra ouvir vozes e nem saber de onde vinha.

- Mamãe... - ouvi a voz de Milena e meu coração bateu mais forte fazendo meus olhos ficarem arregalados e minha respiração descompassar.

- Oi, amor. Me diz onde você tá, a mamãe vai te buscar. - eu falei tentando parecer calma mesmo que na minha mente eu estivesse prestes a explodir.

- Não tão fácil, Valéria. - uma voz masculina foi ouvida e eu não sabia bem de quem era. Não conhecia.

- Quem é você e o que quer com a minha filha? - eu gritei no telefone totalmente descontrolada e senti a mão de Russo no meu ombro.

- Quem eu sou não interessa agora, mas breve você vai saber. Em breve o Alemão vai me conhecer. - ele deu uma pausa e antes que eu pudesse responder, ele continuou. - Cadê teu namoradinho, caralho? É com ele que quero falar.

Olhei pra Russo e ele confirmou com a cabeça.

- O que você quer com ele? A filha é minha, a conversa é comigo! Você ligou pra mim.

- Passa o celular pra ele, porra. Não dificulta a minha vida. - ele falou irritado e eu passei o celular pra Russo com as mãos tremendo.

- O que? - Russo falou.

- É o seguinte, Russo. Tua enteada tá chorando pra caralho aqui e eu não vou ter muita paciência por tanto tempo. Tira o celular do viva voz, o papo é só contigo.

Ele fez o que o cara pediu e fechou a cara colocando o telefone no ouvido.

A essa altura não me restava mais unha. Meu rosto estava inchado, minha cabeça doía, minha mente não parava.

Eu só queria minha Lena.

VISITA INTIMA - Além do Sexo [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora