Capítulo 46

17.7K 1K 76
                                    

Paulo Henrique - duas semanas depois.

Nessas duas semanas me desdobrei entre fazer companhia pra minha preta, assumir as responsabilidades da Lena (levar pra escola e essas coisas) e bolar um plano pra estar um passo a frente de Fogo e o filho da puta lá da Rocinha.

A intenção deles é me derrubar numa invasão, isso eu já fiquei sabendo. Mas ainda não me deram datas e essas porras.

Eu não preciso saber o dia que vão invadir porque quero agir o quanto antes. Não tenho mais tempo, quero paz na minha vida.

Desde que eu saí da cadeia essa porra tá só aumentando tipo bola de neve. E não dá pra segurar mais e nem empurrar com a barriga, tem muita coisa em jogo, principalmente a vida da minha mulher e a filha dela.

- Tio Russo, me ajuda na minha tarefa... Minha mãe dormiu. - Lena me pediu de noite quando eu cheguei da boca cansadão.

Nem estranhei, Val tava mais sonolenta que nunca por causa dos remédios.

- Ajudo, pô. Vou só ver tua mãe e já desco, beleza? - ela concordou e eu fiz um carinho na cabeça dela.

Entrei no quarto da Valéria, tava tudo apagado, até a luz do banheiro que ela costumava deixar acesa.

- Pretinha... - cutuquei ela que resmungou e eu suspirei aliviado.

Deu um B.O lá nos exames dela, precisou tomar uma cacetada de remédio e essa semana já acabava. Era normal esse sono todo, eu li cada um dos efeitos dos remédios. Tem dois deles que dão sono.

- Comeu direito hoje? Tá com sede? - ela negou devagar com a cabeça

Dopada a coitada.

- Qualquer coisa me chama, tô lá embaixo.

- Vai dormir comigo hoje? - ela perguntou baixinho.

- Sempre, minha preta. Se não for com você, eu não durmo. - ela riu de lado e eu beijei sua cabeça indo lá pra baixo onde Lena tava me esperando com o lápis e o caderno na mesa, balançando as perninhas

- Já, Val mirim. - ela riu e eu sentei do lado dela pra ajudar no dever de casa.

- Esse é como, tio? - ela apontou pro desenho que tinha que cobrir por cima dos pontinhos.

Sei lá como faz essa porra, mas tem que tentar né.

- Faz aí e eu digo se tá certo. - falei pra ela que segurou o lápis direitinho e começou a cobrir.

A malandrinha sabe fazer as coisas, só queria companhia.

Ela terminou tudo, eu coloquei ela na cama, li uma história e logo ela tava apagada que nem a mãe dela.

Fui pro quarto da pretinha, tomei um banho rápido só pra tirarvo cheiro de rua e coloquei uma cueca pra deitar do lado dela.

- Eu te amo, minha linda. - falei no ouvido dela e senti ela se mexer pra encaixar o corpo no meu.

- Te amo, Russo. Obrigada por cuidar de mim e de Milena. - ela falou baixinho com os olhos fechados e eu só beijei seu rosto e fechei os olhos pra dormir.

Tava exausto com tudo isso.

(...)
Dois dias depois.

Domingou, dia das crianças e dia de feijoada no complexo, eu sempre procurava fazer algo diferente pelos meus e pedi logo pra dona da pensão aqui do morro fazer quilos de feijoada pra distribuir.

As crianças ficavam doidas porque eu sempre contratava essas porras de pula pula, liberava o campinho de futebol, enchia um monte de piscina pra criançada, era um dia de lazer pro povo.

Boa parte da minha vida eu devo a essa gente, muitos fizeram coisas por mim.

- Tá tudo tão legal, Lena já foi correndo brincar no pula pula. - Val falou chegando perto de mim e cruzando os braços, observando o movimento ao redor.

Ela tava bem melhor, nesses dois dias que ficou sem aquele monte de remédio ela tava bem melhor e mais ativa.

- Eu fiz mais simples esse ano. O importante é eles aproveitarem tudo. - eu falei e bebi um gole da minha cerveja.

- Admiro que você se importou de fazer algo mesmo com tudo o que tá acontecendo. - eu puxei a cintura dela com a mão livre e coloquei ela na minha frente, cheirando seu cangote por trás.

- A comunidade não tem culpa da bandidagem. Eles merecem isso aí. - eu falei abraçando ela pelo ombro e colocando meu queixo no topo da sua cabeça.

- Te amo tanto... - ouvi ela falando e sorri.

- Ama mesmo? Ou só me ilude? Ainda não dá pra acreditar que tu me ama mesmo. - falei brincando e ela riu.

- Te amo demais, Henrique. Tu não faz ideia do tanto. - meu coração chegou até a bater mais forte e descompassado.

- Gostosa... - passei a mão pelo seu peito discretamente e ela se contorceu se afastando um pouco de mim.

Ri dela e ela voltou os olhos pra onde Lena brincava. Não muito longe da gente.

Sua expressão mudou drasticamente, ela olhou ao redor preocupada.

- Russo... Me diz que você tá vendo a Lena em algum lugar. - ela pediu começando a entrar em desespero.

Porra, até eu entrei em desespero agora.

Olhei ao redor também, vendo várias crianças mas nenhuma delas era a filha da mulher do meu lado.

Valéria começou a correr, em direção a onde as crianças estavam. Observei ela perguntando das mães e as mães negando.

Alguma coisa dentro de mim dizia que Lena foi tirada daqui, poderia ser qualquer coisa... ela pediu pra alguém levar ela no banheiro, ela poderia ter pedido pra brincar em outro brinquedo, poderia ter saído procurando a mãe. Mas nada disso me convencia.

Liguei lá pra barreira da entrada e logo um vapor me atendeu.

- Qual foi, chefe? - ele falou e eu suspirei passando a mão no rosto.

- Qual foi o último carro a sair daqui?

- Porra, lembro não, Russo. Acabei de trocar de turno aqui na contenção, quem tava aqui era TH.

Puta que pariu...

Foi aí que eu tive certeza. Pegaram Lena, levaram pra fora do morro.

Caralho, mexeram logo com indefeso. Filhos da puta, covardia da porra.

- Valeu aí! Atividade. - falri desligando e respirando fundo.

VISITA INTIMA - Além do Sexo [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora