Capítulo 1: Romance de época.

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Hazel

Minha mãe sempre disse que eu era uma atriz incrível, porque conseguia mentir e fingir como ninguém. No final das contas, acho que ela sempre esteve certa sobre mim, porque não existia nada que eu gostava mais do que atuar. A sensação eletrizante de ganhar um papel novo. O frio na barriga sempre que estávamos prestes a nos apresentar para várias pessoas. Eu amava estar sobre os palcos, com os olhos de todos sobre mim.

—Achei que você fosse gostar de receber a notícia por mim. As audições vão abrir na próxima semana. —A professora Alice me estendeu o script da peça, enquanto eu tentava não demonstrar o quão ansiosa eu estava por aquele momento. Mas ele finalmente tinha chegado. —Você é uma das melhores aqui, Hazel. Todos sabem disso. Espero poder contar com você nessa. É a maior peça que vamos produzir. Pessoas importantes estarão aqui para assistir.

—É uma honra poder fazer parte disso, professora. —Falei, soltando o ar com força para tentar controlar minhas emoções, que estavam prestes a transbordar. —Estava esperando por uma oportunidade como essa faz tempo. Estarei aqui para fazer o teste.

—Não tenho dúvidas de que vai se sair muito bem. —Ela tocou meu ombro com orgulho, antes de piscar pra mim e se afastar, enquanto eu soltava um gritinho animado e me encaminhava até a saída do auditório.

O script era sobre um romance de época. A história de um belo nobre que se apaixona por um mulher depois de dançar com ela uma única vez. O romance dos dois era proibido, mas isso não o faria desistir dela. Só de me imaginar em cena, eu já podia suspirar de felicidade, sabendo que aquilo seria perfeito, romântico e incrível.

Elisa, a namorada do meu irmão, estava me esperando no corredor e abriu um sorriso enorme quando virei os papéis pra que ela pudesse ver o que era. Elisa soltou um gritinho de animação junto comigo, vindo me abraçar toda animada. Tentei não surtar com antecedência, porque o teste ainda era só semana que vem, mas era óbvio que eu tentaria pra o papel principal.

—Isso é maravilhoso, Hazel. Ela entregou direto nas suas mãos porque sabe que você vai ser a protagonista! —Elisa exclamou, passando o braço ao redor do meu enquanto caminhávamos até a saída do prédio

—É, mas eu ainda preciso fazer o teste. Nada está garantido. Temos outras garotas incríveis no teatro. —Afirmei, soltando uma risada quando Elisa fez uma expressão de desdém, como se nenhuma delas pudesse ser melhor do que eu. —E você vai fazer o teste também. Pro papel principal.

—Ah, não, não... —Ela soltou uma risada nervosa, negando com a cabeça na mesma hora. —Esse papel é seu, Hazel. Eu sei. Todo mundo sabe. Posso tentar pra um papel menor. Vai ser minha primeira peça. Talvez eu nem passe.

—Não importa, quero que tente para o papel principal também. E se você tiver um super talento pra atriz, assim como tem pro balé, e a gente ainda não sabe? —Questionei, porque Elisa não negava sua preferência por balé, mesmo que estudasse artes cênicas, assim como eu. —Vamos nós duas tentar para o papel principal.

—Tem certeza? —Elisa hesitou, me olhando com certa dúvida, como se achasse que eu ficaria chateada. Observei ela ajeitar os cabelos pretos atrás da orelha, claramente sem graça, enquanto os olhos verdes procuravam alguma coisa no meu rosto. —É o seu lugar, Hazel.

—Meu lugar é no palco, no lugar que for. Quero o papel principal, mas ficarei feliz se não passar e conseguir outro menor. E ficarei mais feliz ainda se você passar. —Afirmei, deixando claro que estava tudo bem por mim. Elisa abriu um sorriso animado, finalmente me dando a vitória naquela pequena discussão.

Assim que saímos do prédio, encontramos Adam, Caleb e Hannah nos esperando. Elisa se afastou de mim na mesma hora, indo para os braços do meu irmão como se não pudesse ficar muito tempo longe dele. Adam ergueu as sobrancelhas, como se pudesse notar que havia alguma coisa diferente em mim. Não que isso me surpreendesse, porque eu era grudado com meu primo desde que éramos crianças. Ele me conhecia bem demais.

—Os testes começam semana que vem. —Mostrei pra eles o script assim como fiz com Elisa. —A professora entregou nas minhas mãos.

—Tá falando sério? —Hannah exclamou, parecendo super animada por mim. —Hazel, isso é incrível. Meio que ela já deixou claro que você é a favorita dela.

—Isso não é verdade. —Retruquei, e minha irmã gêmea me lançou um olhar sarcástico, como se eu estivesse me fazendo de boba.

Hannah era idêntica a mim. Os mesmos cabelos castanhos volumosos, que tínhamos puxado da nossa mãe, e os mesmos olhos castanho claros que eram do nosso pai. Mesmo sendo iguais, nossas personalidades eram completamente diferentes. Eu era calma e ela um furacão. Enquanto eu era apaixonada por artes, ela era apaixonada por patinação. Mas isso não impedia que nós apoiássemos.

—É verdade sim e você sabe. Você ficou com os principais papéis de todas as peças. Ela sempre te enche de elogios, Hazel. —Adam passou o braço ao redor dos meus ombros, piscando pra mim como se aquele fosse um segredo nosso, já que era de péssimo tom dizer que a professora tinha uma preferida. —Pra quando podemos marcar a comemoração pra sua próxima protagonista?

Dei um tapa no peito dele, o que o fez soltar uma risada e tentar se esquivar de mim. Caleb pegou o script das minhas mãos, dando uma boa olhada no que a história mais ou menos pedia. Aquilo não estava completo, porque recebíamos apenas o suficiente para fazer o teste. Mas pela cara do meu irmão, ele não tinha gostado muito.

—Como assim vai ter beijo? —Caleb torceu os lábios e olhou pra mim, enquanto Hannah revirava os olhos ao meu lado. —Você vai ter que beijar um desses esquisitos do teatro?

—Ei! —Elisa lançou a ele um olhar descrente, fazendo-o encolher os ombros e exibir a expressão mais inocente de todas. —Eu e a Hazel fazemos parte do teatro também, caso tenha se esquecido.

—Desculpa, princesa, estou me referindo aos esquisitos do sexo masculino. —Caleb afirmou, e dessa vez nós acabamos caindo na risada, porque óbvio que ele só estava tentando implicar.

—É o meu trabalho. Se a Elisa conseguir a protagonista também vai ter que beijar o cara que ficar como par romântico da história. —Falei, puxando os papéis da mão de Caleb, vendo os olhos dele buscarem Elisa desesperadamente, como se esperasse que ela negasse aquilo. Meu irmão abriu e fechou a boca algumas vezes, completamente sem palavras.

—Boas sorte, acho que vai precisar. —Adam bateu no ombro de Caleb, tentando não rir da expressão desconcertada do meu irmão.

Não que ele fosse impedir qualquer uma de nós duas, mas ele claramente não estava pronto pra isso. Acho que eu o entendo, ainda não precisei beijar ninguém nas peças que fiz, mas sabia que isso ia acontecer em algum momento e a ideia me deixava um pouco tímida. Minha família costumava acompanhar todas as minhas apresentações.

—Vou buscar meu taco de beisebol. —Caleb disse por fim, e eu e Elisa trocamos um olhar demorado, como se estivéssemos pensando a mesma coisa. Talvez meu irmão acabasse tendo um infarto até o final dessa história.


Continua...

O último ato do jogo / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora