Wyatt
Eu estou morto. Morto, pra não falar outra coisa pior. Não achei que ia chegar aonde eu estou, porque costumo ter bastante controle sobre a minha vida. Mas talvez eu tenha sido desatendo com uma parte específica dela, que envolve minhas notas na faculdade. Elas estão no vermelho e todos os professores querem meu pescoço por isso.
—Não sei mais o que dizer pra você, Hollis. Já conversamos sobre isso milhares de vezes. —O treinador Callahan me encarou com uma expressão frustada. A sala dele parecia ter encolhido consideravelmente desde que começamos aquela conversa sobre meu desempenho acadêmico. Ele conseguia me deixar constrangido com poucas palavras. —Os professores estão no meu pé por conta das suas notas. Você é simplesmente um desastre nos estudos.
—Juro que eu me esforço. —Ergui as mãos pra cima, procurando alguma explicação boa o suficiente para aquilo. Mas a verdade é que não tinha nada. —Mas eu estou focado demais no basquete, treinador.
—Você não vai se formar sendo bom apenas no basquete, Hollis. Você tem 23 anos. Deveria estar jogando em algum time grande nas principais competições do país. Mas ainda está aqui, perdido no meio de um bando de universitários! —Exclamou, me fazendo erguer as mãos e puxar meus cabelos loiros para trás, enquanto inclinava a cabeça para trás até encarar o teto. —Estamos te dando uma última chance de se formar como um bom aluno, porque eu não posso ficar me preocupando com o que você estuda ou deixa de estudar.
—Eu sei, treinador. —Falei, voltando a encara-lo. O homem parecia um juiz irritado, pronto para me dar uma sentença de morte.
—Você deveria estar seguindo o exemplo do Carson, sabia? O melhor jogador de beisebol do time da faculdade. Tem as melhores notas na turma dele. E está fazendo estágio com um dos melhores advogados da cidade. —O treinador deu de ombros, como se fosse muito fácil ser igual a Caleb Carson. Só de ouvir o nome dele eu já sentia vontade de revirar os olhos, porque ele era usado como exemplo perfeito pra tudo. —Não quero parecer um carrasco, Hollis, mas a coisa está ficando feia pro seu lado.
—Tem alguma coisa que eu possa fazer pra me ajudar nesse momento? —Questionei, querendo que ele parasse de falar do Carson, porque aquilo não ia me ajudar em nada.
—Eu andei conversando com alguns professores pra saber o que você poderia fazer pra melhorar. Além de estudar para tirar notas melhores, é claro. —Ele me lançou um olhar rígido, como se aquilo fosse quase uma ordem. —Você precisa de pontos extras, então quero que entre no teatro da universidade.
—No teatro? —Repeti, antes de soltar uma risada e negar com a cabeça, porque ele não podia estar falando sério. —Treinador, eu não sei absolutamente nada sobre teatro.
—Mas você pode aprender. É pra isso que está aqui. —Retrucou, enquanto eu engolia em seco, repetindo a mim mesmo que aquilo poderia ser pior. Mas eu estava determinado a melhorar as coisas pra mim. Não queria ser visto como um péssimo aluno e, principalmente, precisava me formar. —Já conversei com a professora e você está dentro. Só precisa pegar os horários e comparecer às aulas.
Encarei a mesa dele, batucando os dedos na minha perna, antes de assentir. Não tinha outra alternativa. Precisava daquilo para provar que não era um péssimo aluno como parecia. Tudo bem, eu era um desastre na maioria das coisas que tentava fazer. Eu literalmente só era bom em basquete. Mas isso não significava que eu não podia tentar e me esforçar. Só um semestre e depois vou estar livre.
[...]
Deixe-me falar uma coisa sobre minha família. Eles são donos do café mais movimentado perto do campus da universidade. Em alguns dias, quando tenho tempo, ajudo servindo os clientes e até mesmo na cozinha, apesar de não ter tanto jeito cozinhando assim como minhas duas irmãs mais velhas, Mavie e Jasmine. Elas eram donas de uma confeitaria adorável do outro lado do campus.
Eu ainda tinha mais um irmão mais velho, Joe, e meus dois irmãos mais novos, Taylor e Luca. 6 filhos parece um número grande quando você pensa em uma família, mas somos todos adotados. Cada um de nós tendo a oportunidade de ter uma família quando fomos escolhidos por nossos pais. Lizzie e Walter Hollis tinham feito um ótimo trabalho.
—Espero que o treinador tenha chutado a sua bunda. —Taylor murmurou assim que entrei em casa pela escada lateral, evitando passar pelo café no andar de baixo, porque não queria encontrar meus pais ainda. Taylor estava sentada no sofá, ocupada pintando a unha com um tom de rosa chamativo.
—Vou precisar entrar pro teatro. —Falei, vendo minha irmã parar o que estava fazendo e se virar para me encarar. Algumas mechas de cabelo escuro se soltando do amarrador e caindo sobre seu rosto. Taylor ergueu as sobrancelhas, como se achasse que eu estava contando uma piada, antes de começar a rir quando viu que eu estava falando sério. —Nem sei porque eu te contei. Você nunca me ajuda em nada.
—Nossa, quem vê você falando assim jamais acreditaria que já entrei numa briga pra te defender. —Taylor retrucou, fazendo um biquinho chateado com os lábios, que eu sabia muito bem que era só fingimento. Balancei a cabeça negativamente, me jogado no outro sofá longe dela. —Ah, qual é, o tom de resignação na sua voz foi muito engraçado. Aposto que você estava esperando que ele passasse a mão na sua cabeça, como sempre.
—Ele nunca fez isso. —Rebati, e minha irmã me lançou um olhar sarcástico, antes de revirar os olhos e voltar a atenção para as unhas. —De qualquer forma, estou com a corda no pescoço, então vou fazer isso funcionar.
—Quem mexeu nas minhas coisas? —Luca surgiu na sala parecendo procurar alguma coisa, olhando embaixo do sofá e atrás das almofadas, a ponto de tacar uma delas na minha cabeça. —Quem entrou no meu quarto e mexeu nas minhas coisas?
—Ninguém entrou no seu quarto, Luca. Não tem nada de interessante lá. —Taylor afirmou, soltando uma risada quando ele mostrou o dedo do meio pra ela, com uma expressão descontente.
—Meu taco de hóquei sumiu. Tenho treino daqui a pouco. —Exclamou, atravessando a sala até a cozinha para procurar lá. —Sério, quem pegou? Não tem como o taco ter saído andando do meu quarto sozinho.
—Ou você só o deixou em outro lugar. —Falei, gesticulando com as mãos como se aquela fosse a opção mais óbvia. Luca soltou um xingamento baixo, voltando a procurar na sala. —Viu, se tivesse escolhido basquete não ia precisar estar se preocupando com esse tipo de coisa.
—Escolher basquete pra competir o brilho do time com o meu próprio irmão? —Luca riu, encontrando o bendito taco caído atrás de uma das portas. —Fala sério, como ele veio parar aqui?
—Você perdeu a novidade, Luca. Wyatt agora faz parte do teatro. —Taylor afirmou, com um tom de voz debochado, enquanto eu lançava a ela um olhar afiado, porque óbvio que ela iria me infernizar com aquilo.
Meu irmão mais novo parou no meio do caminho de voltar para o quarto, olhando pra mim como se quisesse uma confirmação daquilo. Pelo menos ele não caiu na risada como Taylor fez, se limitando a assentir e abrir um sorriso encorajador.
—Você vai se sair bem. —Luca afirmou, e parecia realmente acreditar naquilo. Não que eu estivesse surpreso. Luca era legal e atencioso demais. —Se precisar, pede ajuda pra Elisa. Ela me contou que entrou para o teatro também. Alguma coisa a ver com a irmã do Carson.
Continua...
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O último ato do jogo / Vol. 2
RomanceHazel Carson é doce, gentil, atenciosa e completamente romântica. Mas ela também é determinada quando o assunto são peças de teatro, já que pra ela isso é tudo que importa na faculdade, além das suas notas perfeitas. E agora Hazel está prestes a con...