Hazel
Eu muito provavelmente iria desmaiar se ele não se afastasse de mim, porque eu nem estava conseguindo respirar direito com toda aquela cena. Tínhamos que estar atuando. Entrar no personagem e fazer aquilo dar certo. Mas Wyatt não estava fazendo isso. Ele estava brincando comigo a ponto de me deixar perdida.
—Esse não é o nome da personagem, Wyatt. —Sussurrei, tentando não sair da personagem, mesmo que aquilo fosse impossível. Mas ele não pareceu se importar com o que eu tinha dito. Ele sorriu, estendendo a mão pra mim como se estivesse realmente me convidando para dançar. Lancei a ele um olhar tenso, sem conseguir desviar os olhos daquele sorriso bonito.
—Já prometi a primeira dança da noite a outro cavalheiro, sinto muito. —Afirmei, odiando o quanto minha voz tremeu, porque era impossível continuar aquilo sem ficar afetada pela forma que ele estava me olhando.
—E quem seria o cavalheiro de péssima educação que a deixou esperando? —Questionou, e eu abri um sorriso quando ele voltou ao personagem, para meu alívio. Ou talvez desespero, porque aquela era a parte que ele realmente me puxava para dançar. Não sabia se iríamos parar ali ou continuar. —Uma única dança e você me fará o homem mais sortudo da noite.
—Uma única dança. —Concordei por fim, engolindo a ansiedade quando aceitei a mão dele, sem conseguir evitar a risada quando Wyatt me puxou para o meio do quarto, como se estivéssemos no meio de um salão de dança.
Nenhum de nós dois sabia ao certo como fazer aquilo, mas coloquei minha mão no ombro dele, enquanto a sua vinha para minha cintura quando ficamos de frente um para o outro. Wyatt começou a cantarolar baixinho enquanto me guiava em uma dança bem simples, sem desviar os olhos dos meus um segundo sequer.
—Você é alto demais. —Sussurrei, vendo-o soltar uma risada baixa e inclinar o rosto na direção do meu.
—A personagem não diz isso. —Retrucou, e eu comprimi os lábios para não sorrir ainda mais, soltando uma respiração surpresa quando Wyatt me girou, antes de me puxar para ele de novo, continuando a cantarolar a música que estávamos dançando.
—Eu não lembro mais o que ela diz. Você está me deixando confusa. —Afirmei, vendo o sorriso dele se tornar maior, como se gostasse de ouvir aquilo da minha boca.
—Eu deveria dizer "eu tive muita sorte de poder conhecê-la essa noite". Então você diria "você sabe quem é meu pai, não é?". —Wyatt me girou mais uma vez, me fazendo perder a noção do tempo e do espaço, porque parecia existir apenas nós dois naquele momento. —E minha resposta seria "eu não me importo, porque nada vai mudar o que meu coração sentiu quando eu te vi pela primeira vez".
—Você gravou todas as falas. —Soltei, sem conseguir esconder a surpresa na minha voz, porque Wyatt estava mesmo se esforçando. Ele estava mesmo fazendo aquilo dar certo. —Desista.
Ele balançou a cabeça negativamente ao me ouvir, se inclinando mais até beijar a ponta do meu nariz com delicadeza e então me girando mais uma vez, cantarolando aquela música que eu tinha a sensação de conhecer. Meu peito se apertou, enquanto minha barriga ficava muito gelada, porque meu coração estava batendo tão rápido que eu podia ouvir cada batida na minha cabeça.
—Desista, Wyatt. —Repeti, e então ele parou de dançar, assim como eu. Meu peito subindo e descendo com força quando não saímos do lugar. Sua mão continuava na minha cintura e a minha no seu ombro, enquanto seus dedos envolviam minha outra mão com força.
—Por que eu deveria desistir? —Questionou, erguendo uma das sobrancelhas pra mim quando balancei a cabeça negativamente. Não havia porque ele fazer aquilo, quando o único problema ali era eu. —Por que você está com medo de quebrar a cara comigo?
Nos dois nos encaramos por um longo momento, até Wyatt dar um passos para trás e quebrar nosso contato. Sua mão soltou a minha e a outra deslizou para longe da minha cintura, enquanto eu sentia o calor queimando nas minhas bochechas. Ele podia achar que a verdade era aquela, quando não era. Eu não tinha medo de quebrar a cara.
A verdade é que eu era romântica demais, a ponto de me iludir com qualquer coisa significativa que alguém fizesse relacionado a algo importante pra mim. Aquele teatro era minha vida. Aquela peça era importante demais pra mim. E ali estava ele, se esforçando o máximo pra provar que conseguia e flertando comigo em cada oportunidade. Como poderia ser apenas uma atuação se parecia real demais.
—Você sabe que eu não posso desistir, Hazel. —Afirmou, mordendo o lábio com força, antes de passar a língua sobre eles e fechar os olhos por um momento. —Preciso fazer isso pra conseguir me formar no final do semestre. E você sabe que se eu desistisse, isso não ia prejudicar só a mim, mas a peça também.
—Eu sei. —Concordei, porque sabia que ele tinha razão em cada uma daquelas palavras. Mas eu era egoista demais a ponto de pensar que se eu acabasse me iludindo demais, aquilo poderia acabar com a peça quando não tivesse mais como consertar. —É injusto da minha parte pedir isso a você.
—Qual o problema, Hazel? Temos uma química super boa. Conseguimos atuar muito bem juntos. Ok, saímos dos personagens agora, mas qual o problema? —Questionou, erguendo a mão para tentar ajeitar os cabelos loiros bagunçados. —Achei que nós só estávamos nos divertindo juntos. Por que você resolveu pedir para que eu desistisse?
—Por nada, esquece. Estou sendo uma pessoa de merda de novo. —Afirmei, caminhando até minhas coisas para ver a hora no celular. Provavelmente não fazia nem meia hora que eu estava ali, mas eu já queria sair correndo. Sabia que não era uma boa ideia ficar sozinha com ele, quando eu não conseguia controlar meus sentimentos.
—Não, Hazel, você não é uma pessoa de merda. —Ele segurou meu braço quando peguei minha mochila, me fazendo ergueu a cabeça para encarar os olhos dele. —Estou indo rápido demais? É por causa das coisas que eu falo?
—É melhor você não ficar flertando comigo, Wyatt. Acho que isso pode acabar atrapalhando nós dois em algum momento. —Afirmei, vendo-o absorver minhas palavras por um momento quase interminável, enquanto balançava a cabeça de leve. —Não quero que isso acabe atrapalhando a peça quando um de nós dois não souber o que é verdade ou o que é mentira.
—E se nada for mentira? —Questionou, e eu soltei uma risada e tombei a cabeça de lado, lançando a ele um olhar tenso, porque ele não podia estar me perguntando mesmo aquilo. —Tudo bem, Hazel. Vou evitar qualquer coisa que possa atrapalhar a peça.
Continua...
VOCÊ ESTÁ LENDO
O último ato do jogo / Vol. 2
RomanceHazel Carson é doce, gentil, atenciosa e completamente romântica. Mas ela também é determinada quando o assunto são peças de teatro, já que pra ela isso é tudo que importa na faculdade, além das suas notas perfeitas. E agora Hazel está prestes a con...