Capítulo 4: Vou tentar me comportar.

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Wyatt

Estou acostumado a ver as garotas ficarem constrangidas na minha frente. Mas normalmente era por conta de alguma coisa que eu tinha dito, e não porque foram pegas falando mal de mim de alguma forma. Tudo bem, acho que eu deveria dar algum crédito pra ela, porque nenhuma das coisas que ela tinha dito eram mentira. Mas nossa, não sabia que eu estava tão mal assim, a ponto de uma garota estranha odiar a ideia de me ter por perto.

—Oi. —Falei, deixando meu sorriso maior quando vi as bochechas dela ficarem incrivelmente vermelhas, além dos olhos castanhos deixarem claro que ela preferia estar em qualquer outro lugar naquele momento.

—Wyatt, que bom que veio. Quando a aula começou achei que você tinha mudado de ideia. —A professora falou, enquanto eu ainda olhava para garota na minha frente, vendo que isso a deixava ainda mais sem graça.

—Desculpa chegar atrasado e atrapalhar a aula. Juro que não foi proposital. Eu tinha treino antes e acabou que os horários se encontraram. —Me expliquei, vendo a professora assentir, como se compreendesse. —Vou tentar ajustar meus horários pra isso não acontecer de novo.

—Qualquer coisa eu posso conversar com seu professor. Nossas próximas aulas serão importantes e é bom que não perca nada. —Afirmou, antes de estender uns papeis pra mim. —Você ouviu sobre a peça. Não sei se iria querer fazer o teste pra algum papel ou não. Seria interessante.

—Obrigada, professora.

—Ok, preciso ir almoçar agora. Hazel, tudo bem pra amanhã? —Questionou, juntando sua bolsa e o restante dos papeis que estavam ali, enquanto Hazel assentia com a cabeça, parecendo incapaz de dizer qualquer coisa. —Muito bem. Bom almoço pra vocês.

Ela desceu do palco rapidinho, como se sentisse que uma tempestade estava se formando. Comprimi meus lábios para não rir, antes de me virar para encarar a garota, agora que estávamos só nos dois ali, naquele imenso auditório. Ela pareceu se dar conta disso também, porque ficou ainda mais vermelha do que já estava.

—Acho que esse foi um ótimo começo. —Falei, vendo os lábios dela tremerem um pouco, enquanto ela erguia os olhos para me encarar, visivelmente sem graça. —Hazel, não é? Wyatt Hollis. Mas você já sabe disso.

—Desculpa se eu acabei de parecer uma babaca. —Ela suspirou, e seu tom de voz resignado era quase adorável demais. —Não estava querendo ser uma pessoa de merda falando mal de você. É só que isso é importante pra mim e você é...

—Um desastre? —Sugeri, porque ela tinha parado de falar para morder o lábio inferir com força. Olhei bem pra ela, me perguntando onde já tinha a visto. Ela não era uma estranha. Mas tudo que consegui perceber foi que ela era bem bonita pra alguém que estava fazendo minha caveira minutos atrás. —Olha, você não falou nada que eu já não tenha ouvido antes. Eu sou realmente horrível em tudo que eu tento fazer. Mas juro que não estou aqui pra estragar sua peça, Hazel.

Ela ergueu as sobrancelhas, como se estivesse me avaliando, antes de balançar a cabeça como se acreditasse em mim. Aquilo era bom, porque a última coisa que eu precisava era que o pessoal do teatro me detestasse. E Hazel parecia ser próxima da professora, ou não teria ido até ali questionar minha ilustre presença. Não que eu a julgasse. Se algum idiota tivesse a pior fama do mundo na universidade e do nada resolvesse entrar pro time de basquete, eu também seria o primeiro a odiar a ideia.

—Mas você pode ficar de olho em mim, se quiser. Não me importo de receber um puxão de orelha de uma garota bonita se fizer alguma merda. —Afirmei, abrindo um sorriso totalmente inocente, enquanto ela soltava uma risada e começava a se afastar.

—Vou te deixar em observação então. —Hazel desceu as escadas do palco, enquanto eu me apressava em segui-la. Não sabia nada sobre ela, mas não podia negar que estava começando a ficar muito curioso. —Mas se flertar comigo de novo, vou voltar a falar mal de você pra professora.

—Vou tentar me comportar. —Prometi, e ela me lançou um olhar afiado por cima do ombro, como se dessa vez ela não acreditasse em mim. —Posso saber pra qual papel você vai fazer o teste?

—O principal. —Ela parou no meio do corredor, se virando para me encarar com uma expressão desconfiada, enquanto eu tentava não rir. —Por que me perguntou isso?

—Só quero saber qual papel eu preciso escolher pra contracenar com você. —Dei de ombros, observando ela respirar fundo em meio a uma risada nervosa, antes de se virar e desaparecer rapidinho do corredor. Fiquei parado na frente das portas, pensando no que tinha acabado de acontecer, antes de rir e negar com a cabeça.

[...]

Meus pais estavam sentados na mesa já almoçando quando cheguei. Luca estava comendo junto com eles, mas não havia qualquer sinal de Taylor ali. Deixei minhas coisas no sofá, antes de dar um beijo na bochecha da minha mãe e cumprimentar o meu pai. Luca me encarou quando sentei ao lado dele, como se esperasse que eu repassasse como tinha sido meu primeiro dia no teatro.

—Onde está a Taylor? —Indaguei, antes que ele questionasse qualquer coisa. Queria guardar meu encontro com Hazel só pra mim, até descobrir quem ela era, antes que meus irmãos resolvessem se meter.

—Foi almoçar com o Adam. —Minha mãe comentou, enquanto eu parava no meio do movimento de me servir e olhava pra ela, esperando que ela não estivesse falando sério. Mas ela apenas sorriu, com a pele negra se iluminando, enquanto ajeitava os cabelos pretos atrás da orelha. —Ele veio aqui e pediu pra mim. Um rapaz tão educado e bonito.

—E morto também. —Sussurrei, fazendo Luca soltar uma risada ao meu lado, enquanto minha mãe me lançava um olhar torto, mesmo que meu pai parecesse concordar comigo ao lado dela.

Ele também tinha pele negra, além dos cabelos super curtos. Joe se parecia com ele, mesmo não sendo filho de sangue. Na verdade, acho que todo mundo aqui puxou alguma coisa dos nossos pais. Eu fiquei com o lado bagunceiro da minha mãe, porque ela também era um desastre tentando fazer uma coisa nova.

—Precisa começar a aceitar que sua irmã cresceu e que vai arrumar um namorado a qualquer momento. —Minha mãe afirmou, e eu fiz uma careta, negando com a cabeça na mesma hora, porque Taylor ia ser sempre uma criança pra mim. —Já pensou que pode ser você no lugar do Adam em algum momento? Pode conhecer uma garota, gostar dela e ela ter um irmão ciumento igual a você.

—Então vamos torcer pra que minha futura namorada seja filha única. —Ironizei, soltando uma risada quando minha mãe me olhou de cara feia, já que eu não tinha levado o que ela falou a sério.


Continua...

O último ato do jogo / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora