Capítulo 24: Ela é sua esposa.

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Wyatt

Sexta de manhã era sempre um dia esquisito. Eu tinha tempo livre, então estava sempre ajudando no café. Mas naquela sexta de amanhã Mavie tinha me arrastado para a casa dela mais uma vez, para o que ela disse ser a melhor aula de dança da minha vida. Eu tinha minhas dúvidas, apesar de confiar em Mavie.

Tinha tido mais uma aula da peça, no qual eu passei horas ensaiando algumas cenas com alguns colegas. Nenhum deles era Hazel. Ela se sentou o mais afastada possível ao lado de Elisa, enquanto eu tentava controlar meus olhos para que eles não procurassem por ela quase o tempo todo. Eu me sentia tão idiota.

—Você está atrasado. —Nathan afirmou, assim que abriu a porta para que eu entrasse. Lancei a ele um olhar resignado, antes de abrir um sorriso para o pequeno Henry no seu colo. —Sua irmã está absolutamente animada hoje, então acho que eu deveria te desejar boa sorte.

—Ela é sua esposa. —Falei, já que ele falou aquilo como se a animação extrema dela fosse demais. Nathan riu, e eu podia jurar que ele tinha soltado um "graças a Deus ela é", antes de fechar a porta atrás de mim e me indicar a sala. —Onde anda seu grande amigo Briar Harding?

—Ele é marido da sua outra irmã, você sabe, né? —Nathan questionou, já que eu sempre falava de Briar com um desdém carinhoso. Eu gostava do cara, mas era bom demais fingir que não. —Ele deve estar ajudando a Jasmine na confeitaria. Ou tentando, porque ele é péssimo cozinhando qualquer coisa. Mas vamos jantar todos juntos nesse final de semana e você vai poder matar a saudade dele.

—Espera, todos juntos? Joe já voltou de viagem? —Questionei, vendo Nathan parar e olhar pra mim um pouco confuso, antes de confirmar com a cabeça. —Puta que pariu, por que ninguém me conta nada? Eu sou sempre o último a saber de tudo. Ele voltou quando?

—Ontem a noite. —Nathan riu baixinho da minha indignação, caminhando até as escadas, provavelmente porque não queria acompanhar de perto minhas vergonhosas tentativas de dançar. —Ele avisou no grupo, Wyatt. Acho que você andou esquecendo de olhar suas mensagens.

Nathan subiu as escadas, enquanto eu via Henry estender a mão por cima do ombro dele e me chamar. Abri um sorriso fraco, porque não tinha tempo para o pequeno. Quando os dois desapareceram no andar de cima, esfreguei as mãos no rosto com força, tentando recobrar alguma lucidez. A semana tinha sido horrível. Simplesmente horrível. Nada estava dando certo pra mim.

Os treinos estavam sendo mais pesados por conta do próximo jogo na semana seguinte. O treinador estava exigindo tanto de mim que eu sentia vontade de mandá-lo para um lugar bem longe com as palavras, o que certamente o deixaria furioso. E eu estava tentando focar na peça, o que estava comendo todo meu tempo do mundo. Odiava me sentir sobrecarregado e, principalmente, que isso ia fazer as coisas desabarem ao meu redor por eu não ser capaz de fazê-las.

Segui para a sala, quase tropeçando nos meus próprios pés quando encontrei ninguém menos que Hazel sentada no sofá. Ela estava de cabeça baixa, encarando seus pés que ela balançava no ar, porque o sofá era tão grande que ela não alcançava o chão sentada nele. Aquilo era fofo e engraçado, mas eu estava incrédulo demais com a presença dela ali.

—Hazel? —A chamei, fazendo-a levar um susto e ficar de pé rapidinho, antes de se dar conta de que era eu. Ela ficou vermelha, como se tivesse sido pega fazendo alguma coisa errada. —O que você está fazendo aqui?

—Eu a chamei. —Mavie afirmou, surgindo da sala de jantar com um sorriso animado, como se estivesse pronta para começarmos. —Fiquei pensando na nossa primeira aula e achei que seria bom ela estar aqui, já que vai ser seu par. Pedi o número dela pra Taylor, porque imaginei que se pedisse pra você, você se negaria.

Olhei para Hazel, que assentiu com a cabeça para confirmar cada palavra da minha irmã. Apertei meus lábios com força, sem tirar os olhos de Hazel quando Mavie atravessou a sala até a caixa de música. Não pensei que pudesse ficar tão nervoso, mas naquele momento eu realmente fiquei, porque não queria que Hazel percebesse que eu era um desastre naquilo. Estava tão estressado que preferia que Mavie não tivesse feito aquilo.

Hazel me encarou como se estivesse me pedindo desculpas com o olhar, parecendo super sem graça. Umedeci os lábios com a língua, sem saber se deveria me aproximar dela para conversarmos sobre aquilo ou simplesmente manter distância. Mavie ainda estava tagarelando sobre a aula, mesmo que eu não conseguisse prestar atenção em nada.

—O que diabos vocês dois estão fazendo? —Mavie questionou, batendo palma pra chamar nossa atenção, antes de estalar os dedos na direção do meio da sala. —No meio da sala, gente. Quero vocês dois juntinhos pra dançar.

Hazel pareceu ainda mais sem graça, mas caminhou até o centro da sala, me obrigando a fazer o mesmo. Não consegui desviar os olhos dela, me perguntando como diabos eu tinha vindo parar naquela situação. Ela tinha me pedido especificamente para não flertar com ela, mas ter sido pego de surpresa estava me fazendo ficar com várias coisas na ponta da língua para dizer a ela. A maioria seriam flertes idiotas que certamente a fariam rir.

—Hazel, você já fez isso antes, certo? —Hazel confirmou com a cabeça ao ouvir a pergunta de Mavie. Agora ela estava parada bem na minha frente, encarando meu peito com as bochechas coradas e a respiração pesada. Parecia tão nervosa quanto eu. —Isso vai nos ajudar tanto. É tudo que o Wyatt precisa.

—Podemos começar? —Questionei, porque Mavie parecia que não ia parar de falar nunca. Minha irmã me lançou um sorrisinho torto, antes de assentir e dar início a música.

—Lembre-se dos passos que eu te mostrei o outro dia. Não se esqueça que Hazel está com você e que precisa guia-lá. —Mavie afirmou, e então a música de fato começou. Hazel deixou que eu a guiasse quando me movi, deixando aqueles passos que Mavie me ensinou bem vivos na minha cabeça. —Hazel, minha linda, pode olhar para o meu irmão? A conexão é fundamental nessas horas.

Esqueci completamente de Mavie e de onde estávamos quando Hazel ergueu a cabeça e encarou meus olhos. Havia um brilho de ansiedade ali, que fez meu coração quase sair pela boca. Acho que nunca me senti tão grato assim por Mavie ter sugerido aquilo, porque foi o suficiente para o nervosismo desaparecer de dentro de mim e eu abrir um sorriso, porque Hazel estava ali e eu sabia que podíamos fazer aquilo juntos.


Continua...

O último ato do jogo / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora