Capítulo 5: Sou mesmo um desastre.

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Hazel

Peguei minha mini tartaruga de estimação com cuidado, vendo ela morder o ar quando passei o dedo sobre a cabeça dela. Ela cabia na palma da minha mão, mas eu quase nunca a pegava, porque não gostava de deixá-la estressada. A coloquei de volta no aquário, antes de me sentar na cama e olhar para Adam. Ele estava jogado na cama de Hannah, trocando mensagens com Taylor, enquanto tinha um sorriso bobo nos lábios.

—Ei, você vai ficar conversando com ela até quando? —Questionei, lançando um travesseiro no rosto dele. Adam riu, jogando o travesseiro de volta pra minha cama, antes de deixar o celular de lado. —Vocês dois passaram o almoço todo grudados. Quando vai pedi-la em namoro? Não é como se você não quisesse.

—Vou pedir na hora certa. —Rebateu, antes de sair da cama de Hannah e vir se deitar ao meu lado na minha. Eram poucas vezes que tínhamos tempo livre pra ficar assim, jogados no alojamento sem fazer nada. —E eu nem estava falando com ela. Ela ia trabalhar no café dos pais agora a tarde. Estava vendo o grupo do time de basquete. Eles estavam zoando o Wyatt por precisar entrar no teatro.

—Não vejo qual é o problema do teatro, pra vocês fazerem tanta piada. —Olhei para Adam com as sobrancelhas erguidas, o que o fez rir e apertar meu nariz com força.

—Você não gostou da ideia dele entrar pro teatro, Hazel. Você mesma disse. —Afirmou, e eu comprimi os lábios enquanto encarava o teto do quarto, tentando não pensar muito sobre aquilo. —E o problema não é o teatro, é o Wyatt. Isso não faz o estilo dele e a gente sabe que ele só está fazendo isso por obrigação, não porque quer. Então podemos sacanea-lo com isso o quanto quisermos.

—Eu falei, mas também não importa. —Sai da cama, procurando o script da peça nas minhas coisas, porque precisava ensaiar um pouco e descobrir qual a melhor forma de entrar na personagem, pra que ela seja pergunta. —Ele vai ficar só esse semestre, né? Provavelmente vai ficar só nos bastidores ou vai pegar um papel pequeno em uma peça.

—E se ele pegar o papel principal com você? —Adam soltou uma gargalhada quando eu exibi a expressão mais descrente possível.

—Só se ele tenha um talento incrível na atuação, que ninguém saiba. —Dei de ombros, porque aquilo não ia acontecer. Eu podia me preocupar com a presença dele, mas só bastava eu manter distância e continuar fazendo a minha parte com perfeição. Não ia deixar que nada arruinasse aquela peça.

[...]

Tinha colocado meu nome na lista de testes logo de manhã, quando cheguei pra minha primeira aula. Tinha me demorado olhando a lista de todos os papéis, procurando pelo nome de Wyatt, mas ele não estava em nenhuma delas. Aquilo me fez soltar um suspiro pesado, em uma mistura de alívio e hesitação, porque ontem ele só estava brincando comigo então. Não era nada sério.

No final da tarde, Elisa foi uma das primeiras a fazer o teste para o papel principal, enquanto eu e Caleb observávamos ela de longe. Ela tinha aula de balé, então foi embora logo depois. Hannah também tinha treino naquele horário, então não poderia ir assistir, assim como Adam que ainda estava preso no treino. Mas meu irmão tinha permanecido no auditório, mesmo quando a namorada foi embora.

—Boa sorte, apesar de eu achar que você não precisa. —Caleb sussurrou, deixando um beijo na minha bochecha quando escutei meu nome ser chamado. Abri um sorriso pra ele, antes de me levantar e ir até o palco, onde um dos rapazes que estava fazendo teste pro papel principal esperava.

Havia algumas coisas que eram levadas em conta quando fazíamos o primeiro teste pro papel. Além da facilidade que tínhamos em entrar no personagem, precisava haver uma química também, principalmente quando havia romance envolvido. A química tinha que ser perfeita, ou o casal não ia conseguir ganhar a atenção do público e muito menos passar sentimentos reais.

Os únicos romances que tinham acontecido nas peças que participei tinham sido sutis e quase migalhas para o público. Mas aquele era um romance puro, que só uma leitora de romance de época poderia entender o quão importante era a química. Fiz o teste com todos os rapazes com quem estava acostumada a atuar, me sentindo menos feliz quando percebi que minha química com eles não era tão boa assim se precisássemos fazer um casal.

—Tudo bem, Hazel? Você não parece muito feliz. —A professora se aproximou de mim quando tudo terminou. Todo mundo que havia se inscrito tinha feito o teste e agora bastava esperar os resultados.

—Só achei que não fui muito bem hoje. —Falei, apertando os papéis na minha mão com força, me sentindo um tanto desanimada. —Acho que faltou química. Não consegui sentir conexão nenhuma com eles. Elisa se saiu muito bem. Até mesmo a Brianna pareceu ter mais química com eles do que eu.

—Ah, querida, isso não diminui as suas chances. Você sempre consegue transmitir muitas emoções atuando. —A professora apertou meu ombro, me lançando um sorriso tranquilizador. —Aguarde os resultados, está bem? Tenho certeza que você vai ser escolhida.

Nos duas olhamos para a entrada dos bastidores, atrás do palco, quando Wyatt apareceu na porta, usando o uniforme do time de basquete, como se estivesse pronto pra entrar em jogo. Estava com as bochechas vermelhas, além de estar respirando de forma afobada, como se tivesse corrido muito pra chegar ali.

—Wyatt, atrasado de novo? —A professora colocou uma das mãos na cintura, enquanto ele caminhava até nós duas, ainda tentando recuperar o fôlego.

—Professora, não é culpa minha. Tenho treino quase todo dia por causa do início dos jogos. Mas vim correndo assim que o treinador me liberou. —Se explicou, e fiquei com um pouco de dó dele ao notar que ele parecia ser sincero, mesmo com o torcer dos lábios infeliz da professora. —Os testes já acabaram?

—Já sim. Quase todo mundo já foi embora, inclusive. Vou conversar com seu treinador, porque ele não pode me pedir para aceitá-lo aqui, sendo que os horários praticamente te impedem de participar das duas coisas ao mesmo tempo. —Ela começou a juntar as coisas, enquanto Wyatt erguia a mão e puxava os cabelos para trás, como se estivesse muito frustado. —Você pretendia fazer os testes?

—É, eu ia tentar. —Wyatt deu de ombros, olhando de relance na minha direção, antes de voltar a encarar a professora, que agora folheava os papéis na sua mão.

—Você não colocou o seu nome em nenhum papel. —Ela comprimiu os lábios, enquanto eu via Wyatt fechar os olhos com força, como se tivesse se dado conta de que tinha esquecido daquilo. —Wyatt, vou pedir pra ajustarem os seus horários, ok? Mas precisa prestar mais atenção. Não levamos isso aqui na brincadeira.

—Eu sei. Me desculpa. —Wyatt respirou fundo, enquanto a professora olhava pra ele com as sobrancelhas erguidas e uma expressão séria, antes de abrir um sorriso fraco.

—Tudo bem. Vai ter outras oportunidades pra você participar. —Ela tocou o ombro dele quando se afastou, enquanto eu o via fechar os olhos, antes de esconder o rosto entre as mãos e então puxar os cabelos para trás.

—Você deve estar bem feliz nesse momento, né? —Ele ergueu os olhos pra me encarar, soltando uma risada amarga. —Sou mesmo um desastre.

—Eu não fiquei desejando que você fizesse alguma coisa errada pra se ferrar aqui. —Falei, e estava sendo sincera. Podia ter me incomodado assim que fiquei sabendo, mas também não ia ficar desejando o pior pra ele. —Nem conheço você, Wyatt. Só acho que você não se encaixa aqui.

Ele me encarou com uma expressão perdida, fazendo minhas bochechas esquentarem um pouco, porque ele parecia nem mesmo estar piscando ou respirando. Engoli em seco, pegando minha mochila antes de olhar pra ele de novo, sentindo um friozinho na barriga quando percebi que ele ainda estava me observando.

—Sinto muito por ter ficado de fora. —Sussurrei, antes de desviar dele para ir embora. Mas assim que passei do seu lado, Wyatt segurou meu braço, quase me fazendo grudar o corpo nele quando tropecei de surpresa.


Continua...

O último ato do jogo / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora