Capítulo 42: Dia das bruxas.

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Wyatt

Hazel estava quieta enquanto eu dirigia, parecendo ansiosa para ver onde eu a levaria. Mesmo não querendo tirar os olhos dela, eu não conseguia parar de olhá-la de relance e sorrir, porque ainda não acreditava que ela tinha mesmo aceitado sair comigo, quando antes ela não queria nem mesmo que eu flertasse com ela.

—No que você está pensando? —Questionei, trazendo a atenção dela pra mim. Hazel se virou e me olhou, abrindo um sorriso pequeno. —Me conte o que está passando nessa sua cabecinha.

—Estava pensando que não sei nada sobre você. Tipo, sei sobre sua família e tal, mas nada além disso. Só coisas que ouvi das outras pessoas. —Afirmou, e eu ergui as sobrancelhas. Ela tinha razão sobre aquilo, assim como eu também não sabia muito sobre ela. —Se esse for um assunto que você não gostar de falar, tudo bem, mas você foi adotado, não é? Todos vocês.

—Não me incomodo. Foi isso que formou nossa família, então não tenho problema com o assunto. —Falei, vendo-a abrir um sorriso, se ajeitando no banco como se esperasse ouvir uma super história. —Não tem muito o que contar de diferente do que você ouviu por aí. Nossos pais não podiam ter filhos então eles adotaram. Gostaram tanto que fizeram várias vezes. Fui o penúltimo a ser adotado.

—Quantos anos você tinha? —Questionou, e eu umedeci os lábios com a língua, vendo que ela realmente parecia curiosa sobre essa parte da minha vida.

—10 anos. Eu era uma criança meio complicada nessa época. —Falei, e Hazel soltou uma risada descrente que me fez lançar a ela um olhar confuso.

—Só nessa época? —Hazel indagou, e eu acabei rindo e dando de ombros, porque não tinha nem comparação. —Como foi? Você deve ter passado um tempo em um orfanato antes de ser adotado, né?

—É, eu passei. Acho que cheguei lá quando tinha 5 anos. Dormia em um quarto enorme cheio de beliches, com outras crianças. Tinha bastante amigos, mas também arrumava bastante confusões, porque eu era do tipo que não gostava de dividir nada. —Soltei uma risada genuína, porque dividir era tudo que se fazia em um orfanato. Nenhuma criança tinha mais do que outra. —As pessoas não tem o costume de adorarem crianças. A maioria prefere bebês com menos de um ano. E como eu era meio caótico e encrenqueiro, aqueles que tinham a ideia de adotar os mais velhos sempre escolhiam os mais quietinhos.

—Você passou 5 anos lá. —Hazel sussurrou, e eu confirmei com a cabeça, sem me importar com o tipo de infância estranha que se tinha em orfanatos.

—Não foram anos ruins, porque éramos bem tratados. Mas é estranho. Não temos irmãos ou pais. São apenas colegas e funcionários. —Parei no semáforo, o que me deu a oportunidade de olhar para Hazel e ver que ela me observava. —A primeira vez que eu vi meus pais eu estava sozinho na quadra de basquete do orfanato, tentando acertar a bola. Meu pai chegou e perguntou se podia jogar comigo. Eu aceitei, mas não dei muita bola porque eu nunca era o escolhido no final.

—Mas eles escolheram você. —Hazel retrucou, e eu concordei com a cabeça, desviando os olhos dela e partindo quando a luz ficou verde, lembrando daquele dia.

—Ele ficou jogando comigo a tarde toda, enquanto minha mãe conversava com a diretora. Mas eu me diverti com ele. Quando ele foi embora, fiquei sentado sozinho na quadra até me obrigarem a entrar, porque sabia que ele não voltaria e não queria que aquele dia terminasse. —Abri um sorriso, lembrando o quanto eu era bobo naquela época. Ainda era um pouco, mas não como antes. —No dia seguinte eles voltaram. E no outro. E no outro. Até que um dia eles apareceram com outras quatro crianças.

Hazel estava sorrindo. Eu também estava, porque era uma das melhores memórias que eu tinha da minha infância. Aquele dia, joguei basquete com todos eles. Meus pais, Joe, Mavie, Jas e Taylor. Tinha me divertido tanto e gostava tanto deles, mas também tinha medo que eles fossem embora e não voltassem mais. Que eu não fosse bom o suficiente. Mas eu estava tão errado.

—No final do dia, antes de irem embora, minha mãe perguntou se eu gostaria de ir morar com eles e eu disse que sim. Dias depois eu tinha uma casa e uma família. —Minhas bochechas doeram de tanto que eu estava sorrindo quando olhei para Hazel e vi que ela estava praticamente derretida com a história. —Tive tanta sorte, Hazel. Os amo mais do que seria possível acreditar.

—Eu entendo. Sou assim com a minha família também. —Afirmou, e eu abri um sorriso leve, porque sabia que Hazel vinha de uma família grande também.

—Como eles são? A sua família? —Questionei, porque eu não tinha a sorte de saber sobre todos eles já que moravam em outro lugar.

—Meio caóticos na maior parte do tempo. 7 filhos. 11 netos. —Hazel riu quando olhei pra ela assustado. —Eu sei, é muita gente. E olha que minha mãe espera por mais netos vindo de nós.

—Estou me perguntando como são os jantares em família na sua casa. —Afirmei, e Hazel soltou uma risada, antes de balançar a cabeça e olhar para a rua iluminada, porque a noite já tinha caído.

—São bem agitados e uma bagunça na maior parte do tempo. —Falou, mas estava sorrindo quando disse aquilo, como se fosse justamente a parte que ela mais gostava. —Mas nós amamos fazer várias coisas juntos. Os natais com os Carson's são os melhores. É nossa época favorita, então o Natal nunca passa sem um grande acontecimento.

—Acho que minha família prefere o Halloween ao Natal. —Comentei, porque a gente levava o dia das bruxas muito a sério. —Minha mãe adorava decorar o café e o deixar com um ar super macabro. Meu pai compra fantasias pra todo mundo e até mesmo ele costumava se fantasiar, além de fazer uns doces com decorações esquisitas e sangrentas.

—Ah, eu amo Halloween! —Hazel exclamou, e eu a observei com curiosidade, porque ela parecia muito empolgada falando. —Eu e os meus irmãos costumávamos nos fantasiar das piores coisas possíveis pra assustar os vizinhos. É simplesmente maravilhoso.

—Não sabia que você fazia do tipo que aprontava. —Hazel me encarou com uma expressão super inocente. Soltei uma risada, negando com a cabeça. —Então temos um outro lado seu que eu ainda não conhece.

—Eu só não gosto de gente filha da puta. Nenhum dos meus irmãos gosta. —Ela deu de ombros, como se aquela fosse uma explicação boa o suficiente. —Minha família gosta de jogos, Wyatt. Gosta de ação e reação. Somos do tipo que agimos primeiro antes de tentar dialogar. Inclusive, minha cunhada Anne tem o costume de dizer que quem quer fazer parte da família, precisa saber jogar como nós.

—Ah, é? —Abri um sorriso, estacionando o carro quando finalmente chegamos ao nosso destino. Hazel não pareceu se dar conta de onde estávamos, porque seus olhos não deixaram os meus com aquele assunto que tínhamos entrado. —E eu me enquadro nos padrões da sua família?

—Você ainda está sobre avaliação. —Afirmou, e meus lábios se abriram em um sorriso quando vi o brilho de entusiasmo de Hazel ao dizer aquilo.



Continua...

O último ato do jogo / Vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora